Farid Germano Filho: O jornalismo como referência

Farid Germano Filho fala sobre família, referência paterna e os desafios vividos em 25 anos de profissão

Farid Germano Filho não esconde o orgulho ao contar que exerce o jornalismo há 25 anos. Inspirado nos passos do pai, Farid Germano - um dos pioneiros no jornalismo esportivo gaúcho, que faleceu no ano passado -, hoje aos 47 anos, ele traçou uma longa trajetória na área. No caminho, admite que enfrentou momentos de altos e baixos, mas que aprendeu a lidar com os desafios. "Sou um cara esforçado, sei das minhas limitações, mas não tenho medo de desafios", sustenta.
Foi na figura paterna que encontrou a principal referência. "Meu pai foi o primeiro narrador esportivo da Rádio Gaúcha, na década de 1940", orgulha-se. "Minha família é de Cachoeira do Sul e meu pai veio para Porto Alegre para cursar Direito na Ufrgs. Enquanto estudava, começou a fazer bicos em rádio para se sustentar. É, sem dúvida, meu maior ídolo". Antes de seguir pelo mesmo caminho, até encarou a graduação em Sociologia por dois anos, mas logo percebeu que não havia nascido para se dedicar à área.
Era hora de partir para o Jornalismo, estudos que concluiu na PUC. Foi um anúncio no jornal que o levou a disputar uma entre as três vagas de estágio em aberto na Rádio Gaúcha, onde viveu a primeira experiência na área. Começava ali, em 1989, uma trajetória que passaria por veículos do Grupo RBS, Band, Record e Rede Pampa. Hoje, é apresentador e comentarista da Rádio Grenal e assessor de imprensa no Gabinete de Inovação e Tecnologia da Prefeitura de Porto Alegre, o InovaPoa. "A Rádio Grenal é uma rádio jovem, estreou em março de 2012, e feita por um pessoal jovem, que está avançando muito. Temos horários em que somos segundo lugar em audiência", comemora.
Nasce um repórter
A eclosão de um conflito partidário em meio a uma visita de Fernando Collor ao Estado, durante as eleições de 1989, deu a Farid, ainda estudante, a tão sonhada oportunidade de falar no rádio. "Estacionei o carro perto de um orelhão, então apurava as informações e ligava para a rádio do orelhão, até que ele estragou", recorda. A solução foi buscar ajuda em um edifício próximo, onde um morador autorizou que fizesse ligações a cobrar para o estúdio. O episódio rendeu quatro horas no ar e garantiu um posto como repórter de geral.
Foram muitos pedidos, até que conseguiu convencer o então diretor da emissora Armindo Ranzolin a lhe dar uma oportunidade no jornalismo esportivo. "Passei a cobrir esportes pela manhã, política à tarde e fazia faculdade à noite. Foi assim que ganhei do Lasier Martins o apelido de repórter 24 horas", relata. Outros momentos marcantes relembrados durante os 17 anos na RBS remetem à participação, juntamente com Pedro Ernesto Denardin, em 1996, da primeira transmissão brasileira direto da China - trabalho reconhecido com o prêmio ARI -, e ao fato de ter integrado a equipe que colocou no ar a Tvcom, em 1995.
Sempre em frente
Em 2003, foi convidado a trabalhar na Rádio Farroupilha, após o afastamento de Sérgio Zambiasi, que havia sido eleito para o Senado. "Foi um baque. Foi alegre, preocupante e desafiador ao mesmo tempo", afirma, ao contar que, em primeiro momento, negou a proposta. "Era algo que as pessoas não acreditavam que podia dar certo. Fiz um programa diário no horário da Voz do Brasil, que chegou a ter 70 mil ouvintes por minuto. Em outro, alcancei a marca de 144 mil ouvintes por minuto. Mesmo com esses resultados, me tiraram. No início, foi impactante, porque por 17 anos a RBS foi minha vida".
