Queremos também políticas efetivas para as mulheres
Por Márcia Martins

Não era necessário esperar uma onda crescente no número de feminicídios no Rio Grande do Sul. Somente no feriadão da Páscoa, o Estado registrou 10 casos de feminicídios. As mulheres cruelmente assassinadas pelo simples fato de serem mulheres deixaram famílias e, em muitos casos, filhos e filhas órfãs, desamparadas. Nem era preciso deixar passar sete anos de governo sem nenhuma ação objetiva para reduzir a ocorrência destes crimes. E menos ainda aguardar a pressão sempre oportuna e sensata dos movimentos feministas e de parlamentares comprometidas com o tema. A Secretaria de Políticas para as Mulheres nunca deveria ter sido extinta e a sua recriação era urgente.
Mas somente ontem, após uma intensa mobilização de lideranças do movimento feminista do Estado e de uma moção pedindo o retorno da secretaria, assinada por 50 parlamentares (o que representa mais de 90% do Parlamento gaúcho), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, anunciou a criação da pasta. Precisava tanta morte de mulheres? Precisava deixar tanta família destroçada? Precisava tantas crianças chorarem a morte de suas mães, em algumas situações, na própria presença dos filhos?
Sabemos, é claro, que a volta da secretaria, iniciativa do governo Tarso Genro, e que teve como titulares Márcia Santana, morta em março de 2013, e de Ariane Leitão, e dissolvida em 2015, no início da gestão de Ivo Sartori, não é a solução imediata para conter os casos de feminicídio. Mas é essencial para o enfrentamento deste tipo de crime, com ações de combate à violência de gênero e de promoção da autonomia das mulheres.
É uma vitória incalculável do movimento de mulheres e de parlamentares que realmente se preocupam com a escalada dos feminicídios. No entanto, uma estrutura só não basta. É urgente a efetivação das políticas para as mulheres, Delegacias Especializadas (Deams) em pleno funcionamento com recursos humanos e verbas, investimento na Patrulha Maria da Penha, mais Centros de Referência em todo o Estado, cursos de geração de renda para que mulheres que decidirem romper com o ciclo antes da morte possam ter alguma autonomia financeira.
Depois de 10 anos de apagamento, a luta não se encerra com a criação da secretaria. Queremos também políticas públicas efetivas para as mulheres. Seguiremos cobrando orçamento, estrutura, ações que ultrapassem o marketing, constante diálogo com os movimentos sociais e compromisso real com a vida das mulheres.