Ema Reginatto Belmonte: Trinta e nove anos de reportagem

A experiente repórter diz estar muito satisfeita com a carreira que construiu e com as amizades que cultivou na Caldas Júnior.

Ema Reginatto Belmonte, 64 anos, completou 39 de reportagem neste mês e garante que não se imagina fazendo outra coisa. Com sua trajetória profissional fortemente ligada à história da Caldas Júnior, ela tem passagens pela Folha da Tarde e Correio do Povo, onde cultivou amizades, vivenciou grandes histórias e atua até hoje, integrando a editoria de Ensino. Contente com a rotina acelerada da redação, ela não faz planos de deixar o jornal e concilia de maneira tranqüila o trabalho e a vida pessoal, esta exclusivamente dedicada à família.


Nascida em Júlio de Castilhos, onde viveu uma infância tranqüila, foi para Porto Alegre aos 15 anos para completar os estudos, já que em sua cidade natal as escolas ofereciam aulas apenas até o Ginásio. Ao chegar à capital gaúcha, instalou-se na casa de uma madrinha e matriculou-se no extinto Colégio Ruy Barbosa para fazer o Científico. Embora a mudança de cidade tenha sido sofrida para a menina vinda do interior, ela logo venceu a timidez e fez novos amigos. Mais tarde, preocupada em conquistar sua estabilidade financeira, freqüentou o curso técnico de Contabilidade do Colégio Protásio Alves e o curso de formação para professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Assim, ainda muito jovem tornou-se professora concursada do governo do Estado, lecionando contabilidade.


Independente e com um bom emprego, ela achou que podia ir mais longe e decidiu prestar vestibular. Foi aprovada na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) em 1965, época em que as mulheres ainda eram minoria nos cursos superiores e no mercado. Optou pelo Jornalismo, profissão pela qual sentia-se fascinada. "Eu adorava assistir às coberturas locais, achava um trabalho importante", relembra. Após sua entrada na Universidade, Ema procurou adequar seu trabalho aos estudos e pediu transferência para a assessoria de imprensa da Secretaria de Educação (SEC). Na época, a graduação em Comunicação tinha duração de três anos e, durante o último ano do curso, surgiu a oportunidade que ela esperava.


A realização de um sonho


A Caldas Júnior havia aberto três vagas para estagiários na Folha da Tarde e, após dois dias de seleção, Ema estava trabalhando na redação do jornal, seu grande sonho. "Foi o Walter Galvani quem deu o impulso para a modernização das redações e criou os estágios na Caldas Júnior", avalia. A partir daí, seus horários ficaram apertados. Pela manhã, trabalhava na assessoria de imprensa da SEC; ao meio-dia, buscava pautas no periódico, à tarde, freqüentava a faculdade e, à noite, escrevia e entregava suas reportagens. "Eu não podia deixar a SEC em função da remuneração", justifica. As outras duas vagas foram ocupadas por Elmar Bones e Jussara Campos.


Ao final do estágio, em 1967, a estudante foi efetivada e tornou-se repórter da Folha da Tarde. Na época, o jornal passava por uma remodelação e ganhava pauteiros e diagramadores. No mesmo ano, ela também concluía a graduação e marcava época: integrava a primeira turma formada pela Faculdade de Comunicação Social da PUC, a Famecos. Antes disso, o curso de Jornalismo pertencia à faculdade de Filosofia. "Estava escrito no convite", ressalta. Sua atuação na Folha da Tarde se estendeu por 12 anos, até 1979, quando uma oportunidade de trabalho oferecida ao seu marido, Jorge Wanir Rossi Belmonte, 68 anos, levou o casal para uma temporada em Brasília.


No Distrito Federal, a repórter não deixou o jornalismo de lado. Passou pela assessoria de imprensa do Ministério da Previdência e pela Empresa Brasileira de Notícias (EBN), hoje Radiobrás. "Adorei a experiência, o mercado para o jornalismo é vasto por lá", assegura. Ela e o marido permaneceram em Brasília até 1982, quando retornaram a Porto Alegre. Na capital gaúcha, ela foi convidada a trabalhar no Palácio Piratini, onde assessorou Dionéia Soares, primeira-dama de Jair Soares, entre 1983 e 1987. Dionéia dedicava-se a causas sociais que envolviam excepcionais e idosos, fator que estimulou ainda mais o trabalho de Ema.


