"Viagem cancelada": Luciamem Winck compartilha luta contra o câncer

Coordenadora de Produção do Correio do Povo conversou com a reportagem de Coletiva.net sobre a descoberta e o enfrentamento da doença

Jornalista recebeu o diagnóstico em julho de 2022 - Crédito: Mauro Schaefer

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que, em 2022, serão registrados 66.280 casos novos de câncer de mama no Brasil. Infelizmente, a coordenadora de Produção do Correio do Povo, Luciamem Winck, está nessa estatística. Às vésperas de completar 58 anos - celebrados em 10 de dezembro - e já recuperada da retirada do tumor, a jornalista decidiu relatar à reportagem de Coletiva.net a descoberta e como tem sido a rotina de tratamento desde então.

Winck contou que foram momentos de muitas "paranoias" desde que soube que estava com câncer, em 15 de julho, até a cirurgia, realizada em 19 de outubro. Por ser um tumor agressivo, de grau três, ocasionado por um excesso de hormônios, fazer a remoção era a única saída. No processo, conquistou um amigo, o médico Frederico Krahe, a quem chama de "doutorzinho", e um mote pessoal: "Viagem cancelada". Isso porque no retorno, após realizar o procedimento, foi recebida pelo profissional com um abraço, que veio seguido da frase: "Você chegou pra mim com uma viagem que não queria fazer e eu a cancelei. Eu sou um cancelador de passagens para o andar de cima".

Herói canino

Em 2021, quando ainda estava em home office, a jornalista passou por um episódio de alergia emocional - quando o organismo apresenta uma resposta imunológica exacerbada diante do estresse ou ansiedade -, ocasionada pelo isolamento social. Foi nesse momento que decidiu procurar uma dermatologista, em um consultório onde também realizavam atendimentos com uma mastologista, e aproveitou a oportunidade para fazer os exames de rotina. "Não apareceu nada", afirmou.

Porém, em julho deste ano, durante uma inocente brincadeira com o cachorro da família, o Paçoca, adotado com três meses em meio à pandemia, em 2021, acabou sendo atingida pelo companheiro "enérgico". "Ele pulou em cima de mim e acertou com as duas patas nos meus seios. Disso surgiram duas 'bolas'. Procurei o mastologista com urgência e fui atendida no dia seguinte", relatou. Em período de férias e com a requisição para uma ecografia mamária em mãos, foi durante a realização do procedimento que entendeu que a situação era grave: "A médica que fazia o exame disse que o tumor tinha o formato de uma aranha".

Então veio a biópsia, realizada e entregue no tempo ágil de cinco dias. "O tumor estava escondido no duto mamário e se estendia para baixo da minha axila. Quando o Paçoca me atingiu, saiu", explicou. Embora seja uma notícia que ninguém quer receber, ter sido diagnosticada nesse episódio fez toda a diferença. "Se o cachorro não tivesse pulado em mim eu não iria descobrir, pois a minha ideia era retornar ao médico em maio de 2023. E talvez fosse tarde demais", afirmou.

"A Lu resolve"

"Quando recebi o diagnóstico, chorei muito. Veio um monte de interrogação: onde eu vacilei? Porque eu? Buscava uma resposta que não existe", contou. Por isso, para além do tratamento da doença por si só, o período ainda exige muita força emocional da jornalista. Desde a descoberta, ela se cercou da família, dos amigos e dos colegas do Correio do Povo. Acostumada a abraçar as missões impossíveis que surgem no jornal, na fala do gerente de Jornalismo, Jonathas Costa, encontrou uma motivação: "A Lu resolve tudo, vai resolver isso também".

O apoio veio também do diretor de Redação, Telmo Flor, que rotineiramente a procura para saber como está, e do presidente do jornal, Sidney Costa. "Cheguei em casa tensa, após fazer a biópsia. Recebi uma ligação do presidente e pensei que tinha algum problema, mas quando atendi, ele me disse: 'Aqui é um amigo ligando'", relembrou. Outro "anjo da guarda", contou Winck, é a jornalista Duda Streb, diagnosticada com câncer de mama em novembro de 2021. "Ela me ergueu do chão quando eu estava enlouquecendo", afirmou. Jerônimo Silvello e Luciana Moglia, da Moglia Comunicação Empresarial, Neusa Fróes, da NGF Imprensa e Assessoria, e Soraia Hanna, sócia-diretora da Critério, também são grandes figuras nesta trajetória: "Descobri que tenho muitos amigos".

Com quase 37 anos de profissão, mais do que nunca o ambiente de trabalho se tornou imprescindível. Segundo a profissional, ficar em casa significa pensar na doença 24 horas: "Os piores momentos foram os 14 dias em casa após a cirurgia. Eu estava ficando louca e sei que não posso baixar minha imunidade". Nesse período, nem mesmo a televisão era uma boa companhia. "Parece que só existe isso, são tantas notícias sobre pessoas com câncer. Também são tantas jornalistas enfrentando isso", relatou ao citar novamente Duda, além de Cristina Ranzolin e Rosane de Oliveira.

Mais uma batalha

A estética é o que menos a preocupa, mas contou que tentará amenizar a queda de cabelo, dano colateral da quimioterapia, ao utilizar a touca inglesa - capacete que resfria o couro cabeludo e pode evitar ou reduzir a perda dos fios. "Mas, se for muito agressiva, vou assumir a careca", afirmou. Para reduzir as faltas ao trabalho, marcou a primeira sessão de quimioterapia para uma sexta-feira, 16 de dezembro. "Se tiver algum efeito ruim, segunda-feira já estarei de volta. Eu quero trabalhar, é como se fosse a minha força, o motor do meu carro. Quando estou longe do Correio do Povo, me sinto desprotegida", explicou.

Winck entende que as "armas" para combater o câncer não são fáceis e que a quimioterapia é um processo agressivo, mas também enxerga o caráter de ensinamento que vem do plano espiritual. Desde a descoberta, entrou em todas as "tendas" que se abriram para ela. "Recebi apoio de membros da  Universal, da Igreja Católica, do espiritismo, do budismo e das religiões de matriz africana. Eu aceito tudo, tenho fé", pontuou. Após anos de apoio aos movimentos do Outubro Rosa, foi muito marcante para a jornalista se tornar personagem da data neste ano. "Eu apelo, façam o exame. É chato ir ao médico, mas eu descobri no início, já operei e agora estou em outra fase. Tem gente que não recebe o diagnóstico a tempo", defendeu.

Comentários