Primeira repórter televisiva do Rio Grande do Sul, morre Cleusa Aguiar

Jornalista, que chegou a ser presa pela ditadura, enfrentava quadro demencial havia 14 anos

Cleusa Aguiar - Crédito: Arquivo pessoal / Paula Aguiar

O Jornalismo gaúcho começou esta semana de luto pela perda de Cleusa Maria Paim de Aguiar, primeira mulher a se tornar repórter de televisão no Rio Grande do Sul. Com 72 anos, havia 14 anos ela enfrentava um quadro de demência semântica - progressivo comprometimento da compreensão verbal e do reconhecimento de objetos ou pessoas - e faleceu na tarde deste domingo, 22. Em conversa com a reportagem de Coletiva.net, a também jornalista Paula Aguiar, filha de Cleusa, descreveu a mãe como uma guerreira, visto que a expectativa de vida na descoberta da doença era de apenas sete anos.

Além de Paula, a jornalista também deixa a filha Cristina, ambas frutos do segundo casamento com João Carlos Ferreira da Silva. Presa política em Recife durante a ditadura quando tinha 18 anos, Cleusa optou pela anulação da primeira união para voltar a ser considerada menor de idade e ser solta, o que ainda levou 11 meses para acontecer. "Depois disso ela voltou para o Rio Grande do Sul, onde continuou os estudos de Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e conheceu meu pai, com quem ficou por 13 anos", contou a filha.

Por volta de 1970, Cleusa ingressou para a TV Difusora - antigo nome da Band TV - onde foi a primeira mulher a segurar um microfone em frente a uma câmera de televisão no Estado. Ao lado de João Carlos, ainda fundou o Jornal de Uruguaiana, do qual foi sócia até o final da década de 80. "Na volta para Porto Alegre foi assessora de imprensa da Secretaria de Planejamento e do Sinduscon, além de trabalhar na revista Amanhã e editora Plural", relembrou. Também foi responsável por estruturar a Comunicação da Copesul e, em 2005, ingressou no mesmo setor na ADVB-RS.

Contudo, em 2008 Cleusa apresentou os primeiros sinais da doença, aos 58 anos. "Nos últimos anos ela já não estava mais reconhecendo ninguém e com bastante dificuldade", comentou Paula. A jornalista ainda descreveu a mãe como dona de uma gargalhada inconfundível e com muita alegria de viver. "Ela sempre dizia que veio ao mundo para quebrar paradigmas. Sempre foi assim. Ela foi a primeira mulher da família a usar biquíni, em uma época que isso horrorizava as 'famílias de bem'", explicou.

Entre as amizades que conquistou ao longo da trajetória, a filha destaca Rosvita Saueressig, falecida na semana passada, e Carlos Bastos, que comandava o Jornalismo na TV Difusora na passagem de Cleusa. "Tinha uma personalidade forte e abraçava com determinação todas as pautas. Foi muito gratificante para mim a convivência profissional que tivemos. E quando nossos caminhos se separaram, ficou uma amizade muito grande", afirmou Bastos, ao Coletiva.net.

Embora debilitada por conta da doença, em 2012 Cleusa ainda teve uma breve participação no documentário 'Vou Contar para os Meus Filhos', de Tuca Siqueira. O curta relata a história de 21 mulheres que foram presas políticas na Colônia Penal Feminina do Bom Pastor, em Recife, no período de 1969 a 1979. Da breve participação da mãe, Paula salienta a frase: "A gente não sabia direito o que estava fazendo, mas sabíamos que tínhamos que fazer".

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