Sociedade do EU
Por Fernando Puhlmann

Minha coluna de hoje vai ser diferente do que normalmente eu produzo. Em vez um texto corrido, onde explano uma ideia ou conto uma história fictícia, vou falar de mais de um tema, pois a vida tem me atropelado por vários lados, o que me obriga a levantar discussões em mais de uma frente.
Primeiro eu quero falar sobre o caso da Juliana Martins, menina brasileira que morreu abandonada em uma encosta de vulcão na Indonésia. Eu poderia aqui tecer linhas e linhas sobre a falta de respeito à vida com a qual o governo do país, que ela estava, tratou o caso, mas isso já foi mais do que discutido. O que eu quero que vocês pensem, e comentem aqui para discutirmos, é a falta de empatia dos próprios brasileiros nos comentários em redes sociais a cada postagem que era feita sobre a possibilidade de socorro dela e depois com a notícia tristíssima da morte. Uma horda de seres maldosos colocou ela como a principal culpada pelo acidente, criticando sua postura e coragem de fazer a trilha. Será que fariam o mesmo se fosse um homem branco cisgênero? Eu tenho certeza que não. Mulheres negras corajosas machucam, e muito, as pessoas medíocres.
Segundo, quero falar sobre a "crise" que virou o Governo do RS apoiar de forma institucional a Portela, por trazer como tema a importância da cultura negra na formação do estado do RS. Se fosse um governo de esquerda que fizesse isso, será que deputados, vereadores e formadores de opinião, alinhados com esse pensamento ideológico, bradariam com a mesma fúria? Ou se em vez de falarem sobre a IMPORTANTÍSSIMA contribuição da cultura negra falassem sobre a não menos importante contribuição alemã e italiana na construção do estado, teríamos uma direita tão raivosa a atacar o Governador do estado? Eu tenho certeza que não.
O que esses dois pontos têm em comum? A falta de bom senso, empatia e até de caráter. O que mais vale hoje, na sociedade atual, é o que EU penso, o que EU quero, o que EU acho importante e como EU ganho.
A construção de uma sociedade sadia parte da premissa básica do todo para acabar no indivíduo e não o contrário, porém o que executamos hoje no Brasil, é o oposto disto. Viramos reféns de opiniões pessoais, muito pouco refletidas e nada embasadas.
Quando um bando de humoristas se une, para gritar que é um absurdo punir um ser abjeto, como o Léo Lins, que sobre em um palco para debochar de negros, mulheres, PCDs, e portadores de HIV, ainda tratando como piada incesto e pedofilia, precisamos urgentemente discutir para onde caminhamos. Até corporativismo tem limite.
Minha reflexão sobre todos esses temas é uma só, viramos a sociedade do EU e que o resto se exploda. Só esquecemos que a bomba atinge a todos, e de atirador, eu posso virar alvo na próxima esquina.
PS: Hoje não haverá citação no início da coluna, a sociedade do EU é tão absurda, que não conheço nenhuma frase bacana que traduza esse sentimento ignóbil.