Erika Kramer: Comunicação aliada à educação e cultura

Em 50 anos de experiência, a trajetória da jornalista, que atuou em rádio, TV e jornal, sempre foi influenciada por estas duas outras áreas

A jornalista Erika Coester Kramer não abre mão de atuar nas áreas com que mais se identifica: educação e cultura. Aos 71 anos, ela tem disposição de sobra e mantém praticamente o mesmo ritmo desde a juventude, trabalhando cerca de dez horas por dia. Trabalhou na televisão em preto e branco, com programas ao vivo, e hoje se utiliza de toda a tecnologia disponível para realizar seus trabalhos. Aposentada, hoje ela é uma das dirigentes da Alternativa Consultoria, que atua nas áreas da Educação, Cultura e de Comunicação. A jornalista ainda integra os Conselhos Fiscais da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e da Fundação Julio de Castilhos, além de ser membro da Associação das ex-bolsistas da Alemanha. "Eu posso dizer que me sinto extremamente realizada", resume.



Lê cinco jornais por dia, assiste ao noticiário e acessa alguns sites de opinião. "Também assisto muito a Deutsche Welle e a BBC, para manter o alemão e o inglês", destaca. Sempre que possível, vai ao cinema. Erika aprecia música clássica e, em literatura, romances e obras que pautem a vida e experiências humanas. Nas horas de folga, prefere estar entre amigos e com a família. É torcedora fiel do Grêmio. Desde menina, sempre gostou muito de animais. Tanto que hoje tem 14 cachorros e 14 gatos. Um dos seus projetos, para o futuro, é fazer uma série de documentários com o título: "Animais, mais que humanos".



Erika se declara protestante, mas ela acredita que Deus é um só. Filha de descendentes de alemães, já esteve nove vezes na Alemanha, tanto a passeio como a trabalho. A primeira foi aos 25 anos e a última, em 2006, na Copa do Mundo. Na década de 60, foi locutora, em alemão, na Cadeia da Legalidade - rede formada por dezenas de emissoras de rádio que exortava a população a se mobilizar em defesa da posse de João Goulart - ao lado de Lauro Hagemann. Na mesma época, fez parte dos movimentos universitários coordenados pela UNE.



Em busca do sonho de estudar



Erika Antoinette Wilhermine Coester Kramer nasceu em Pelotas, em 3 de agosto de 1937. Os pais se conheceram no navio, quando ela vinha de Hamburgo e ele de Berlim. Em 1958, a então datilógrafa mudou-se para Porto Alegre para estudar. Em 1962, ingressou no curso de Jornalismo da Ufrgs. O sonho da jovem que veio do Interior era cursar Medicina, mas como a disputa por uma vaga na universidade era muito difícil, Erika, que gostava muito de ler e escrever, ouviu o conselho de um tio e resolveu optar pelo Jornalismo. "Eu tinha que me sustentar, então não teria como estudar Medicina e trabalhar", explica.



Por muitos anos, integrou o coral da Ufrgs, do qual foi uma das fundadoras. Como era a única aluna do curso de Jornalismo, foi convidada a ser assessora de imprensa do grupo. Esta foi sua primeira experiência profissional na área. Em 1963, a convite do jornalista Godoy Bezerra, coordenou o setor de Imprensa da Universíade, ao lado de Maria Luiza Antunes, Marco Antonio Kraemer, Ione Garcia, Bruno Augê Ferreira, Carlos A. Zanardi, Antonia Fiori, Marta Guimarães, Mariza Kramer e Uriema Chrysostomo, entre outros. Logo, recebeu uma proposta de estágio com Célia Ribeiro, na TV Gaúcha.



"Na época, era uma profissão de alta turbulência", conta a jornalista, que se formou em 31 de março de 1964, no dia do início da Regime Militar. Foi quando o então diretor da TV Piratini, Fernando Costa, convidou-a para assumir a coordenação da programação vespertina da emissora com o programa Sempre a Mulher. "Foi uma experiência fantástica, mas profissionalmente foi terrível, pois eu não sabia nada de televisão", confessa. Na oportunidade, conviveu com profissionais como Enio Rockenbach, Terezinha Segala, Augusto Dalvit, Batista Filho, Ronald Pinto e Paulo Gasparotto, entre outros.



Os primórdios da educação à distância



Junto com um grupo de renomados educadores e lideranças políticas, como Zilah Mattos Totta, Marta Blaut Menezes, Jorge Alberto Furtado, Francisco M. Carrion, Ana Iris do Amaral, Frederico Lamaquia Filho, Golástica A. Comparsi, Homero Ribeiro, Nilo Ruschel e Nelson Marchezan, entre outros, foi uma das fundadoras, em 1967, da Fundação Educacional Padre Landell de Moura (Feplam).



