Teu filho ainda vai folhear jornal?

Por Grazi Araujo

O cheiro do jornal é uma das minhas recordações de infância. Lembro que meu pai assinava e lia todos - de trás pra frente - durante o café da manhã. Era lei. O mamão e os jornais. Naquela época não tínhamos atualização de notícias por outro meio impresso ou escrito, se não era ali, era o bom e sempre atual rádio ou o Jornal Nacional. Quando rolava algo urgente, o plantão da Globo cumpria o seu dever e chamava todos para a frente da televisão. Para 10 segundos e pensa a infinidade de meios que temos hoje. Impossível contar.

Herança de família, vocação, gosto pela leitura e pela escrita podem ser algumas das justificativas para eu ainda ter o costume de folhear as páginas impressas. Porém, sinto que cada dia mais, ele fica obsoleto mais rápido. Sou fascinada por colunas, então corro direto para elas. A capa, quando chego no trabalho, já foi toda consumida durante o trajeto ouvindo o rádio ou a leitura dinâmica dos apps de notícias.

Casos recentes que aconteceram depois do fechamento da edição do jornal me fizeram refletir sobre isso. O assalto em Criciúma é o mais atual deles. Chego no trabalho e comento com um colega que está com um jornal em mãos e ele, surpreso, me diz que não sabia. Eu disse: como não? Está na capa de todos os jornais! E ele me mostra a capa do impresso e diz que não. Claro, eu já chamo o site de jornal, tô nesse nível de misturar as coisas. Para quem não costuma ouvir o noticiário ao acordar e espera alguns minutos para se alimentar das notícias do dia, corre o risco de estar desinformado em alguns minutos. Que absurdo pensar assim, não é?

Quase não há mais ineditismo nas versões impressas. A exclusividade é um tweet, uma entrada ao vivo, um post no site que depois vira uma nota. O espaço da web é infinito e o da página de um jornal, às vezes compete com um anúncio de meia página ou rodapé. O detalhe de um texto bem escrito estampado naquelas folhas que remetem à infância ainda há valor, obviamente. Mas até quando? Será que vou passar para a geração do meu filho o hábito da leitura matinal, da lambida no dedo para folhear? Ou ele vai acordar com os pushs resumindo os fatos, os podcasts do que aconteceu enquanto ele dormia, a versão digital sem gastar papel e o compartilhamento de links por Whats? Que possamos seguir acompanhando os avanços, a agilidade e a rapidez da apuração que a comunicação nos presenteia.

Autor
Grazielle Corrêa de Araujo é formada em Jornalismo, pela Unisinos, tem MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, na Estácio de Sá, pós-graduação em Marketing de Serviços, pela ESPM, e MBA em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada, pela Cândido Mendes. Atualmente orienta a comunicação da bancada municipal do Novo na Câmara dos Vereadores, assessorando os vereadores Felipe Camozzato e Mari Pimentel, além de atuar na redação da Casa. Também responde pela Comunicação Social da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs) e da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Nos últimos dois anos, esteve à frente da Comunicação Social na Casa Civil do Rio Grande do Sul. Tem o site www.graziaraujo.com

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