Melissa Lesnovski: Decidida pela indecisão

Sócia e diretora de Inovação da Aldeia, ela viveu em muitos lugares, mas foi o Rio Grande do Sul que a fez criar raízes

Créditos: Leandro Leão

Nascida no interior do Paraná, em Paranavaí, Melissa Merino Lesnovski, sócia e diretora de Inovação da Aldeia, teve uma infância e adolescência ciganas. Por causa do pai, Antônio, que trabalhava no Banco do Brasil, rodou diversas cidades brasileiras. Mel, como é carinhosamente conhecida, morou em Niterói, no Rio de Janeiro; em Brasília, no Distrito Federal, por duas vezes; em Terra Preta, no Mato Grosso; Cacoal, em Rondônia; e em Curitiba, capital do estado natal. Porém, a arquiteta formada em 1998 pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi conquistada por Porto Alegre após realizar especialização em Arquitetura Comercial, na Unisinos. Desde então, o município gaúcho foi o local em que tempo mais passou ao longo dos seus 42 anos.

Apesar de morar na Capital, preferiu ser "naturalizada" colona da Serra ao invés de portoalegrense. Hoje, não se arrepende da escolha, pois adora a gastronomia serrana, como, por exemplo, a de chimia. Chimarrão foi outro gosto que adquiriu, porém, como mora apenas com os gatos Pancho e Fefa, acaba não tomando muito. Dos hábitos que persistem, corrigir crases e erros de português é um clássico que a acompanha devido à profissão original da mãe. Apesar de ser formada em Direito, Nair foi inicialmente professora - o que acabou inspirando a filha. Percorrer locais a pé, bem como tentar vivenciar como o povo local nas viagens que realiza é outra mania que confessa possuir. "Talvez eu seja uma antropóloga frustrada", brinca.

Acostumada a morar em diversas cidades, conhecer novos lugares e revisitar o que chamou a atenção, aliás, é algo que adora e só não faz mais vezes devido ao tempo que não tem. Além das idas para eventos de mercado, como o SXSW, realizado nos Estados Unidos, é apaixonada por locais onde a natureza seja o interesse principal, como por exemplo, o Ushuaia, localizado na Argentina. Na lista, permanece o desejo de percorrer um trecho da América do Sul de carro.

Indecisão

Por acreditar que cada coisa tem a sua própria riqueza, Mel se considera uma pessoa que não consegue escolher o que mais a chama atenção nas Artes e na Literatura. Na música, por exemplo, quando jovem, possuía uma banda favorita. Entretanto, na atualidade, a encanta mais encontrar aquilo que é diferente do que está acostumada e tentar entendê-la. Por isso, brinca: "Posso começar o dia escutando a dupla sertaneja 'Simone e Simaria' e finalizar ao som de um mantra". Para tal, adquiriu um hábito: ela seleciona no carro uma rádio diferente por uma semana, porém, com a regra de não poder escolher nem trocar. Neste sentido, ela entende que cada música traduz um determinado momento da vida, bem como uma intenção ou uma sequência de emoções.

Outra mania musical é tocar no violão um hit que não sai da cabeça com o intuito de "desfazer o feitiço". Com gosto e variedade musical, o que não pode deixar de citar na playlist da vida são os cantores Caetano Veloso, Tim Maia e Vitor Ramil, os quais dividem espaço com as bandas 'Massive Attack' 'Talking Heads' e 'Smashing Pumpkins'. Completam a lista os cantores internacionais George Michael, Lady Gaga, Michael Jackson, Prince e Sai.

Por sua vez, 'Lost', por exemplo, acredita que pode ser o seriado que mais ame, apesar de relutar em aceitar o episódio final. 'House Of Cards', 'Homeland', 'Narcos' e 'Merlí' são essenciais, enquanto a clássica que lhe chama a atenção é 'Star Trek'. Sobre a sétima arte, entende que ter apenas um favorito é complicado, pois se sente dizendo não a tantos outros pelos quais é apaixonada. Apesar disso, consegue citar alguns exemplos, como 'A Origem', 'Clube da Luta', 'Dr. Fantástico','Encontros e Desencontros', 'O Balconista', 'Pi', 'Trainspotting - Sem Limites', além da trilogia do 'Poderoso Chefão'. De acordo com a diretora de Inovação da Aldeia, o lazer acaba convergindo com os interesses profissionais -  isto porque as fronteiras do que considera passatempo e trabalho são muito tênues.

Como filha de professora, Mel cresceu rodeada por livros clássicos e acabou adquirindo gosto por desbravar este mundo. Desta época, carrega a paixão pelo autor português Eça de Queiroz. Mais atual, 'Antifragil', de Nassim Taleb, é uma das obras que recomenda sem ressalvas. Porém, segundo ela, após uma breve olhada na estante de casa se pode perceber que pende por biografias. A arquiteta, que se considera fã de carteirinha do escritor Ruy Castro, adora as obras realizadas sobre Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

Híbrida

Em um encontro de estudantes de arquitetura em Porto Alegre, em 1996, a então estudante Mel conheceu uma empresa chamada Aldeia. Ela, que já gostava de Design, achou o material gráfico primoroso. Quando foi pesquisar sobre o local se apaixonou mais ainda e pensou: "Quero ser boa o suficiente para trabalhar em um lugar como esse". O tempo passou e, quando voltou ao Rio Grande do Sul para cursar pós-graduação, conheceu os profissionais da mesma agência que a encantou anos atrás.

