Marcos Zani: "Ser mídia é encarar desafios"

No mercado desde 1975, Marcos Luiz Silva Zani é o mídia com mais tempo de atuação no Estado. Nascido a 30 de outubro de …

No mercado desde 1975, Marcos Luiz Silva Zani é o mídia com mais tempo de atuação no Estado. Nascido a 30 de outubro de 1953, por pouco o porto-alegrense não se tornou engenheiro de automação. Ele chegou a prestar vestibular para Processamento de Dados na Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), mas não passou. A escolha por esse inusitado curso se deu pelo trabalho que exercia na época, na Multi Processamentos e Engenharia de Sistemas e Automação. É que Zani teve de começar a trabalhar cedo, aos 14 anos, quando a família passava por dificuldades devido a um problema de saúde do pai. Não se identificando com nenhuma das atividades pelas quais passou, o jovem pensou ter encontrado sua realização nesta última. O fracasso no vestibular fez com que ele se voltasse a uma paixão do passado: a comunicação. Desde o final do primeiro grau, no colégio, ele sempre participou de grêmios estudantis, organizações de eventos e jornais. "Mas quando levei pau na Ufrgs, pensei: 'Não quero jornalismo, vou fazer Publicidade'", conta Zani, que prestou vestibular na Unisinos, que ainda oferecia inscrições. Passou e em seguida estava em seu primeiro trabalho na área. Foi na empresa de um amigo de seu pai, a Propal, que representava veículos de mídia do Estado e do centro do País, especialmente jornais do interior. Ele era o único responsável pela comunicação da empresa, fazendo desde clipagem até atendimento às agências. Ficou alguns meses lá, até que Paulo César Melo, que trabalhava na Mercur, o chamou para atuar como auxiliar de mídia na agência, no final de 1975. "Foi amor à primeira vista, o trabalho me completou", diz o publicitário, relembrando que na época havia divisão entre mídia impressa e eletrônica, área na qual entrou. Passado um ano e meio, foi para a agência Standart. Mas antes teve passagens pela pequenas Studio e Clã. Nesta passou por uma má experiência próximo ao Natal: tendo saído da Studio para trabalhar na Clã, foi demitido em um mês devido a uma redução de custos. Trauma superado, já na Standart, que era uma das maiores agências do Estado, foi que começou, segundo Zani, verdadeiramente sua carreira, "mais apaixonado do que nunca". Isso porque foi lá que ele teve contato com relatórios de institutos de pesquisa. Chamado para atuar como gerente de mídia, o jovem de ainda pouca experiência ficou receoso, mas aceitou o desafio. Era 1977 e nesse mesmo ano, Zani ajudou a fundar o Grupo de Mídia do Rio Grande do Sul. Com apoio do grupo paulista, o gaúcho acabaria se tornando o segundo maior do Brasil. O publicitário lembra que, naquela era pré-internet, a informação não fluía tão rápido como hoje e, por isso, o contato com outros estados era fundamental para estar sempre atualizado com as novidades. Vôo solo Seus contatos fora do Rio Grande do Sul estavam ainda por se ampliar. É que em 1981, deixou a Standart. Zani fora convidado para coordenar a área de planejamento da MPM, "que era o sonho de consumo de qualquer publicitário", gaba-se. Na agência, tinha contato direto com os escritórios de São Paulo e Rio de Janeiro. Em quatro anos, tornou-se gerente geral da empresa, cargo que exerceria até 1990. Nessa época, viveu uma fase conturbada. Separado de sua esposa, Alzira - com quem reataria em pouco mais de um ano -, Zani viu a agência em que trabalhava ser vendida e passar por uma fusão. Resolveu sair, "seguir vôo solo". Montou então uma consultoria de mídia, a Planos, com o objetivo de montar estratégias e orientar empresas no relacionamento com agências de publicidade. A Planos durou cerca de um ano, o que Zani atribui a ter sido "o negócio certo, na hora e no mercado