Um rato que ruge
Por Flávio Dutra
A fanfarronice bélica de Bolsonaro, ameaçando um enfrentamento militar com os EUA por causa da Amazônia, lembra uma clássica comédia de 1959, estrelada por Peter Selles. "O Rato Que Ruge" é uma sátira à política internacional do período da Guerra Fria, mas resiste ao tempo e se adapta ao caso brasileiro.
A sinopse: um pequeno país, o fictício Grão Ducado de Fenwick, fronteiriço à França e a Suíça, enfrenta uma grave crise financeira e declara guerra aos Estados Unidos. Com isso, certos de que serão derrotados, esperam receber ajuda americana (uma referência ao Plano Marshall, pós II Guerra Mundial) para se reerguer e resolver seus problemas econômicos. Um atrapalhado marechal invade Nova Iorque com 22 arqueiros, deparando com a cidade deserta por causa do teste de uma nova e superpoderosa bomba. Resultado: eles encontram e sequestram o cientista que desenvolveu a bomba e juntamente com a filha dele e o artefato, retornam à Fenwick. Ou seja, saiu tudo errado: eles venceram a guerra. Nem tudo estará perdido, porém: aos EUA só resta reconhecer a derrota e aceitar as exigências do Grão Ducado para o armistício, entre as quais uma boa compensação financeira e a retomada do mercado americano para seu vinho.
Qualquer semelhança com o rugido tupiniquim, exceto pela improvável vitória do invasor, será mera coincidência, mas remete a uma infeliz constatação: ontem e hoje, sempre haverá uma comédia a imitar a realidade brasileira.