Repórter da Band-RS é hostilizada por populares durante cobertura de evento

Jornalista Maria Eduarda Romagna foi xingada e vaiada após questionar a demora que estaria ocorrendo no procedimento de análise do Auxílio Reconstrução

04/07/2024 18:47
Repórter da Band-RS é hostilizada por populares durante cobertura de evento /Crédito: Arquivo Pessoal

A jornalista Maria Eduarda Romagna, da Band-RS, foi hostilizada por populares, na última quarta-feira, 3, durante a cobertura de um evento oficial do Governo Federal, ocorrido no Mercado Público de Porto Alegre. Na ocasião, estavam presentes o ministro de Estado da Secretaria Extraordinária, Paulo Pimenta, e a ministra da Cultura, Margareth Menezes. A comunicadora foi xingada e vaiada após questionar a demora que estaria ocorrendo no procedimento de análise do Auxílio Reconstrução, benefício destinado às famílias gaúchas atingidas pelas enchentes.

Em nota publicada nas redes sociais, o Grupo Band registra que a pergunta feita por Maria Eduarda é legítima e de interesse de toda a população. Além disso, também salientou que a tentativa de intimidar jornalistas por meio de agressões verbais representa um ataque aos princípios basilares da sociedade livre. ?Surpreende que tais atos sejam protagonizados por aqueles que dizem defender a 'democracia' e combater o 'extremismo'.?

Em conversa com a equipe de reportagem de Coletiva.net, Guilherme Macalossi, coordenador de Jornalismo das rádios do conglomerado midiático, contou que a repórter está bem, e que não houve agressão física, apenas manifestações verbais. ?Internamente, ela foi amparada pela equipe e pelo setor de Recursos Humanos da empresa?, disse. Para o gestor, é preocupante, na medida em que uma situação dessas revela a falta de compreensão do que é fazer Jornalismo e qual seu papel social. ?Casos como esse não podem ser tomados como normais, uma vez que a gritaria e a pressão buscam gerar a intimidação para que o profissional não pergunte?, afirmou.

Nota das entidades

Nesta quinta-feira, 4, o Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) se pronunciaram sobre o caso. Na manifestação, as entidades repudiaram os ataques na tentativa de impedir profissionais de executar seu direito ao livre exercício do ofício.  

Conforme a nota, é normal que, em eventos que ocorrem em espaço público, a imprensa aproveite a oportunidade para questionar sobre outros assuntos. E esse direito de perguntar precisa ser garantido e respeitado. As entidades solicitaram que os órgãos públicos trabalhem de forma conjunta, em ocasiões como essa, para proteger os profissionais. 

Em nota enviada para o portal, o presidente da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), José Nunes, afirma que a entidade repudia todo o tipo de ação, violenta ou não, que constranja o exercício do Jornalismo. ?O respeito à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa é fundamental para o fortalecimento de uma sociedade democrática?, concluiu.

A reportagem do portal tentou contato com Maria Eduarda, mas até o fechamento da matéria não teve retorno. 

Confira as notas de repúdio na íntegra:

Grupo Band:

O Grupo Bandeirantes de Comunicação Repudia veemente o ato de hostilização sofrido por nossa repórter Maria Eduarda Romagna durante a cobertura de um evento oficial do governo federal com as presenças dos Ministros Paulo Pimenta e Margareth Menezes.

Militantes políticos presentes no ato, ocorrido no Mercado Público Municipal de Porto Alegre, xingaram e vaiaram a jornalista após ela questionar a demora que estaria ocorrendo no procedimento de análise do Auxílio Reconstrução, benefício destinado às famílias gaúchas atingidas pelas enchentes. Um questionamento legítimo e que é de interesse de toda a população.

A liberdade de imprensa é a pedra angular do Estado Democrático de Direito. A tentativa de intimidar jornalistas por meio de agressões verbais representa um ataque aos princípios basilares da sociedade livre. Surpreende que tais atos sejam protagonizados por aqueles que dizem defender a ?democracia? e combater o ?extremismo?.

O jornalismo profissional é essencial para a fiscalização das instâncias de poder, seja lá qual for o governo de turno..

O Grupo Bandeirantes reitera sua solidariedade à repórter Maria Eduarda Romagna e sua equipe de jornalistas, reafirmando seu compromisso inalienável com a liberdade de expressão, a independência e o jornalismo crítico.

Nota Sindjors e Fenaj:

O Sindjors e a Fenaj vêm a público repudiar com veemência esses ataques na tentativa de impedir jornalistas de exercer seu direito ao livre exercício profissional. É normal que em um evento, que ocorreu em um espaço público, a imprensa aproveite a oportunidade do momento para questionar sobre outros assuntos. E esse direito de perguntar e questionar, tão necessário em nossa profissão, precisa ser garantido e respeitado. As autoridades públicas precisam trabalhar de forma conjunta nessas ocasiões para proteger os profissionais que fazem cobertura dos fatos jornalísticos, seja no campo da política, do esporte ou sobre qualquer outro tema.

Em contato com as direções das emissoras, e com colegas que sofreram a agressão, o Sindjors e a Fenaj manifestaram seu descontentamento de como a situação foi encaminhada e se colocaram à disposição para amparar as e os colegas jornalistas. É inadmissível que qualquer profissional da comunicação precise abandonar seu local de trabalho por sentir medo, ser hostilizado e sofrer constrangimento do público presente. Agradecemos a manifestação de nossa categoria em relatar os fatos ocorridos para nosso conhecimento e manifestação porque só assim, com união, é que poderemos criar ambientes saudáveis para o bom exercício profissional. Lamentamos o ocorrido e vamos continuar trabalhando diariamente para que a imprensa seja livre, responsável e respeitada.

SindJoRS e Fenaj oficiarão a Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal, que precisa atuar com firmeza para que jornalistas não sejam cerceados ou hostilizados e que propiciem ambientes saudáveis para o exercício profissional deixando as regras de uma coletiva de imprensa já definidas com os veículos de comunicação para evitar esse tipo de situação.