Ricardo Silveira: À base de relacionamentos

A profissão, a família e as coisas simples da vida dividem espaço no cotidiano de Ricardo Silveira, diretor Comercial da Ativa

Do mundo financeiro ao mercado de moda e, em seguida, à publicidade. Ricardo Silveira, 52 anos e diretor Comercial da Ativa no Rio Grande do Sul, tem uma trajetória marcada por mudanças e adaptações a diferentes áreas. Para todas elas, carregou uma característica que se fez essencial para o caminho traçado até aqui: a facilidade de relacionamento. "Gosto da tecnologia, mas prefiro as pessoas", enfatiza.
Há exatas três décadas, quando vivia a boa juventude dos 22 anos, se tornou subgerente no Unibanco, ao lado de Paulo Sérgio Pinto, hoje vice-presidente da Rede Pampa. Foi a partir dessa experiência, que, ao atender à conta da grife X&C, recebeu o convite para atuar no comercial da marca de roupas. "Gostei da proposta, porque o modelo bancário era, para mim, algo que iria chegar ao fim, o que de fato aconteceu. Hoje, os bancos são caixas eletrônicos", avalia.
O trabalho com moda durou oito anos, período no qual conheceu a esposa, Ana Karina Dubin. Foi a convite do pai dela - o empresário José Dubin -, que há 18 anos ingressou na Ativa. "Ele tinha importado uma máquina nova dos Estados Unidos, uma plotter, e, na época, ninguém sabia trabalhar com aquilo - só uma empresa no Estado tinha. Como ele achava que eu era um cara descolado, por trabalhar com moda, pensou que eu pudesse fazer daquilo um negócio", relata.
Um reconhecimento
Começou gerenciando a produção de um braço da empresa e, diante dos resultados positivos, mais tarde, passou a coordenar toda a operação, até que a forte relação mantida com departamentos de mídia e de produção de agências aos poucos o levou à área comercial, assumindo há seis anos a diretoria do setor na empresa para o Rio Grande do Sul. Crê que teve na necessidade de compreender um negócio do qual não fazia parte, em curto espaço de tempo, um grande desafio na carreira. "Tive que entender rapidamente esse processo entre agência-cliente-veículo, como pensam em relação a comprar e planejar mídia para seus clientes. Hoje, a Ativa consegue estar junto às grandes agências do Rio Grande do Sul em todos os momentos. Não éramos assim".
Está relacionado à Ativa o momento considerado mais marcante da trajetória: ver a empresa à qual se dedica indicada a Veículo do Ano, pelo Salão da Propaganda, da Associação Riograndense de Propaganda (ARP). "Foi algo que não esperávamos e não fizemos nada para que isso acontecesse. De repente, bateu alguém aqui dizendo que estávamos indicados. Enlouquecemos, passamos uns cinco dias sem colocar os pés no chão", relembra, ao contar que apenas estar ao lado da RBS TV e do jornal Metro, os outros dois indicados, foi um reconhecimento e motivo de orgulho.
Ganhando o mundo
Porto-alegrense, Ricardo é o filho mais velho do marceneiro Alcir Correa da Silveira e da dona de casa Antonieta Silva da Silveira, na família que se completa com a irmã Ana Rita Silveira Granela, educadora. Foi acompanhado dos pais e mais dois tios que, aos 12 anos, encarou uma viagem de fusca ao Rio de Janeiro. A pequena aventura é recordada como um símbolo de libertação, pois foi a primeira vez que deixou o Estado. "Lembro da ansiedade que eu tinha em passar o (Rio) Mampituba. Ia perguntando a toda hora quando passaríamos os limites entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina", recorda.
Outra viagem que guarda na memória não foi vivida por ele, mas acompanhada pela televisão. Durante as férias escolares do inverno de 1969, pôde assistir fascinado ao lançamento da missão espacial Apolo 11. Acompanhou a expectativa de ver Neil Armstrong pisar na lua, e o retorno da cápsula com os três astronautas para a Terra. Até hoje, o episódio é motivo de encantamento.
Com a família
Casado há 22 anos, a relação com Ana Karina teve início de forma, no mínimo, curiosa. Eles se conheceram durante um encontro de Ricardo com uma amiga de Ana Karina.  "Ela sentou próximo e percebi que era a mulher da minha vida. Comecei a seguir ela nos lugares, ligava para a amiga dela para saber aonde iriam. Acho que na oitava vez ela me disse: "Mas que engraçado, tu está sempre nos lugares que a gente está"". Abriu o jogo e desde então não se separaram mais. "Somos muito parecidos em caráter, no que queremos e acreditamos. A gente é meio alma gêmea. Claro que existem atritos, discussões, mas concordamos mais do que discordamos", pondera.