Alguns anos antes de assessorar Dionéia, quando ainda era repórter da Folha da Tarde, ela já havia sido destacada para atuar com outra primeira-dama, Neda Triches, casada com Euclides Triches. Admiradora do trabalho das mulheres de governadores com entidades assistenciais, participou junto com dona Neda da formação do Conselho Estadual de Entidades Femininas, entre 1972 e 1974. "Foi gratificante, eu sentia o meu trabalho útil", justifica. Entretanto, a assessoria nunca conseguiu substituir a reportagem em sua escala de preferências. As atividades ligadas ao setor público ela desempenhou até 1990, quando atuava na Delegacia do Ministério da Educação e se aposentou.


A lembrança mais marcante que ela guarda de sua carreira é a crise vivida pela Caldas Júnior na década de 80. "A empresa era um patrimônio do Estado e o seu fechamento criou um clima de velório", comenta. Quando o Correio do Povo foi reaberto, em 1988, ela foi convidada a retomar o trabalho. Orgulhosa, ela conta ter acompanhado a evolução da imprensa em dois aspectos, o tecnológico e o humano. "Hoje se dá entrevista pelo celular, não tínhamos essas facilidades. Me acostumei a buscar a notícia na fonte. Além disso, as pessoas e seus comportamentos também mudaram", comenta.


Com a casa cheia


Atualmente, Ema é uma das responsáveis pela editoria de Ensino do Correio do Povo. Seus horários no jornal mudaram bastante nos últimos anos e, agora, o ritmo de trabalho é mais calmo. Embora já esteja aposentada, ela aprecia o corre-corre do periódico diário e diz não abrir mão dessa rotina. Seu marido, com quem é casada há 38 anos, a apóia em sua decisão. "Ele sabe o quanto me faz bem continuar atuando como repórter", explica. Embora ela saiba que um dia terá de deixar o jornal, vai protelando sua saída.


Memória viva do Correio do Povo, ela é referência para a pesquisa de nomes, datas, lugares e acontecimentos importantes e, por isso, muito requisitada pelos colegas de redação. Apesar da excelente memória, ela admite que é muito desorganizada e costuma deixar "tudo para a última hora". "Sou organizada dentro da minha desorganização", diverte-se. Em contrapartida, o marido, Jorge Wanir, é metódico e disciplinado. Consenso mesmo só o time de futebol, o Grêmio, pela qual Ema é fanática. Sempre atenta aos jogos, ela acabou contagiando Jorge e o filho Ricardo, 36 anos, que hoje também são torcedores tricolores.


O fanatismo pelo Grêmio ela herdou dos pais, Ricardo (já falecido) e Elita, hoje com 85 anos. Vinda de uma família pequena, ela tem apenas um irmão mais velho, Niuton, 66 anos. Contudo, sua maior alegria é ter a casa cheia de amigos e parentes, desejo que consegue satisfazer com a companhia da família de seu marido, composta por seis irmãos. "Eles foram se casando, tendo filhos, e as reuniões familiares ficaram cada vez mais numerosas e felizes", conta. Entusiasmada, Ema acabou se revelando anfitriã das festas e, sempre que pode, reúne os cunhados e sobrinhos.


Nas férias, o destino da família é a praia de Cidreira, no litoral norte, onde Ema e Jorge veraneiam há 30 anos. Com o tempo, os parentes foram comprando casas bem próximas à dela e, aos finais de semana, todos reúnem-se para as refeições e aniversários. "Acabei comprando o terreno do lado da minha casa, que estava vago, para construir um salão de festas", revela. Ela também adquiriu recentemente um apartamento em Gramado, onde tem se refugiado aos finais de semana. Como não poderia deixar de ser, alguns parentes possuem apartamentos no mesmo prédio.


Ema é dona de uma personalidade muito alegre e afetuosa e descobriu, ao longo da vida, que o segredo do sucesso é estar sempre em alto-astral. Ela chegou a essa conclusão após uma experiência muito dolorosa: a perda de uma filha de dois anos, vítima de leucemia, em 1978. Mas, perseverante como é, não se revoltou. Canalizou todo o amor para uma outra menina, Cristine. "Eu havia contratado uma secretária que passou a morar comigo e tinha uma filha de um ano e oito meses. Eu e o Jorge nos apegamos muito a menina e, hoje, a temos como uma filha", se emociona ao falar. Uma lição de vida para todos, Ema diz estar satisfeita com a vida pessoal e também com a profissional e planeja se dedicar a algum trabalho voluntário depois de deixar o Correio.

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