Estudo mostra que desertos de notícias impacta informação local

Ausência de veículos de Comunicação na maioria dos pequenos municípios brasileiros fragiliza debate público

Cidade de Luiz Antônio/ARES-PCJ

A ausência de Jornalismo local em parte dos municípios brasileiros compromete a disseminação de informações e impacta diretamente o mercado da Comunicação. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Atlas da Notícia, produzido pelo Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), cerca de 78% das cidades do país sofrem com a escassez ou inexistência de veículos de Comunicação locais, criando os chamados desertos e quase desertos de notícias. Segundo o levantamento, esse cenário fragiliza a democracia, limita o debate público e prejudica o acesso a informações fundamentais para o exercício da cidadania.
 
O estudo sugere que a falta de cobertura jornalística local tem implicações diretas na vida dos cidadãos, especialmente em períodos eleitorais. Ainda, sem fontes confiáveis para apurar e divulgar informações sobre candidatos e políticas públicas, a população fica mais vulnerável a desinformação e propaganda oficial sem o devido escrutínio. Como explica o jornalista Dubes Sônego, um dos pesquisadores do Atlas da Notícia, o "Jornalismo local exerce um papel fundamental na checagem de fatos e na transparência das ações do poder público, permitindo um debate mais qualificado".
 
Para o professor Francisco Rolfsen Belda, da Unesp de Bauru, a ausência de veículos locais obriga os moradores dessas cidades a recorrerem a mídias de outras localidades, o que pode gerar uma cobertura superficial ou irrelevante para suas necessidades específicas. "A falta de fiscalização midiática enfraquece a democracia e torna a população dependente de informações difundidas por órgãos oficiais, muitas vezes sem um viés crítico."
 
Iniciativas digitais
 
Ainda segundo o estudo, apesar dos desafios econômicos que dificultam a manutenção de jornais locais, o avanço da tecnologia tem possibilitado novas iniciativas digitais de Jornalismo. O pesquisador Dubes Sônego aponta que, embora muitos jornais impressos tenham fechado, algumas localidades estão desenvolvendo veículos on-line, reduzindo a quantidade de desertos de notícias no país. No entanto, ainda há o desafio de garantir a qualidade e a veracidade dessas informações em meio à proliferação de fake news.
 
As redes sociais desempenham um papel importante na circulação de informações locais, mas não substituem o Jornalismo profissional, segundo o professor Belda. Ele destaca que a ausência de veículos jornalísticos comprometidos com técnicas de apuração favorece a disseminação de discursos fraudulentos e ideológicos, tornando a população mais suscetível à desinformação e ao discurso de ódio.
 
Também, além do impacto político, a falta de comunicação local afeta setores como economia e cultura. Regulamentações, mudanças econômicas e eventos culturais muitas vezes passam despercebidos pela população, que não tem acesso a informações específicas sobre seu contexto imediato. Iniciativas como a Agência Mural, em São Paulo, mostram como veículos especializados podem preencher essa lacuna e oferecer um panorama mais detalhado sobre diferentes regiões.
 
O Atlas da Notícia segue monitorando essa realidade com o apoio de voluntários, especialmente estudantes de jornalismo, que ajudam a mapear e validar a existência de veículos locais. O levantamento tem o objetivo de acompanhar a evolução do cenário da Comunicação no Brasil e reforçar a importância do jornalismo local para uma sociedade mais informada e democrática..

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