Do relacionamento, nasceu Matheus, hoje com 13 anos, com quem compartilha o gosto pelo cinema, pelos mesmos programas de TV e pelo time do coração, o Grêmio. Foi assim que viveram uma "fase Star Wars", acompanhando tudo sobre a saga. "Tinha mais ou menos a idade dele quando vi o primeiro episódio e ele pegou a série completa. É muito louco quando tu olhas teu filho fazendo algo que tu fazia quando tinha a idade dele, mesmo sem ter estimulado isso", comenta. Agora, o que atrai a atenção de Matheus é a Segunda Guerra Mundial, por isso, é comum assistirem juntos a filmes sobre esse período.
Mas os melhores momentos vividos entre pai e filho são mesmo os de bate-papo. "De repente, pego ele fazendo perguntas ou falando sobre relacionamento humano, coisas que, às vezes, não tenho uma resposta. Aí, conversamos para ver aonde chegamos. Acho isso maravilhoso, porque não tive com meus pais", afirma, explicando em seguida que, na infância, teve o pai bastante distante em razão do trabalho.
Talvez por isso uma frase dita pelo filho tenha sido recebida como a mais forte das críticas. "Ele me disse que quando fosse pai, teria mais tempo para o filho dele. Foi um negócio que me bateu fundo. Quero ser um profissional reconhecido, mas também quero ser um pai bacana, quero que meu filho me reconheça assim", diz, garantindo que desde então tem se esforçado para passar mais tempo com a família.
Do simples, o prazeroso
Um pequeno ritual, repleto de atividades simples, costuma marcar os momentos de lazer de Ricardo. Aos fins de semana, acorda cedo, pratica uma atividade física - geralmente corrida ou andar de bicicleta -, toma café "sem culpa", como frisa, e retorna para casa, onde passa algumas horas percorrendo jornais e revistas e aproveitando um chimarrão. Assim gosta de permanecer das 10h30 até às 14h, muitas vezes, também acompanhando as edições do programa Pretinho Básico, da Rádio Atlântida, que não pôde ouvir durante a semana.
No gosto musical, diz não ter muitas restrições. "Vou da ópera ao fado em 30 segundos", diz. Para acompanhar um churrasco, curte Paulinho da Viola e, pela herança de família, aprecia bastante o estilo musical de origem portuguesa. Música popular brasileira, jazz, sertanejo universitário, canções judaicas - religião seguida pela esposa, tudo é bem-vindo. "Tudo tem seu momento", acredita. Os únicos gêneros que dispensa são pagode, funk e heavy metal, que afirma não conseguir ouvir. Já para leitura, além de jornais e revistas, tem preferência pelos livros do filósofo Mario Sergio Cortella.
Viver para a família talvez possa ser definido como um lema de Ricardo. Isso porque é nela que estão o combustível e a razão para o que faz. Para ele, o segredo do profissional bem-sucedido está em conciliar os negócios e a família. "Acho que as melhores lembranças que trago da infância são da minha família reunida, em volta de uma mesa. Eu seria plenamente feliz se  pudesse fazer isso todos os domingos", garante.
Sempre atualizado
Tem grande admiração pelo empresário Jorge Gerdau Johannpeter, a quem define como dono de um perfil diferenciado no mundo dos negócios. "Ele seria um grande profissional em qualquer lugar do mundo. Fez isso no Rio Grande do Sul, onde, muitas vezes, é difícil se alavancar", ressalta, ao lembrar a preocupação do empresário não só com o próprio negócio, mas também com outros elementos como cultura. Também está na lista de inspirações o político Winston Churchill, primeiro-ministro da Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial. Deste, destaca o perfil de liderança e forma estratégica como conduziu a Inglaterra e aliados até a vitória contra o nazismo e o fascismo.
A facilidade de relacionamento e de percepção sobre as pessoas são algumas qualidades de sua personalidade. Acredita ter a capacidade de compreender a verdade no outro. "Gosto de gente, gosto de me relacionar com pessoas, sempre gostei." Já o defeito fica por conta da fácil distração e da insistência em não registrar pequenos detalhes. "Esqueço com muita facilidade e isso me irrita", esclarece. "Por mim, todo mundo andaria de crachá", brinca, se referindo à dificuldade de memorizar nomes.
A espontaneidade em excesso é, para Ricardo, uma característica em fase de aprimoramento. Ao longo dos anos, ele acredita ter aprendido a importância de controlar as reações e ouvir mais, ainda que não concorde com o discurso. "Sempre tem a hora certa para discordar", ensina. "É algo que o tempo te traz. Tu ficas mais inteligente para lidar com certas coisas", completa. Para o futuro, quer apenas manter-se atualizado, acrescentando à bagagem tudo de bom que as novas gerações oferecem. "Admiro muito pessoas com mais de 60 anos que hoje estão no mercado e continuam jovens. Quero continuar com a cabeça que eu tenho hoje, que é a que eu tinha aos 25, 30 anos. Quero ficar idoso, sem envelhecer", enfatiza.
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