Tá tudo bem

Por Flavio Paiva

Muitas pessoas, no seu dia a dia e até quem tem atividade pública, se dividem basicamente em 2 grupos: as que usam um tom grave e algumas até pessimista e as que dizem que tá tudo bem.

Da minha parte, e tenho certeza de que da de muitos, não pertenço nem a um grupo nem a outro. Não acho nem que esteja tudo bem, obvio, nem que se precise usar um tom tão pesado. Quanto à gravidade, indiscutível. Quanto ao tom ser pesado ou sensacionalista, não me encaixo não. Entendo que conscientização não passa por aí.

Aliás, em qualquer circunstância a ideia é descascar ao máximo possível a verdade, os fatos em sim, crus. Porque se formos carregando no tom emocional, muita coisa vai ser vista sob um prisma mais colorido, só que em tons mais cinza. Cinza não, em cores intensas e vibrantes, mas no mau sentido da coisa, não como nos filmes de Almodóvar.

Acho que a primeira vez que ouvi a palavra espetaculoso foi em alguma novela, há muitos e muitos anos atrás. Ela é muito boa, tem muito fit com os dias de hoje. Porque se há muitos anos vivíamos já com uma sociedade e veículos usando e tendo expectativa com relação ao visível, ao que era exposto, essa intensidade foi só aumentando. Ainda mais com a chegada primeiro da internet e depois das redes sociais. Existe uma ansiedade pelo visto, mais ainda pelo não visto. Existe a certeza de que se está perdendo alguma coisa(isso de fato, até porque é humanamente impossível acompanhar tudo o que está sendo produzido e discutido em veículos e redes), mas que se está perdendo uma coisa importante, o FOMO. 

Aí, voltamos ao início. O que é preciso é manter um certo equilíbrio e conseguir fazer uma avaliação decente. Então, necessária uma curadoria em conteúdo, veículos de comunicação, eventos, redes e pessoas a serem seguidas e colocar uma escala de prioridade de valores da sua vida, em primeiro lugar, de objetivos e necessidades profissionais em segundo e ver dentro desse mar que é produzido a toda hora, o que realmente é relevante. Se você não tem competência (e isso não é um problema) para fazer essa curadoria, busque fontes. Podem ser escritores, pensadores, profissionais que você admira, intelectuais, tudo depende da sua pegada. 

Então, assim como comecei a coluna falando, o equilíbrio esta no caminho do meio. Sem desespero, mas ao mesmo tempo sem acomodação e desprezo por uma verdade que se apresenta de forma intensa. E, o que sempre é indispensável e bom fazer, pensar um pouco a respeito. Observar, colocar sob perspectiva. Tentando manter a calma, uma dose de serenidade sempre vai bem.

O que mais eu posso dizer? Que sim, não tá fácil pra ninguém. Mas podemos piorar as coisas ampliando a carga dramática que elas já têm. Isso não ajuda em nada e atrapalha bastante. Então, eu digo sempre, mantenha as coisas razoavelmente (já falo razoavelmente porque eu sei que na totalidade é impossível, ainda mais nos dias de hoje) sob controle. Ah, e uma dica muito importante: cuide muito o que está sendo falado ao seu redor, no sentido de que as pessoas estão tendendo a carregar a mão no sal, se é que me entendem.

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