Reflexões de um ano de pandemia

Por Elis Radmann

Há uma frase que seguidamente vem à minha cabeça, serve como uma bússola mental, me chamando a atenção quando há um determinado fato, me mostrando que sempre há vários ângulos de análise: "não há nada tão bom que não tenha algo de ruim e não há nada tão ruim que não tenha algo de bom".

No IPO - Instituto Pesquisas de Opinião, tenho coordenado muitas pesquisas durante essa pandemia. Compilando informações que mostram o medo, a preocupação, a indignação e a revolta da população. Mas também vejo dados que indicam que a sociedade tem muita esperança, fé, determinação, perseverança e capacidade de resiliência. 

Se pararmos para fazer uma análise de tudo o que passamos nesse primeiro ano de pandemia, podemos sistematizar uma lista de coisas ruins, de tristezas, problemas, incômodos ou estresses. 

A intensidade dessa lista de coisas ruins pode variar de família para família. Para algumas famílias a pandemia foi tão cruel, que levou entes queridos. Para outras, a pandemia trouxe sérios problemas financeiros. Para outras famílias a Covid está sendo sinônimo de estresse e para algumas famílias a Covid-19 é apenas um incômodo, uma mudança de rotina. 

Utilizando a reflexão inicial, a pandemia está trazendo muitos aprendizados e está alterando a base cultural e emocional da sociedade. Não seremos os mesmos depois da pandemia. 

A pandemia nos tirou da zona de conforto, alterou a nossa rotina, bagunçou os nossos planos, nos fez repensar o hoje e diminuiu o nosso ritmo.

Nos colocou mais tempo dentro de casa, nos fez dar atenção à dinâmica de nossas vidas, nos fez observar o espaço de nossas casas e a disposição de nossos móveis e até nos mostrou as memórias de nossas gavetas. 

Esse ano de pandemia ativou a saudade. A vontade de abraçar, de beijar, de estar junto, de confraternizar, de bater papo ou de participar daquela roda de chimarrão.

Nos fez olhar para dentro de nós. Nos mostrou que precisamos uns dos outros, que não podemos ser tão individualistas. Que os sentimentos de coletividade e de comunidade fazem parte da nossa essência.

A pandemia nos fez rever conceitos, nos mostrou que somos muitos frágeis e que nosso corpo e a nossa saúde podem ser atacados quando a gente menos espera. 

Nos sensibilizou, nos mostrou que os nossos problemas podem ser pequenos quando olhamos para o lado, quando vemos que o outro está doente ou não tem o que comer. 

A pandemia mobiliza a solidariedade, descortina a realidade da vulnerabilidade social. Nos faz prestar atenção no que ocorre em nossa rua, em nosso bairro e em nossa cidade. A pandemia fortalece a humanidade que existe em cada um de nós, desperta a empatia e faz florescer a generosidade.

Muitos me perguntam se sairemos melhores de tudo isso. Sempre respondo que sim! Deve diminuir o percentual de individualismo, o percentual de egoísmo e ampliar o percentual de integração, identidade e sentimento de comunicação. Teremos mais capital social, teremos mais amor.

Claro que vamos continuar com o oportunismo, com o jeitinho brasileiro, com a ignorância, a intolerância, a maldade e a criminalidade. 

A pandemia está nos dando uma lição e teremos que trilhar o melhor caminho para sairmos dessa experiência mais fortalecidos.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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