Refúgios

Por José Antônio Moraes de Oliveira

"O primeiro drinque da noite em

um bar tranquilo - não existe nada igual."

Raymond Chandler.

***

É preciso mais do que uma visita ocasional a um bar de Manhattan para entender a paixão dos nova iorquinos por bares e tavernas. Eles dizem que tudo começou quando os trens saiam superlotados da Grand Central entre 5 e 6 horas da tarde. Para ganhar tempo, os executivos iam dos escritórios para o bar mais próximo, bebericando um ou dois dry martinis. Deve ter sido então que os bartenders criaram a "one for the road", aquela última dose antes de pegar o trem para casa. 

***

A mística do bar (ou do pub britânico) como refúgio e santuário era tema dos romances policiais e passou a ser adotada pelo cinema noir. Uma verdadeira estória de detetive não dispensa a cena da figura solitária bebendo no balcão de um bar escuro e enfumaçado. Não é difícil identificar o personagem - ele senta em uma banqueta, diante ao homem de avental branco e gravata borboleta. Entre um drinque e outro, desfila suas confidências, olhando nostálgico para as garrafas nas prateleiras espelhadas.

***

Alguns personagens eram reais e acabaram incorporados ao lendário de bares tradicionais. O guru da publicidade David Ogilvy podia ser visto no final dos anos 60 rabiscando em seu bloco de notas no balcão do lendário P.J. Clarke's. Dizia-se que foi ali que ele criou os lendários anúncios das camisas Hathaway. Em algumas cidades ainda existem bares e tavernas que guardam o estilo de vida dos antigos imigrantes. As lendas urbanas contam que nos anos 1900 havia mais irlandeses no Brooklyn do que em Dublin. Depois de um dia de trabalho duro na polícia, no corpo de bombeiros ou nas docas, os O'Hara, Murphys e Sullivans buscavam refúgio nos pubs para beber a cerveja escura importada da Irlanda. 

***

Atualmente ainda se pode beber e passar algum tempo ocioso em um desses velhos bares. Como no veterano Old Town que sobrevive na East 18th Street e que funciona desde 1892. Já perdeu seu sotaque e agora é um dos pontos favoritos dos executivos de terno e gravata da vizinha Madison Avenue. Para um ou mais dry martinis antes de rumar para a Grand Central.

***

Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

Comentários