Hiltor Mombach: Capitão dos esportes

Com mais de trinta anos de Correio do Povo, quatro Copas e cinco Olimpíadas no currículo, o jornalista se diz feliz na profissão

É em meio aos ruídos de uma redação em plena atividade que o jornalista e editor de Esportes do Correio do Povo, Hiltor Paulo Mombach, recorda os mais de 30 anos de dedicação ao jornal. Por trás dos olhos azuis, e da voz grave, que bem poderia ser a de um locutor, vão surgindo histórias inusitadas de quem já cobriu quatro Copas do Mundo e cinco Olimpíadas, além de Pan-americanos e incontáveis jogos de futebol.

O quarto filho de Carlos Daril Mombach e Maria Nilda Lermann Mombach nasceu em Erechim no dia 17 de junho de 1953, e sempre foi um apaixonado por futebol. Da infância, lembra de quando ainda jogava futebol no campo da Baixada nos finais de tarde, com os colegas de aula do Colégio Santo Antônio. O local ficava próximo ao hotel em que o pai era dono, no interior do Rio Grande do Sul, em Garibaldi, e onde Hiltor passou a infância com os seis irmãos. Nos finais de semana, os jogos passavam para o campo dos Maristas, que era mais longe da residência.

Com os irmãos a convivência sempre foi muito boa, porém, a diferença de idade fez com que convivesse pouco com eles, já que os mais velhos vieram morar em Porto Alegre, para estudar e cuidar dos bares que a família tem na Capital. E para onde Hiltor também viria prestar vestibular e se formar em Jornalismo, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em 1979.

Ainda menino, com apenas 15 anos, Hiltor fez um concurso na Rádio Difusora Garibaldi e passou. Foi trabalhar como locutor, apresentando o Show Musical U47, um programa musical diário, das 14h às 17h, em que lia cartas de ouvintes do interior da cidade e atendia aos pedidos musicais. Nas férias dos outros locutores, fazia programas matinais de músicas sertanejas e apresentava os noticiários. "Este foi o berço da minha trajetória", confessa.

Nesta época a família estava adquirindo alguns bares em Porto Alegre e por isto, o rapaz, que agora já estava com pouco mais de 16 anos, teve que se mudar e acabou deixando o trabalho na rádio. No começo, trabalhava em um dos bares e estudava no Colégio Champagnat. Incentivado a cursar jornalismo, pelo professor Aureliano Hernandes, então diretor do colégio, que conseguiu ver além da dificuldade do menino com os números, a sua desinibição e habilidade com a voz, se tornou locutor oficial do Champagnat e prestou vestibular para Jornalismo.
Jornalismo como bênção

Já no primeiro ano de faculdade foi convidado pelo professor Aníbal Bendati para produzir matérias para uma revista que seria vendida no interior do Estado. Dois meses depois, o mestre informou que existia uma vaga na Folha da Tarde. Um dos editores na época era Francisco Vitorino, que o convidou para cobrir o Campeonato Praiano, no verão de 1975, um trabalho temporário para cobrir férias de repórteres. Seu desempenho foi tão bom que acabou sendo efetivado, permanecendo na Folha até ser convidado pelo secretário de Redação do Correio do Povo, Edegar Lisboa, que foi lhe procurar para trabalhar no jornal, dizendo ter sido indicação de Breno Caldas, que ficara impressionado com suas coberturas de iatismo.

No Correio do Povo, o jornalista permaneceu até o jornal fechar por dois anos, de 1984 a 1986, período em que foi convidado, também por Breno Caldas, a trabalhar na TV Guaíba. "Foi o jornalismo que me encontrou, e esta foi uma bênção que recebi, por isto não me vejo exercendo outra atividade, senão a que eu exerço, principalmente no jornal", declara.

Quando Renato Ribeiro adquiriu a empresa, em meados de 1986, Hiltor foi convidado a retornar ao jornal, onde permanece até hoje. "A volta do Correio do Povo foi festejada por toda a população gaúcha e por mim em especial, pois foi a oportunidade que tive de voltar para um lugar que eu amava". Na época, ficou difícil conciliar o trabalho na TV com as atividades no jornal, o que levou o jornalista a optar por atuar apenas no Correio do Povo, e lá se vão mais de 30 anos.

Atualmente, Hiltor divide sua rotina entre o programa Ganhando o Jogo, na Rádio Guaíba, a edição do Caderno de Esportes do jornal, o blog que mantém no site do Correio do Povo, que atualiza cerca de três vezes por dia, e a coluna que tem no jornal. "O Correio sempre foi a minha casa, então estando aqui, ou na minha residência, dá no mesmo. Sinto-me bem, e sou feliz nesta redação", confessa. Gosta tanto que adora também atuar como multimídia. Na última Olimpíada, em 2008, na China, acabou levando um celular com uma câmera de boa qualidade, no qual acabou fazendo as fotos para as suas matérias. "Ou nós nos adaptamos, ou a profissão acaba nos atropelando", diz.
Entre casos e acasos

Com tantos anos de redação, histórias inusitadas é que não faltam para contar, como o dia em que saiu do jornal às sete da manhã após acompanhar o julgamento de um caso de doping no Internacional. Com o resultado na mão e a matéria pronta, o jornal rodou naquele horário mesmo e foi distribuído pelas bancas do centro da Capital.

