Quinteros traz de volta um velho debate

Por Rafael Cechin

A temporada do futebol em 2025 está se iniciando com uma novidade no Grêmio: um técnico estrangeiro chegou para comandar o time. Num Brasil povoado principalmente de portugueses e argentinos nos principais clubes, para o tricolor trata-se de inovação, porque foge de um ciclo de velhos conhecidos como Renato, Roger e Felipão. Vai mudar o jeito de atuar em campo. Fora dele, reacende uma disputa cada vez mais presente, dos treinadores daqui contra os vindos do exterior.

As opiniões e comportamentos variam, infelizmente, dependendo da nacionalidade. No passar dos anos deixou-se de avaliar a qualidade do trabalho para se defender esse ou aquele profissional pelo seu local de nascimento. Poucas exceções à regra. No atual mercado brasileiro talvez Vojvoda no Fortaleza seja a unanimidade. Nem o multicampeão Abel Ferreira, também pelo excesso de polêmicas com a arbitragem, encanta a todos no Palmeiras.

E é totalmente compreensível o debate. Afinal, quem não tem medo ou algum tipo de receio com o novo? Os técnicos estrangeiros são contratados para suprir carências que os brasileiros não entregam faz tempo. Deixamos de ter um futebol diferenciado no mundo porque os comandantes deixaram de se atualizar. Em sua maioria mantiveram esquemas de jogo baseados na individualidade dos atletas e/ou em ideias prontas. Fomos ultrapassados, com reflexo claro na Seleção, que parou de dominar os gramados.

Na imprensa há o grupo que defende e o que ataca a vinda de treinadores de outros países. Pouco se vê meio termo. É "amo ou odeio". O confronto de ideias recentemente teve em Eduardo Coudet o personagem principal dos últimos anos. Quando esteve em alta no Inter, arrebatava corações de seus defensores, despertando ódio em quem não gostava dele. No desempenho ruim, o contrário veio à tona e prevaleceu até a demissão do argentino.

A entrevista coletiva de apresentação de Gustavo Quinteros mostrou de cara as diferenças em relação a Renato. "Formar uma equipe protagonista, que fique mais no campo do adversário" é muito distante do que se tinha na Arena até o fim de 2024. Vem aí uma equipe intensa, que vai ocupar melhor os espaços. Ou seja, mais atualizado dentro dos conceitos vencedores atualmente no mundo.

As primeiras palavras do técnico tricolor gerou os primeiros debates. Há críticas, há elogios, há desconfiança, há otimismo. Certo é que vamos novamente esperar os resultados para avaliar o trabalho, o que me parece um erro de jornalistas e torcedores. Não que vitórias, empates e derrotas não signifiquem muito no esporte. Claro que não é isso. O ponto é que a discussão que se limita à nacionalidade fica muito rasa. Não colabora, só atrapalha.

Por isso a nova tentativa do Grêmio com um técnico de fora do nosso país (houve poucas ao longo da história no lado azul) já está valendo pelo caráter educativo. Quem sabe aprendemos a analisar um trabalhador não por onde nasceu, mas pelo o que faz ou deixa de fazer. Pelo menos no início da era Quinteros, esse objetivo me parece uma utopia.

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