Tânia de Carvalho dos Santos: Falando Abertamente

Extrovertida como poucas, ela já passou por todas as emissoras de TV da cidade, e ainda hoje se diverte ao ser reconhecida na rua. Mas, paradoxo!, ver TV é o que ela menos faz na vida.

Tânia de Carvalho dos Santos tornou-se comunicadora por vocação. Atuante na TV há mais de 30 anos, com passagens por revistas e emissoras de rádio, conquistou grandes oportunidades ao longo da carreira pela desenvoltura e simpatia. Habituada a conduzir programas de entrevistas, ela se mostra segura e à vontade para freqüentar, no dia-a-dia de sua profissão, variados universos humanos. É capaz de conversar sobre qualquer assunto, com qualquer pessoa. Da medicina à culinária. Para isso, mantém-se atualizada: devora livros, sites, jornais e revistas diariamente, além de ser presença confirmada em espetáculos, exposições e concertos.


Natural de Bagé, a apresentadora nunca foi tímida. Desde menina revelava os dotes artísticos para os pais Plínio Cavalcanti (já falecido) e Maria Carvalho, hoje com 85 anos. Cantava, dançava e fazia pequenos shows em casa. O irmão, Roberto Carvalho, dez anos mais novo, seguiu o mesmo caminho e tornou-se músico. A adolescência ela passou em Porto Alegre , onde realizou o ginásio, no colégio Bom Conselho, e o clássico, no Júlio de Castilhos. A vida profissional começou logo após o término dos estudos, quando assumiu o cargo de secretária do diretor do Yázigi, onde cursava inglês.


No altar com um galã


Ficou responsável pela agenda do diretor e também pela divulgação de exposições de arte promovidas pela escola de idiomas. "Eu trabalhava como relações públicas e nem sabia que a profissão existia!", avalia. Eventualmente, ainda dava aulas para substituir algum professor que tivesse faltado. Por volta dos 19 anos, quando estava se preparando para ingressar na Universidade, ela conheceu Geraldo Del Rey e mudou os planos. Em 1963, trocou alianças e passou a morar em São Paulo. "Ele era o Gianecchini da época", explica, lembrando que os mais jovens podem não ter conhecido o ator que fez fama no cinema.


Instalada no novo endereço, conseguiu uma vaga na Editora Abril e descobriu sua paixão pelo jornalismo. "As pessoas achavam que eu falava bem, era desinibida e isso ajudou", conta. Entretanto, logo na chegada, antes de entrar para a redação das revistas, fez uma tentativa como contato comercial. "Foi um desastre. Não vendi nenhum anúncio", diverte-se. Até que algumas das chefas de redação a observaram e a convidaram para atuar em publicações femininas da Abril. Tânia passou a fazer de tudo um pouco, produção de moda, matérias e fotografia. Aprendeu a ser repórter na prática: "A Abril foi a minha faculdade, convivi com os melhores jornalistas da época", garante.


Além das atividades na editora, à noite ela ainda fazia produção de teatro para a atriz Ruth Escobar. "Até motorista eu era quando precisava, ela tinha um Galaxy, aquele carrão enorme", lembra. Quando sua vida parecia organizada, uma proposta de trabalho feita ao seu marido provocou uma reviravolta. Assim, em 1965, o casal fixou residência em Portugal, para que Del Rey pudesse se dedicar à gravação de filmes, em sua maioria, roteirizados e dirigidos por Glauber Rocha. Permaneceram um ano e meio fora e aproveitaram a oportunidade para conhecer bem a Europa. "Eu fiquei de correspondente internacional da Abril e, nessa época, a situação política do Brasil era bem complicada", lamenta.


De volta a São Paulo, em 1967, Tânia deu a luz ao seu primeiro filho, Fabiano, e logo retomou a rotina de trabalho. Contudo, o casamento não ia bem, e terminou em divórcio em 1969. "Não segurei a barra de ser casada com um homem tão bonito e assediado", explica. Apesar dos problemas, ela assegura ter sido feliz ao longo dos sete anos de união. Separada, optou por voltar a Porto Alegre e, em 1972, recebeu um convite desafiador da amiga Célia Ribeiro: apresentar o Jornal do Almoço, programa que estava sendo lançado pela TV Gaúcha, a atual RBS TV. Mesmo sem experiência em televisão, Tânia aceitou a proposta e deu um novo rumo a sua vida profissional. Bem-sucedida, completou quatro anos na bancada do telejornal.