"Lá, eu fui jornalista, redatora, apresentadora e, acima de tudo, tive que aprender a ser administradora", conta Erika. Na década de 70, participou de eventos nas principais Escolas Radiofônicas da América Latina, integrando também a Associação Brasileira de Tecnologia Educacional, com sede no Rio de Janeiro. Em 1978, concluiu o Mestrado em Educação na Ufrgs.



Permeando educação e comunicação



Em 1961, através de concurso público, assumiu a secretaria do Colégio Padre Reus. Neste mesmo período, foi presidente da Associação dos Secretários de Escolas do Rio Grande do Sul. Cinco anos depois, deixou a presidência para Heitor Borges Kramer, com quem se casou em 1969. "Ele foi meu companheiro, meu amigo, meu cúmplice até 2005", descreve Erika. Juntos, eles tiveram dois filhos: a jornalista Maria Cecília, 33 anos (a Ciça, do reloginho do prpgrama de TV Anonimus Gourmet), e o administrador de empresas Bernardo Kramer, 30.



Em 1972, novamente através de concurso público, ingressou no quadro de jornalistas da Secretaria de Educação do Estado, cedida para a Feplam. A instituição de ensino, onde atuou durante 28 anos na direção-executiva, representou uma síntese da sua vivência profissional, aliando a Educação, por ter trabalhado na administração escolar, à Comunicação, pela sua formação acadêmica.



Entre todos os trabalhos que desenvolveu, destaca a direção da Rádio Educadora, de 1985 a 1995, como um dos mais significativos. "Conseguimos fazer a famosa programação segmentada, que todo mundo, na época, achava que era besteira, que tinha que ser uma coisa só", conta.



Do videotape à era digital



Com passagens por TV, rádio e jornal  - estagiou no Diário de Notícias - , a profissional, que começou trabalhando com videotape, acompanhou a evolução dos meios de comunicação. Hoje, ela reconhece que a Internet é uma ferramenta de trabalho indispensável. "É uma graça conseguir conviver com todas estas diferentes tecnologias".



Na Alternativa Consultoria, criada há 13 anos, Erika conta com a colaboração de profissionais como Luis Thomé, Anaide Salvador, Renato Bohusch, Enio Rockenbach, Leah Ziegler, Juracy Pinto, Odila Urusola, Mário José, Carlos Ferrugem, Ivan Dorneles, Carlos Fernando da Silva, Maria Luiza Antunes, Mariza Silva, Cleonir Bassani, Erminda Miragem, Bonifácio Bróbio, Péricles Mineiro Daniel, Bibiana Nunes, entre outros.



Atualmente, a empresa desenvolve seis projetos culturais na região do Alto Jacuí. Neste ano, concluiu o documentário sobre os 133 anos da colonização Italiana e o acervo sobre a história do rádio e da TV no Rio Grande do Sul. São da Alternativa os cursos produzidos, em contrato com a RBS e com veiculação diária pelo Canal Futura, o Futura Profissão. A TVE e TVA também têm exibido suas produções, entre elas o Cultura Rural e Marketing Político. Em conjunto com o Consulado da Espanha e a Fundação Vale Veneto, a empresa assessora tecnicamente a III Missão de Comunicadores à Espanha, prevista para janeiro de 2009.



Reconhecimento merecido



"Eu sempre gostei de fazer homenagens", conta. Agora, chegou a sua vez de receber merecido conhecimento. A jornalista receberá, da Câmara de Vereadores da Capital, o título de Cidadã Porto-alegrense. "É a primeira homenagem que eu recebo com 50 anos de profissão", diz Erika, feliz com a lembrança de seu nome, o que considera, também, uma forma de condecorar a categoria. "Uma profissional que sempre teve a grande felicidade de trabalhar com grandes personalidades", destaca. Entre os seus grandes gurus, na área de comunicação, a jornalista menciona, em especial, Lauro Hagemann e Enio Rockenbach.



"Este é um momento de reflexão para mim. Apesar de 71 anos, peço a Deus que me conserve a saúde que eu sempre tive e que me dê, pelo menos, mais uns oito ou nove anos para que eu possa contribuir com trabalho nesta área de educação e comunicação, que é a minha vocação", exprime. Sua filosofia pode ser definida com uma frase de Albert Schweitzer: "quem não vive pra servir, não serve pra viver".



Sobre o futuro da comunicação, é enfática: "Desejo que o conteúdo seja o principal de todos os processos de comunicação. Precisamos de conteúdos educativos, que tenham valores e dignifiquem a pessoa."


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