errados". O problema, segundo ele, era que seu nome estava muito atrelado ao da MPM, o mercado apresentava-se muito recuado devido ao Plano Collor e não havia uma tradição de empresas de consultorias, o que hoje já é uma atividade rotineira. "Valeu como lição", diz, sem arrependimentos. Principalmente, porque uma das empresas para quem prestava consultoria era a RBS e continuou trabalhando tanto lá, que acabou sendo efetivado, em 1992. Atuava na área de planejamento, elaborando planos comerciais para as rádios do grupo. Zani gostava do trabalho, mas se entusiasmou mesmo dois anos depois, quando Antônio Ranzolin o convocou para montar o que viria a ser a Rede Gaúcha Sat. O publicitário passou a se dedicar integralmente a esse projeto e a primeira transmissão, com 364 rádios, foi da Copa do Mundo de Futebol de 1994. Depois disso, cada emissora passou a ser visitada, uma a uma, na tentativa de torná-las afiliadas da Gaúcha. A rede foi lançada no ano seguinte, com 13 emissoras, e logo chegou a 109. Com a rede concretizada, Zani partiu em busca de novos desafios na carreira, deixando a RBS para trás. De volta à mídia Zani foi convidado pela agência Escala para voltar a atuar como mídia. Embora fosse uma área na qual tinha experiência, depois de alguns anos de afastamento, muita coisa havia mudado: "Agora existe uma 'tal de internet' e uma quantidade imensa de títulos de revista", aponta. O desafio começou em ter que montar uma equipe para a área. Ele brinca que o setor de mídia da agência pode ser chamado de "Zani e a casa das oito mulheres". Essa especialidade hoje é dominada pelo sexo feminino, sendo que o Grupo de Mídia do RS tem apenas quatro homens. Bem diferente de quando surgiu, já que não havia mulheres entre os fundadores. Equipe montada, Zani mostra-se satisfeito: "Estou muito feliz aqui na Escala e ciente de que ainda há um grande caminho a percorrer." E o publicitário ainda pode se gabar de ser o mais antigo mídia do RS. "Essa história traz ônus e bônus. O ônus é ter que ouvir as mídias jovens me chamarem de 'tio'", brinca. Depois da descontração, pondera: "Na verdade, não há ônus algum. A única diferença entre eu e os outros mídias é que sempre acabo virando referência de algumas coisas". Zani demonstra que humildade é fundamental nessa área, já que os meios mudam constantemente e há sempre muita coisa para aprender, para se renovar. "Não fico pensando que já tenho 30 anos de experiência, procuro sempre me atualizar", diz. No mercado há tanto tempo, Zani admite que administrar seu tempo é a parte mais difícil: "O trabalho consome, sempre saí muito cedo de casa e voltei muito tarde." Mesmo assim, inventou maneiras de poder passar mais tempo com a família, a mulher Alzira, com quem é casado desde 1976, e as filhas Daniele, de 22 anos, formanda de Publicidade e Propaganda da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), e Fabiane, 19, que prestará vestibular para Veterinária. As meninas sempre estudaram de manhã, para que o pai pudesse levá-las ao colégio. O final de semana sempre foi sagrado para o publicitário, mas se surgisse algum trabalho, não hesitava em levar toda a trupe. "Minhas filhas cresceram dentro de agências", conta. Quando surgem momentos de folga, ele gosta, principalmente, de ler. São dois livros de cada vez, sempre um de literatura e outro voltado para o negócio. Outros hobbies são cinema, viagens e cozinha, da qual está tentando aprender mais. "Procuro descobrir novos temperos em viagens e quem come diz que é bom", fala. Sua paixão por viajar é tão grande que ela está em seus planos para o futuro - "Viajar sempre é preciso" -, junto com os desejos de ser um mídia cada vez melhor, que a sua mulher pinte cada vez melhor e que suas filhas sejam cada vez melhores.

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