Tânia, a apresentadora


A partir daí, foram inúmeras empreitadas em diversas emissoras. Saindo do Jornal do Almoço, ela integrou a equipe do Portovisão, na TV Difusora, junto dos amigos Clóvis Duarte e José Fogaça. "Eles eram meus entrevistados freqüentes na RBS, um como professor de biologia e o outro como professor de português", fala da maneira como se conheceram. Paralelamente ao programa, para o qual se dedicou até 1980, a apresentadora testou-se nas rádios Gaúcha, Difusora, Guaíba e Pampa, além de ter passado pela TVE, onde destaca uma entrevista com Luiz Carlos Prestes. Em 1981, foi chamada pela TV Guaíba para conduzir o Guaíba Feminina.


A essas alturas, com 39 anos, ela havia se casado novamente, com o médico Felício Medeiros dos Santos, e estava grávida do segundo filho, Diogo. "Fui contratada mesmo assim e lancei moda para as grávidas", comemora. O segundo marido ela conta ter conhecido através de amigos. "Eu estava de olho naquele médico charmoso que nunca havia se casado, mas já tinha namorado algumas amigas minhas", confidencia. A cerimônia civil foi realizada na serra gaúcha, em 1981, em uma casa comprada por eles em Gramado. Ela enfatiza, em tom apaixonado, que o matrimônio perdura até hoje.


Tânia acabou se destacando como apresentadora e conquistando um público fiel. Desde 1997, dedica-se exclusivamente à Gaúcha AM e à TVCom com programas sobre comportamento e cultura.. No rádio, ela comanda o Gaúcha Comportamento, aos sábados pela manhã. Na televisão, participa do Café TVCom junto com Tatata Pimentel, David Coimbra, Thedy Corrêa, José Antonio Pinheiro Machado e Tulio Milman. Além disso, está à frente dos programas Comportamento, exibido semanalmente, e do Falando Abertamente, gravado todos os dias com diferentes convidados. Entusiasmada com o trabalho que faz, ela diz aprender constantemente com as pessoas que entrevista.


Mais do que entretenimento, o Falando Abertamente - aparentemente o xodó de Tânia - tem conseguido prestar serviços à sociedade através dos temas que aborda. Ela conta que, freqüentemente, entidades e universidades solicitam à TVCom fitas com cópias da atração. "Conseguimos provar que um programa de comportamento pode, sim, falar de coisas importantes", declara. Sobre os médicos que entrevista seguidamente, ela revela que, no início, enfrentou resistências, e cita o psicanalista Davi Zimmerman como exemplo: "Levei 30 anos para convencê-lo a ir no meu programa!"


Atrás das câmeras


Apesar do ritmo acelerado, quando está com a família ela esquece do trabalho. O marido, os dois filhos e a neta Marina, de um ano de idade, são suas companhias indispensáveis. Para garantir a convivência, almoça e janta em casa todos os dias e reserva os finais de semana para passeios em Gramado ou Torres. Ainda assim, Tânia conta que sempre tem algum telespectador por perto para perguntar sobre seus programas ou entrevistados. Mas ela não se incomoda, pelo contrário, orgulha-se da audiência que cativou. E não é para menos, aos 63 anos a apresentadora esbanja carisma e beleza.


Em seu tempo livre, gosta de ler e confessa sempre carregar algum livro ou revista na bolsa para momentos de espera. "Tenho medo de não ter nada para ler em uma fila, por exemplo", brinca. Inclusive lançou, pela RBS Publicações, o livro "Refletindo com os meus convidados". Em contrapartida, assiste pouco a televisão, reservando tempo apenas para os programas de que mais gosta, como o Saia Justa, transmitido pela GNT, e as entrevistas feitas por Marília Gabriela. Gosta de vinhos, de frutos do mar, de viajar e é colorada. Só não admite a idéia de eleger preferidos. Afirma não ter um único livro, música ou filme que goste mais. "Gosto de todos ao mesmo tempo", explica.


Dona de uma personalidade vibrante e afetuosa, recebe aos colegas, familiares e amigos da mesma maneira: com um forte abraço. "Comigo nada é morno, faço tudo de maneira apaixonada", expõe. Lamenta apenas não possuir um espírito empreendedor e talento para ganhar dinheiro, o que não chega a ser um problema para ela. Para o futuro profissional, conta ter muitos planos, mas, por enquanto, todos são segredo. "Talvez uma viagem pelas vinícolas da América Latina", arrisca, sem deixar claro o caráter pessoal ou profissional da empreitada.

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