Outro caso marcante foi o do acidente de ônibus com os integrantes da equipe do Brasil de Pelotas, que completou um ano em janeiro. Hiltor recorda que foram realizadas quatro edições para o jornal, a última às 4h30min. "Nós ficamos tão envolvidos com o trabalho, com a produção da notícia que não nos importamos se saímos às 23h ou às 5h da manhã, parece que o tempo voa", aponta.

Em 1996, nas Olimpíadas de Los Angeles, o então repórter estava cobrindo o evento quando uma bactéria acabou infectando uma de suas pernas e por isto teve que ser hospitalizado. Mal sabia o jornalista que em plena recuperação iria cobrir um atentado. No dia em que entrou no hospital escreveu em sua coluna sobre a falta de segurança no Centennial Park, e registrou que um dia alguém colocaria uma bomba no parque, uma vez que não havia vistorias para entrar no local.

Quando estava sendo medicado, uma das enfermeiras entrou no quarto e levou sua maca para o elevador. Hiltor perguntou o que estava acontecendo e soube que seria removido para o 5º andar. No térreo a equipe médica atenderia os cerca de 150 feridos de um atentado a bomba no Centennial Park, que estavam sendo conduzidos para o hospital. Naquele momento, a dor que sentia passou e o repórter começou a transmitir boletins da 1h até as 7h na programação da Rádio Guaíba, com informações exclusivas direto do hospital. "Eu estava no local em que todo jornalista gostaria de estar naquele momento", afirma.
Um capitão na cozinha

Casado há 23 anos com a advogada Judith Martins Costa, conta que conheceu a atual esposa ao som dos Beatles no Pub Sargent Peppers, em Porto Alegre. E declara-se apaixonado: "Se eu viver mais 23 anos, é com ela que irei ficar". E revela-se um paizão de seus três meninos, o estudante de Física Carlos Daril, de 25 anos, fruto de seu primeiro casamento, Matheus, que está com 16, e Lucas, de 4.

Aos sábados, que é quando está de folga do jornal, costuma ter algumas "obrigações" em casa. A primeira é fazer as compras no supermercado pela manhã, à tarde vai ao cinema com a esposa e à noite envolve-se com a preparação do churrasco para a garotada, que é o que completa um dia inteiro de união familiar.

Ao som de um bom tango, que é mais uma de suas paixões, começa a preparar às 17h o churrasco, desde a salada de maionese até o pudim que é servido como sobremesa. "Os meninos ficam na volta perguntando o que já está pronto e é nesta exigência, de eu ser o cozinheiro, que está o prazer de desenvolver todos os finais de semana o mesmo ritual". O caçula é o que está sempre na volta ajudando a salgar a carne e controlar o fogo. "Ele costuma me chamar de capitão neste momento, e quando está tudo pronto, diz com orgulho que ajudou o pai a fazer o churrasco".

As idas ao cinema são outros momentos de prazer para ele, que é eclético e gosta de todos os tipos filmes. É comum vê-lo com o filho Matheus nas sessões da meia-noite às sextas-feiras, após encerrar as atividades no jornal. Já as leituras são focadas na história romana e na filosofia, o que acaba sendo motivo de piada entre os filhos, que não entendem a paixão do pai pela história de Roma.

Há cerca de uns dez anos deixou de ser sedentário e pratica exercícios na academia, quatro vezes na semana. Tudo pensando em permanecer lúcido e com saúde, assim como o pai, que vai fazer 86 anos, e a mãe, que tem 84 anos, e, segundo ele, estão muito bem. "Faço tudo isto por mim, mas pensando muito nos meus filhos também, pois filho é algo que te dá uma consciência nova. Ainda mais eu, agora, com um filho de 4 anos e eu com quase 60 anos. Tenho que me cuidar, para permanecer mais tempo com eles."
Daqui pra frente?

Para a próxima década, Hiltor diz que se vê fazendo a mesma coisa que faz hoje, porém acrescentando mais alguma tecnologia que deve surgir com o tempo. "A profissão de jornalista permite que você trabalhe aos 60, 70 anos. O Moura (referindo-se ao colega, jornalista Paulo Moura), é a prova disto, vai fazer 80 anos e está aqui. E se perguntares para ele onde estará nos próximos anos, ele irá responder: 'No Correio do Povo', até porque eu não deixarei ele sair", risos.

Hiltor enfatiza que toda sua trajetória de sucesso na profissão está atrelada às equipes com as quais trabalhou, pois "no jornalismo ninguém faz nada sozinho", explica. Se já está se sente realizado? A resposta é não, pois tem certeza que ainda irá cursar as faculdades de História e de Filosofia, para enfim se sentir plenamente satisfeito. "Só estou dando um tempo, mas ainda não irei parar", confessa.
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