Marco Aurélio: Chargista por natureza

Com muita simpatia e descontração, Marco Aurélio Campos de Carvalho, ou simplesmente Marco Aurélio,…

Com muita simpatia e descontração, Marco Aurélio Campos de Carvalho, ou simplesmente Marco Aurélio, já inicia a entrevista relembrando uma referência dada pelo amigo Carlos Nobre ao seu sobrenome: "o único chargista ecológico do Brasil". E continua com o bom humor ao revelar a idade: "Eu nasci em um ano bissexto, então faz os cálculos, só faço aniversário a cada quatro anos", brinca o chargista, que sempre concede entrevistas especiais por ter nascido no dia 29 de fevereiro.

Consagrado como um dos principais profissionais do humor gráfico nacional, especialmente pela atuação de 35 anos no jornal Zero Hora, Marco, que faz jus ao lema "estar sempre de bem com a vida, aconteça o que acontecer", gosta de dividir seu trabalho e suas paixões com os amigos e colegas. Embora não seja tímido, o chargista gosta de ficar no anonimato, sem fazer questão de ser notório para os demais. "Eu não gosto muito de aparecer. Tu já viu foto minha no jornal? Eu acho que não tem nada a ver. Trabalho para o jornal e não para mim", ressalta.

Natural de Passo Fundo, o chargista foi morar ainda adolescente em São Paulo, onde cursou Desenho Industrial - que não chegou a ser concluído -, na Faculdade Álvaro Penteado. Na década de 60, retornou a Porto Alegre e em seguida começou a trabalhar na TV Piratini, produzindo desenhos animados para o grande noticiário da época, o Jornal Ipiranga. "Fazia caricaturas e desenhos com animação quadro a quadro. Eu sempre gostei de desenhar e de humor. Desde pequeno, já fazia alguns rabiscos. Mas acho que aprendi a fazer charges mesmo na Zero Hora", revela. O trabalho na TV Piratini foi como um "bico", pois Marco atuava durante o horário comercial na área de criação da extinta agência de publicidade Estrutural, filial da Standard Propaganda. Paralelamente, produzia desenhos animados para os intervalos da programação da TV Difusora, da Rede Bandeirantes.

Mistura de humor e sutileza
Em 1969, foi convidado por Maurício Sirotsky para trabalhar no Departamento de Arte da TV Gaúcha, onde entre as atribuições estavam a produção de chamadas, anúncios da emissora e toda a parte de animação. Um ano depois, assumiu também uma página na editoria de esportes e as charges diárias de Zero Hora. Em 1975, a RBS criou o Departamento de Divulgação do jornal, o qual Marco chefia até hoje, sendo responsável pelos trabalhos de publicidade e divulgação do veículo. "Nós fizemos as chamadas diárias veiculadas na RBS TV com as principais machetes, os cartazes de rua e os anúncios dos cadernos ZH. Como tu pode ver, eu não faço só a charge diária". Aliás, Marco explica que a pior pergunta que se pode fazer a um chargista é se ele só faz as charges. "E a outra é dizer "hoje tua charge estava boa". Quer dizer que nos outros dias não estavam, então?", diz Marco com um tom irônico.

Com a prática adquirida, Marco explica que geralmente já tem sua charge pronta no início do dia para a edição seguinte do jornal, considerando os assuntos principais. "Às vezes, mesmo com a experiência, o assunto está ali e as idéias não vêm. São duas facetas da criação no humor gráfico. Mas acho que os leitores não têm nada a ver com a minha vida particular. A minha missão é fazer que o meu trabalho seja passado com qualidade para eles", avalia. Por isso, não há interferência da vida pessoal de Marco na atividade profissional. Pelo contrário, o carismático chargista está sempre tentando divertir o ambiente e os colegas de trabalho com seu senso de humor por vezes crítico, por vezes sutil.

Parte do resultado desses mais de 35 anos de carreira está publicado em oito livros de desenhos do chargista. A última publicação é uma homenagem aos 40 anos de Zero Hora, incluindo as melhores performances de humor gráfico. A experiência profissional de Marco também é tema de palestras e debates em eventos de comunicação destinados a estudantes de comunicação e comunidade. "É muito bom ministrar palestras e contribuir para o conhecimento deles, que podem ser o futuro do jornalismo e humor gráfico", comenta.

As duas famílias: lar e quadras
"Além das charges, gosto de acordar cedo, de jogar tênis, basquete e de tomar uísque com meus amigos", revela Marco, ao detalhar a rotina de lazer nas horas de folga. Apaixonado por esportes, Marco pratica religiosamente, todos os dias, caminhadas - preferencialmente na Praça da Encol -, basquete e tênis. Estes últimos são as principais paixões do chargista, cuja dedicação intensa já rendeu participações em campeonatos brasileiros e mundiais na categoria Master de basquete, através de times da Associação de Basquete de Porto Alegre (ABPA) e ACM (Associação Cristã de Moços). "Jogo basquete desde criança e nunca deixei o esporte de lado. Esses times são compostos por jogadores com mais de 35 anos. É uma maravilha viajar com os atletas e participar de campeonatos", diz.

Marco é casado há 37 anos com Scheila, com quem tem duas filhas: Andréia, de 25 anos, e Cláudia, 23. As "gurias" residem atualmente em San Diego, nos Estados Unidos, onde estudam e trabalham. O casal aproveita o período de férias e de folgas para visitar as filhas, já aproveitando também para descansar e passear no país. "A única coisa ruim agora é o sistema de segurança pelo qual temos que passar para entrar lá. A última vez que fui tive que tirar o sapato 32 vezes e o cinto umas 40. Em cada aeroporto tinha que fazer tudo de novo", reclama o chargista, referindo-se à metodologia de segurança utilizada pelos norte-americanos após os atentados sofridos em 11 de setembro de 2001.

Para relaxar, Marco revela que seu refúgio é a casa da família em Atlântida. Lá, ele aproveita para colocar a leitura em dia, assistir filmes, ouvir uma boa música e pintar. É, o chargista também faz pinturas e afirma que muitos de seus trabalhos estão espalhados por Porto Alegre. Claro que sem a sua assinatura, até porque ele faz questão de frisar que prefere "preservar a identidade". A gastronomia também tem lugar garantido entre os programas de Marco, que chega a cozinhar para grandes grupos de amigos e colegas. "Eu faço de tudo, gosto de todo aquele ritual da preparação dos pratos, de ficar ali picando os ingredientes".

O chargista considera como principal defeito o fato de ser muito crítico em relação a si próprio, bem como exigente com as pessoas com as quais se relaciona. Já como qualidade, é enfático ao afirmar: "Ser amigo dos meus amigos e inimigos dos meus inimigos", diz o chargista com uma boa gargalhada.
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