Na manhã desta sexta-feira, 30, o GovTech Summit, realizado no Centro de Eventos da PUCRS, recebeu o secretário municipal de Transparência de Canoas, Gustavo Ferenci, para uma palestra sobre Lei Geral de Proteção de Dados  (LGPD) e cibersegurança, durante o evento voltado à gestão pública e tecnologia. Com linguagem acessível, analogias criativas e referências culturais, inspiradas na palestra de Wesley, de acordo com Ferenci, o secretário cativou o público ao abordar temas técnicos com profundidade e sensibilidade. 

Inspirando-se em autores como Zygmunt Bauman, Haruki Murakami e até obras de pintores como Van Gogh e Goya, o secretário reforçou a ideia central de que proteger dados não é apenas uma obrigação técnica, mas um ato de cidadania e responsabilidade social. "Proteger dados é proteger a liberdade", afirmou, citando Bauman. 

Responsabilidade pública

Ferenci utilizou comparações inusitadas para ilustrar a diferença entre risco e impacto. Em um exemplo, comparou uma simples aposta em dinheiro com uma roleta-russa, demonstrando que, embora o risco possa parecer pequeno, o impacto pode ser devastador, exemplificando como ocorre em casos de vazamento de dados.

O secretário alertou para a necessidade de mapeamento rigoroso dos dados tratados por órgãos públicos, destacando que "o responsável final é o prefeito" e que a gestão pública não pode mais depender de respostas vagas como "quem sabe disso é o fulano". É preciso ter processos claros, documentados e auditáveis.

Casos reais e prejuízos públicos

Durante a palestra, que durou 30 minutos, Ferenci compartilhou um caso real de phishing - tipo de golpe online em que criminosos tentam enganar as vítimas para que forneçam informações confidenciais, como senhas, dados bancários ou números de cartão de crédito  - envolvendo uma prefeitura brasileira que sofreu um prejuízo de R$ 1,8 milhão após um golpe digital que simulava descontos falsos em boletos de IPTU. Segundo ele, falhas como essas evidenciam a urgência de implementar padrões de segurança, como os da ISO 27001 - norma internacional que estabelece requisitos para um sistema de gestão da segurança da informação, - e investir em educação digital e processos de resposta rápida a incidentes.

Em tom mais filosófico, o secretário também refletiu sobre o papel da tecnologia no mundo atual. Comparando o fluxo caótico de dados ao quadro 'Noite Estrelada', de Van Gogh, Ferenci destacou a necessidade de construir linhas de coerência e proteção em meio à complexidade digital. "A segurança serve para manter essas infovias funcionando, conectando pessoas com ética e cuidado", disse.

E concluiu com uma metáfora: ao falhar em proteger os dados dos cidadãos, o Estado se torna como 'Saturno devorando o filho', fazendo referência à célebre obra de Francisco Goya. "Quando os dados vazam e causam dor, vergonha ou prejuízo às pessoas, somos nós - agentes públicos - que estamos falhando com quem deveríamos proteger", concluiu.