Cinco perguntas para Juliana Motta

Repórter e editora do RBS Notícias de Santa Maria, foi uma das principais jornalistas a repercutir a tragédia da boate Kiss

1. Quem é você, de onde veio e o que faz?
Sou Juliana Motta, repórter e editora do RBS Notícias de Santa Maria. Nasci em 1981, em Cachoeira do Sul, cidade de onde saí para fazer Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria. Entrei no Grupo RBS como estagiária, ainda na faculdade. Depois de concluir o curso, em 2005, fui contratada como "abelha" (cinegrafista e repórter) para a sucursal de Cachoeira do Sul. Fiquei pouco mais de dois anos fazendo reportagens e imagens e retornei para a sede da emissora, em Santa Maria, como repórter, em 2007. Há cerca de três anos, assumi a edição e a apresentação do RBS Notícias local.
2. Como foi o desafio de cobrir o acidente em Santa Maria?
Foi uma experiência que jamais vou esquecer. E sem dúvida alguma, a situação mais difícil que enfrentei em oito anos de profissão. Já participei de outras coberturas de repercussão, como o confronto entre policiais militares e integrantes do MST, em São Gabriel, em 2007. Estava fazendo a reportagem com outros dois colegas do Diário de Santa Maria quando o conflito começou. Fiquei no meio daquilo tudo, tendo que me proteger e gravar o que estava ocorrendo. Outro desafio foi a cobertura da epidemia de gripe A em São Gabriel, em 2009. Os moradores estavam muito assustados, muitas pessoas de máscaras nas ruas, o número de casos não parava de crescer e fiz muitas entradas ao vivo para mostrar essa situação. A última cobertura de grande repercussão foi a queda da ponte sobre o Rio Jacuí (BR-287 / Agudo), onde cinco pessoas morreram.
Mas nada disso se compara com a cobertura da boate Kiss. Nunca estamos preparados emocionalmente para trabalhar numa tragédia como essa. É muito difícil se manter firme no ar, vendo tanta tristeza e desespero ao redor. Nas primeiras duas semanas de cobertura, não parei para refletir sobre tudo o que estava ocorrendo. Só pensava que precisava trabalhar. Nesse período, tentei não ler reportagens com a história de vida das vítimas. Foi a forma que encontrei para "me proteger" um pouco do sofrimento. A impressão era de que tudo aquilo não poderia estar acontecendo na nossa cidade, tão perto.
3. O que todo repórter precisa saber?
Todo repórter precisa saber ouvir as pessoas. E respeitar, sempre! Em uma situação como essa, é muito complicado fazer entrevistas. É preciso ter muita sensibilidade para abordar as pessoas. Às vezes, elas não querem gravar, querem apenas falar e serem ouvidas. E a gente, como repórter, não pode deixar que a pressão do tempo e a correria habitual sejam uma desculpa para não fazer isso. Claro que, como fiz muitas entradas ao vivo, não conseguia ficar conversando por muito tempo. Nesses casos, sempre perguntava se a pessoa podia esperar eu sair do ar para conversarmos.
4. O que mais lhe dá prazer no Jornalismo?
O jornalismo dá a possibilidade de conhecer muitas pessoas e falar sobre diferentes assuntos. Gosto disso. Em relação a reportagens, sempre preferi as rurais. Fiz muitas para o Globo Rural e o Campo e Lavoura. Adoro conversar com agricultores, acho o ambiente muito bom e sempre somos muito bem recebidos. No RBS Notícias, gosto da variedade de assuntos com os quais lidamos todos os dias. E as entradas ao vivo são sempre um aprendizado. Nunca sabemos o que pode ocorrer.
5. Quais são os planos para os próximos cinco anos?
Quero voltar a estudar, estou há oito anos focada no mercado. Comecei a sentir falta das leituras teóricas e das reflexões sobre a forma como trabalhamos. Acho importante essa reciclagem e também essa integração mercado/universidade. Estou fazendo uma cadeira como aluna especial no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFSM e adorando! Pretendo fazer a seleção para o mestrado mais adiante.
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