Cinco perguntas para Rafael Gloria

Jornalista integra projeto de lives para debater o Jornalismo Cultural fora dos grandes veículos

Rafael Gloria - Divulgação

1 - Quem é você, de onde vem e o que faz?

Meu nome é Rafael Gloria, sou natural de Porto Alegre, tenho 32 anos completados em fevereiro - por sorte, ainda pude encontrar os amigos para celebrar a passagem de ano antes dessa pandemia atacar de vez. Eu tento fazer o que eu gosto da vida, por isso trabalho com jornalismo e cultura, sou editor-fundador do Nonada - Jornalismo Travessia e sócio-proprietário da Agência Riobaldo, junto com a Thaís Seganfredo. Atualmente, também desenvolvo um podcast de leitura e contextualização de carta entre escritores e artistas, chamado 'Quando chegou carta, abri'. Dou oficinas de jornalismo cultural e de escrita criativa no jornalismo. 

2 - Por que escolheu ser jornalista?

Escolhi porque eu gostava de escrever e escutei uma história quando estava na quinta série que me marcou. Atualmente, ela é meio nebulosa na minha mente, mas lembro das partes importantes: envolvia um diálogo entre duas pessoas em que uma delas não queria se identificar profissionalmente (no caso, era jornalista), porque poderia ser muito perigoso, e, então, ela responde apenas que "trabalhava com as palavras". Aquilo me marcou e cresceu no meu imaginário. Juntando a ideia de escrever e de ler (que me persegue até hoje) ao privilégio de poder me dedicar a estudar, pude fazer vestibular para passar em jornalismo na Ufrgs, lá nos idos de 2007. Obviamente, só gostar de escrever não te faz apto para uma profissão desse tipo, mas fui encontrando o meu caminho nessa longa travessia e fui descobrindo o quão fascinante é conhecer pessoas, observar, entrar em pequenos universos. Um detalhe: anos depois, percebi que a história lida na escola provavelmente deveria se passar no período da Ditadura Militar, pois o jornalista estava com medo de se identificar. Curiosamente, fiz meu mestrado em Comunicação na Ufrgs pesquisando história do jornalismo alternativo, na década de 1970. 

3 - O que lhe levou a trabalhar com Jornalismo Cultural? 

Foi primeiro uma paixão subjetiva pelas diversas formas de expressão artística, e depois uma vontade imensa de aprender com as diferentes culturas, com as complexidades que a formam. Depois uma inquietação crítica de achar que é uma área que poderia ser muito mais bem explorada jornalisticamente, percebia isso ainda quando era um estudante e estagiário. Acredito que experiências na faculdade e em trabalhos me fizeram acreditar que o jornalismo cultural poderia ser mais crítico e autocrítico, com mais espaço para reportagens e abordar muito mais assuntos, toda a diversa complexidade da cultura. A ideia do Nonada - Jornalismo Travessia veio dessa inquietação lá em em 2010, juntamente com outros amigos e colegas que compartilhavam do mesmo pensamento. E que se modificou com a entrada de várias outras pessoas de vivências e lugares diferentes, é nos embates que nós mudamos e evoluímos. Tive várias outras experiências de trabalho da minha vida - e nem todas na área de jornalismo e cultura -, mas o Nonada é uma constante, que segue vivo e cada vez mais forte desde lá. Continuo achando que o jornalismo que cobre cultura pode ser melhor e deve ser valorizado.

4 - Qual é a importância de se debater sobre esta área?

É de extrema relevância, ainda mais em um momento em que a cultura sofre ataques de diversas partes. É notório que os direitos humanos, os grupos minorizados e artistas de diferentes áreas sempre vão precisar viver em constante resistência, cobrando e lutando por espaço. Acredito que o jornalismo que cobre cultura também tenha uma missão nesse sentido, de promover esse debate, de ser uma arena de troca, de conhecimento, de valorização desses grupos. E isso é muito importante nesse contexto, basta ver que o 'legado' que a pandemia está deixando para diversos trabalhadores da cultura. Quando pensamos em jornalismo cultural, logo nos vem a ideia de agenda, de grandes eventos e grandes artistas, sempre calcados em análises, ou resenhas de lançamentos. Mas, podemos ir além, podemos refletir sobre por que aquilo está sendo feito desse modo, sobre os processos artísticos, enfim, uma vastidão de horizontes. 

5 - Quais são os seus planos para daqui a cinco anos?

Bom, acredito que continuar fazendo o que eu gosto, que é trabalhar com jornalismo e cultura. Ver a Agência Riobaldo crescendo cada vez mais. Provavelmente, também gostaria de me envolver mais com a escrita de ficção e de não ficção. E penso também em continuar estudando, provavelmente tentar um doutorado. Mas sei que o Nonada sempre vai estar lá, eu sempre gostei da ideia de construir algo, de ver se modificando e crescendo, e o Nonada é essa ideia que uniu monte de gente e que me fez acreditar no jornalismo e que as coisas podem ser diferentes.

 

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