Após ficar amiga deles, quando acabou a especialização, em 1999, e já estava com as malas prontas para voltar ao Paraná, recebeu uma proposta para fazer parte da equipe de que tanto desejou. A partir de então, começou a trabalhar com Comunicação Digital. Ainda, foi diretora de Arte e coordenadora de projetos e planejamento. Após algum tempo, quando um dos sócios saiu do contrato, comprou uma cota da sociedade. Neste tempo, em 2002, fez um MBA em Comunicação e Marketing, quando começou a trabalhar mais profundamente com planejamento. Três anos depois, ingressou no mestrado em Design Estratégico, na Unisinos. Hoje, a atual mestra faz doutorado lá, em Design.

Voltar às salas de aula despertou um desejo que foi construído aos poucos: ser professora. Mel começou a lecionar em 2003 na Alfamídia e, desde então, deu muitas palestras, cursos e participou de algumas pós-graduações. Após finalizar o mestrado, foi convidada para trabalhar. Desde fevereiro de 2018, leciona na graduação dos cursos da sua última instituição de ensino nos cursos de Bacharelado Interdisciplinar, Comunicação Digital, Design e Moda. Com o dom provindo de sangue, ainda é coordenadora do Projeto de Aprendizagem 3 do curso de Administração - Gestão para Inovação e Liderança (GIL). Segundo ela, enquanto nas pós-graduações realiza troca de experiência com os alunos que já são profissionais, na graduação enxerga um grande desafio em moldar quem logo estará no mercado de trabalho.

Trabalhar em dois locais diferentes e ainda ser doutoranda não é nada fácil, principalmente, para quem se desafia constantemente a conseguir organizar melhor as prioridades. Ela, que ainda é diretora de Pesquisa da Associação Brasileira de Agentes Digitais (Abradi-RS), bem como curadora do 'Festival de Interatividade e Comunicação' (FIC) e 'Festival da Transformação' (FT), baseia-se nos horários que precisa lecionar e encaixa entre uma aula e outra conversas com pessoas do mercado, além de participar de eventos. Mel também viaja frequentemente, ou para ver a família, em Curitiba, ou para conversar com a sócia da Aldeia, Tatiana Brugalli, que mora em Campinas, no estado de São Paulo.

Com conhecimento em tantas áreas distintas, porém, é que acabam, se encaixando de uma forma ou de outra, Mel crê que é uma profissional híbrida: o que a faz se apaixonar ainda mais pelo o que faz. Ela é a prova concreta  alguém que possui muita felicidade no trabalho. Por isso, realizar escolhas de momentos marcantes da carreira não é nada fácil, mais uma vez. Após refletir, confessa que atender à modelo gaúcha Gisele Bündchen, agora com eventuais demandas, foram momentos muito especiais. "A conheci pessoalmente e é sensacional. A gente entende os relatos das pessoas que dizem o quão incrível é trabalhar com ela. Ela traz energia, é querida e muito gentil", confessa ela que completa dizendo que é muito fã da celebridade. Ainda cita quando se tornou sócia da Aldeia e passou a integrar a equipe da Unisinos como fatos especiais do coração.

Sem tédio

Da infância, o momento que mais a marcou foi quando morou em Brasília. Após ter vivido em períodos diferentes, tanto na infância quanto na adolescência, quando retornou recentemente à capital do Brasil visitou a quadra onde jogava basquete. Do local, a irmã mais velha de Thaís e Ana Flávia carrega boas lembranças, como a de caminhar em volta da área conversando com os amigos, além de relembrar como foi interessante morar em uma cidade planejada. Apesar de adorar conseguir acertar cestas de três pontos, Mel não é muito aficionada por assistir ao esporte. Contudo, este não é o caso do curling, pelo qual se diverte presenciando os jogadores "varrendo o chão". De atividades ao ar livre, adora caminhar e andar de bicicleta.

Emocionada, ela enfatizou que, a partir do convívio com os pais, aprendeu que, caso se dedique a algo,  isto irá se concretizar positivamente, mesmo demorando ou passando por percalços durante o caminho. Além dos pais e das irmãs, também agradece aos avós maternos, João e Ana Maria, pela inspiração de vida. "Cresci com valores dentro de casa de pessoas do interior, que tinham ética de trabalho e tratavam muito bem as pessoas", recorda. Mel também é grata aos sócios da Aldeia, que a moldaram como profissional, e tudo o que sabe sobre digital foi ensinado por eles.

Hoje, a diretora rememora que, quando era adolescente e morou em Brasília, queria ser muitas coisas: publicitária, trabalhar com Computação, Cinema e Jornalismo. Acabou optando por arquitetura, pois se encantou com desenhos arquitetônicos, algo que fazia na época por hobby. Realizada, acredita que, embora tenha optado por outro curso, está trabalhando com algo muito próximo das primeiras indecisões. Mel acrescenta:  não possui sonhos, mas perspectivas em algo que já faz, como explorar outras áreas na Aldeia. A arquiteta não deseja chegar "lá longe", pois não sabe o que é este lugar. Por isso, vai realizando os desejos à medida que as oportunidades surgem.

Contudo, ela não se acomoda. Muito pelo contrário, confessa que o maior defeito é a baixa tolerância na falta de ambição das pessoas em relação à evolução humana. Exploradora, Mel se define como uma "experiência em andamento". Por isso, o lema da vida é: idiota não tem tédio, frase que escutou de uma amiga na faculdade e aplica até hoje na vida. A primeira interpretação por não se levar tanto a sério, bem como ter sempre inquietude para descobrir e vivenciar coisas novas - "pois nada é tão estúpido que não posso fazer", diverte-se.

 

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