Que o ano seja leve

Por Márcia Martins

Dizem que no Brasil o ano realmente começa só depois do carnaval, quando as aulas são retomadas, os veranistas e turistas de janeiro e fevereiro voltam para as suas rotinas nos seus locais de moradia e os problemas tradicionais das cidades também retornam: filas, engarrafamentos, demora nos atendimentos, transportes públicos lotados, buzinas e impaciência geral. É, historicamente, no terceiro mês de cada ano que o novo período se inicia (não no dia 1° de janeiro, como muitos pensam). Com as águas de março fechando o verão, surgem as promessas de vida, as expectativas, os cenários promissores.

Então, agora já passada a metade do mês de março, desejo que o ano de 2023 seja leve, e se não for para ser leve, que o vento leve. Que seja harmonioso, e se ficar destoante e desequilibrado, que tenhamos capacidade para contornar todo e qualquer conflito. Que seja propositivo na vida pessoal e profissional, e se aparecer um momento de negatividade, que tenhamos jogo de cintura para superar a situação. Que seja pleno, nas entregas, nas realizações, no trabalho, nos encontros e até nos desencontros. E se não ocorrer assim, não se culpe ou se martirize. Apenas saiba que tentou e se permita continuar.

Pode até existir algum momento de desilusão, de desamor, de decepção e de uma relação desfeita, seja de amor ou de amizade. Mas não deixe que esse ou outro imprevisto qualquer atrapalhe as suas intenções reais de tornar os dias e noites mais amenos, a rotina mais colorida, a cicatriz menos dolorida, e o recomeçar menos azedo. Se for muito necessário, até chute o balde e coloque o pé na jaca. Mas, em seguida, para não interromper o caminho traçado de boas emoções, feche novamente a gaveta das reações negativas.

Como já nos ensinou Caio Fernando Abreu, é preciso repetir todas as manhãs, ao abrir as janelas para entrar o sol ou o cinza dos dias, "que seja doce". Nosso jornalista, dramaturgo e escritor, que faleceu em 25 de fevereiro de 1996, dizia que "quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada de sono ou da insônia contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce, que seja doce, que seja doce". E eu ouso complementar: se o dia estiver nublado, vislumbre um sinal de beleza neste cenário, ilumine sua vida, e repita: que seja doce.

Para os dias e noites que iremos viver em 2023 (oxalá nos permita!), plante só sementes de prosperidade, banhe com jarros de alegria as suas esperanças, acredite com muita fé que o futuro sempre será melhor, mas precisamos ser os protagonistas das nossas histórias, borrife gotículas de bondade ao seu redor, porque um ato de bondade jamais será um desperdício. E, principalmente, espalhe amor. Ninguém perde por doar amor, perde quem não sabe recebê-lo.

Finalmente, que o ano seja leve! 

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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