Diversidade e Comunicação: Bárbara Ramos, o "escrever para ser" e o "ser para escrever"
Jornalista é a articulista do dia em Coletiva.net e foi entrevistada por Luan Pires, curador deste espaço
Bárbara C. M. Ramos é jornalista pela Universidade Federal do Pampa (UniPampa), trabalha atualmente como hostess, é diretora do filme 'Dialoganja: um documentário sobre a maconha como pauta no jornalismo brasileiro' e ativista pela legalização das drogas. Bissexual, preta e de opiniões embasadas, mas aberta ao diálogo, escreve poesias, contos e crônicas no perfil RealidadeTorpor, hospedado na plataforma Medium e no Instagram @realidadetorpor.
Como o seu "eu" pessoal acaba "atravessando" o eu "profissional"?
Já tive relações duradouras com homens e mulheres e isso e todos os meus recortes influenciam no que faço. Escrevo desde que me entendo como gente, mas desde os 16 anos sempre tive essa vontade de publicar e por isso escolhi o Jornalismo como formação. Meus textos são voltados para autoficção, então, abordam minhas pautas principais. Meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi um documentário sobre a maconha, abordando como a mídia retratava o usuário, a planta, a questão medicinal e mostrando que existia (menos, agora) uma abordagem danosa sobre o tema. Hoje em dia tivemos um avanço e já é mais mostrando como o usuário deve ser visto hoje como alguém que precisa de apoio e não é um caso de segurança pública. Entrevistei muitas pessoas para entender esses vieses.
Como você vê a importância da representatividade de histórias de pessoas com recortes diversos sendo contadas?
Cada pessoa vai viver o mundo de uma forma diferente, então viver no espectro da diversidade é enxergar o mundo de um modo que outras pessoas não enxergam. Então, essa representatividade é mostrar pro outro o que ele não está vendo. Isso gera debates sobre o que podemos fazer para melhorar e evoluir. A diversidade é importante pra gente entender a perspectiva do outro e trazer a nossa perspectiva. Por exemplo, eu posso escrever sobre um homem branco que sofreu homofobia, mas tu vais ver pontos e coisas que talvez eu não veja, porque eu não vivi isso. Então, é importante essa representatividade. Hoje em dia, é muito dura a questão do discurso: a pessoa escreveu dessa forma e então ela tem essa visão e ponto final. Mas escrever tem muito impacto contextual e as pessoas esquecem disso. Muita gente não têm a delicadeza de analisar o contexto da sociedade de quando algumas obras foram escritas, analisa o discurso fechado em si mesmo. Então, eu defendo que ter pessoas mostrando seu lado vai impactar outras pessoas de fora do espectro a entender mais sobre pontos que ela não viveu e esse movimento deve avançar conforme a sociedade avança.
Como é no seu dia a dia? Sente que a questão do preconceito vem melhorando?
É muito difícil lidar com ele no dia a dia. Diria que ainda está muito no discurso a questão da inclusão. Quando eu fui casada com uma mulher, a gente morava no interior e sentia pessoas olhando e comentando. Em Porto Alegre, surpreendentemente, também aconteceu esse tipo de coisa, até mais do que no interior. Foi impactante o quanto em cidades grandes a gente também não está livre disso. Foram tantos pequenos acontecimentos que tu vês que existe uma cultura de preconceito que resiste. Tem coisas que de primeira a gente não percebe, mas depois você reflete e pensa: espera, isso aconteceu sim.
O que você diria para as pessoas no sentido de incentivar a evolução nessas pautas?
Eu acredito que o caminho é na política, fazer nossa parte dentro dos nossos espaços coletivos, o movimento negro como movimento conscientizador... O aquilombar-se resume muito: mudar o que veio da colonização e do domínio sobre o outro. Porque se a gente não se descolonizar, não descolonizar nossa prática, a gente não sai do lugar. Tenho até algumas indicações para todos iniciarem esse trajeto, como se aproximar dos pensamentos de Angela Davis. Audre Lorde, Ailton Krenak, Bruna Santiago (@leituraspretas), Ryane Leão e Refs literárias.
O que é diversidade e inclusão para você?
É dar espaço para que a gente possa ser/estar. Precisamos seguir por esse caminho e se abrir para o outro olhando e entendendo que somos diversos e diferentes. Por isso, vamos pensar diferentes, agir diferentes e tudo bem. Aprender a conviver e se enriquecer com vivências diversas é maravilhoso. A gente tem que construir a vida e diversidade e inclusão é sobre isso.
Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Quinzenalmente, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Bárbara Ramos, clique aqui.