Após, passou pela Band, grupo pelo qual faz questão de afirmar que nutre grande carinho. "Pude trabalhar com pessoas fantásticas. Saí de lá com o coração partido. A Band é um lugar diferente, muito bacana de trabalhar." Foi para a Rede Record, onde trabalhou por quatro anos, apresentou o jornalístico Rio Grande no Ar, Rio Grande Record e, em algumas oportunidades, o Balanço Geral, de Alexandre Mota, chegando a alcançar o segundo lugar.
O desligamento da emissora no ano passado, quando voltava de férias, foi uma surpresa para ele. O afastamento coincidiu com um período em que o quadro de saúde de seu pai, que sofria de complicações pulmonares, agravou-se. "Hoje, eu penso que não tinha trabalho, mas tive o prazer de ficar mais tempo com ele, beijá-lo mais, pernoitar no hospital", considera.
Com a família
Filho mais novo da família formada ainda pelas irmãs Cristina (falecida) e Carmen e pelos pais, o radialista Farid Germano e a dona de casa Carmen, lembra que, ainda criança, costumava visitar os estúdios da Rádio Itaí, acompanhando o tio Rubens Alcântara no trabalho. Da época, além dos jogos de botão, tinha como hobbies a natação, o basquete e o futebol de salão.
Ter rádios ligados pelos ambientes de casa foi, para ele, algo comum durante a juventude, o que, além da inspiração profissional, motivou um passatempo ao menino. "Ainda criança, brincava de futebol de botão e narrava as partidas, era locutor, comentarista?", recorda. A ligação com os esportes também foi fortalecida pelo contato com o pai, que foi vice-presidente do Jockey Club e do clube de futebol Cruzeiro, e dirigente da Federação Gaúcha de Futebol.
Acredita que tem na lealdade sua principal qualidade, enquanto o defeito fica por conta da ansiedade, característica a qual, brinca, teria sido a responsável pelo nascimento prematuro, ainda aos sete meses. Embora tenha raízes em Cachoeira do Sul, Farid veio ao mundo em Porto Alegre e foi no bairro Cidade Baixa que viveu toda a infância e adolescência. Também foi lá que conheceu a pedagoga Karina, com quem é casado há 20 anos.
Do relacionamento, nasceram Leonardo e Gabriel, hoje com 17 e 13 anos, respectivamente. "O mais velho quer ser jurista e o mais novo, jornalista", orgulha-se. É aos filhos e à esposa que ele diz destinar 100% dos momentos de folga. "A Karina foi mãe e pai durante muito tempo. Eu trabalhava e viajava muito e ela sempre me incentivou, segurou as pontas. Quase não vi a infância do Leonardo e hoje tento compensar isso, dedicando mais tempo a eles", comenta.
Hoje, crê ser um bom pai, marido e amigo, alguém que briga pelos amigos, uma pessoa de hábitos simples, que leva uma vida normal. Para aproveitar o tempo em família, não faz muitas exigências. Almoços, jantares e viagens à serra gaúcha, ir ao shopping ou mesmo ao supermercado com os filhos são alguns dos programas que o satisfazem.
Para curtir
Quando se trata de literatura, o gênero preferido de Farid são as biografias. Recentemente, finalizou livros sobre a vida de Mahatma Gandhi e Steve Jobs. Além de jornais diários de Porto Alegre, do Centro do País e até alguns da Argentina, tem o hábito de ler cerca de 15 páginas da Bíblia, diariamente. Intitula-se um grande admirador do cinema, no entanto, lamenta não ter muito tempo para frequentá-lo. Na TV, obras de ação, romance, comédia, terror e filmes de época estão entre os preferidos.
De estilo musical eclético, gosta de MPB, passando por Elis Regina, Zeca Pagodinho e Roberto Carlos, a Paul McCartney. Na culinária, aprecia a gastronomia italiana e sua variedade de massas, e a árabe - o que atribuiu à descendência sírio-libanesa -, mas não dispensa o tradicional churrasco gaúcho em família.
Por falar nela, é à proximidade e ao incentivo dos familiares que Farid atribui grande parte das conquistas no jornalismo. "Nesses 25 anos, cobri velórios, procissões, visitas de presidentes? Sou um cara realizado nessa que é uma profissão extraordinária, mas isso tudo só me faz feliz por causa da minha família. Uma não existiria sem a outra", afirma.
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