Dudu Vanoni: Vivendo a Propaganda

Publicitário se diz realizado com a profissão, mas confessa que prefere uma vida mais simples

Por Márcia Farias
Dividido entre a loucura que é trabalhar com propaganda e o gosto pela vida simples e pacata, Eduardo Antonio Vanoni inicia a conversa deixando claro que gosta de ser chamado de Dudu Vanoni. É notável a realização em ser publicitário e a intensidade com que vive a profissão. Por conta disso, quase não dá para acreditar quando conta que começou a vida acadêmica cursando Engenharia Civil. A mudança de faculdade não demorou muito para aparecer e a preferência por Publicidade ele atribui a um presente que ganhou do pai, na infância: uma câmera Super-8. "Eu brincava de fazer filmes e já usava muito minha criatividade", explica.

Solteirão aos 43 anos, diz que se sente uma pessoa realizada e que nem cogita pensar no futuro. Acredita que 'a Deus pertence' e garante que a vida está ótima assim, que não almeja nada pessoal neste momento. Se imaginar daqui a 10 anos, então, nem pensar. Mesmo apaixonado pela Publicidade, Dudu acha que Arquitetura, Design, Gastronomia e DJ seriam funções que ele desempenharia, no mínimo, muito bem.

Colorado convicto, também conta que gosta muito de esportes, música, literatura e cinema e que estar entre amigos é o melhor programa. Diz ainda que eles estão no mesmo patamar que sua família. Esta, aliás, é grande, mas não pelos irmãos, que são apenas dois (o veterinário Marco Antônio e o engenheiro mecânico Paulo Renato), mas pelos sobrinhos, que são 10. "No Natal, vou à falência", brinca. Estar com eles é um de seus maiores prazeres, como, por exemplo, nos tradicionais almoços de sábado, em que a turma toda se reúne na casa dos pais, o industrial Antonio Vitório Vanoni e a dona de casa Vera de Carvalho Vanoni.
O que é a propaganda

Como já era esperado, ao falar pontualmente sobre a profissão escolhida, ele dispara: "Eu vivo a Propaganda. Tudo me inspira". Apesar da realização na carreira, Dudu também confessa que tem situações nem tão boas, como, por exemplo, trabalhar com situações de preguiça, e pessimismo, ou com um briefing ruim. Para ele, porém, tudo isso não supera a gratificação de criar e ver seus trabalhos nas ruas.

O que uma campanha precisa ter para ser considerada muito boa? A resposta é feita de apenas uma palavra: ideia. "Algo que as pessoas olhem, leiam ou ouçam e pensem 'nossa, que bacana'. Surpreender e fazer a diferença são primordiais em qualquer criação." Sobre os trabalhos, destaca as contas da Paquetá e da Pizza Hut como especiais, pois nelas houve muito envolvimento e ele pôde imprimir um pouco dele mesmo nas ações. O orgulho de ganhar prêmios é sempre bom, mas para Dudu é secundário. Acredita que eles são importantes, sim, especialmente para mostrar a qualidade dos trabalhos e revelar novos talentos, mas não são decisivos nas carreiras. "Eu não morreria por este tipo de reconhecimento. Conquistar novos clientes ou aprovar trabalhos com eles é tão importante quanto premiações."

Para quem começa no mercado da propaganda, o recado é um só: tem que ter paixão pelo que faz. Aliás, ele não sabe por que dizem que é tão glamoroso trabalhar no setor de criação, já que, na sua visão, é a área que mais trabalha. "Em qualquer atividade o olho tem que brilhar. Tem que querer muito, porque é muito trabalho", conclui, para em seguida amenizar dizendo que é muito bom poder se reinventar na profissão.
Caminhos

Com experiência em Porto Alegre, São Paulo, Alemanha e Londres, Dudu já trabalhou em diversas agências. Por aqui, acumula passagem pela Standard, Escala, Norton, Competence, Core, SLM, entre outras. Na capital paulista, atuou como freelancer para algumas marcas. Já no exterior, pôde estagiar na Sat Insat, em Munique, e na Bosel, em Londres, o que totalizou oito meses longe de casa.

Mas nem só de agência vive um publicitário. Enquanto ainda era estudante, iniciou no mercado de trabalho com o jornalista Clóvis Duarte, no programa Câmera 2, da extinta TV Guaíba. Sobre a experiência ele só tem boas recordações: "Foi muito legal trabalhar com produção, falar com as fontes e editar os programas". Não se contentando com tantas experiências, ele sempre quis mais. Montou sua própria empresa, a DVP - Dudu Vanoni Propaganda, que durou dois anos até ser incorporada pela e21, onde atua como diretor de Criação do núcleo de Moda.

A caminhada o fez conhecer diversas pessoas do mercado, muitas delas que até hoje o chamam de Coração - mesmo sem saber o motivo, ele não se importa com o carinho, apesar de 'pagar micos' quando o apelido é lembrado em público. Alguns nomes são lembrados e registrados como influentes em sua trajetória: Telmo Ramos e Calos Canto, por terem sido pessoas decisivas no início da carreira; Roberto Callage, pela maneira de fazer propaganda; Luciano Vignolli, por ter aprendido a admirá-lo; e Eugênio Mohallem, pela redação considerada incrível.
Sem parar

Novos desafios sempre nortearam a carreira de Dudu, que conta ter se reinventado para trabalhar com Moda. Ele diz que o setor tem 'uma outra pegada', que é diferente da propaganda convencional e que teve que se adaptar à nova maneira. "Moda exige que a campanha diga tudo através de uma única foto, nela tem que transmitir todo um conceito. Nestes casos, a imagem é muito valorizada", explica.

Dentre as lembranças, destaca ter feito propaganda para órgãos governamentais - secretarias, ministérios e federações, por exemplo. Para vencer esta etapa teve que trabalhar com uma redação diferente, uma preocupação com a questão ideológica e um cuidado muito maior. E não para por aqui. Há pouco, sentiu-se no ápice da carreira, ao ir para Los Angeles trabalhar com o fotógrafo americano Steven Klein, na última campanha da Colcci. "Cuidar tão de perto de toda a produção, que tem a modelo Alessandra Ambrósio e o ator americano Ashton Kutcher como estrelas, foi uma honra."

Acabou? Não. Dudu também foi radialista. Certo dia resolveu 'brincar de ser DJ' em uma festa em que o diretor da Rádio Ipanema, do Grupo Bandeirantes, Eduardo Santos, estava presente e gostou do que ouviu. Solicitou que o publicitário pensasse em algo para colocar no ar. Foi aí que nasceu o programa Calmaria, que era transmitido aos domingos pela manhã, com duas horas de duração. A atração ficou no ar por cinco anos e chegou a ser líder de audiência de toda a rádio.
Do que ele gosta

Cheio de manias, quase portador de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), é assim que se define ao falar de si mesmo. Suas roupas são dobradas todas do mesmo tamanho e por ordem de cor, do preto até o branco. Isto se repete nas gavetas, nas prateleiras e nos cabides. Além disso, gosta de lustrar os próprios sapatos e de lavar louça. Também tem o que não gosta, como as plantas, por exemplo. "Já tentei, mas não me dou bem com elas. Ou morrem afogadas, ou secas. Já com animais, estou num processo de querer ter um cachorro."

Tomar café da manhã em padaria, seja em uma mais bacana ou mais simples, está na lista de prazeres do publicitário. Café preto com um pão farroupilha o deixam bem para começar o dia. Após o expediente, gosta de ir na academia, visitar a família ou ir no cinema. Estar com os amigos ou com a família, cozinhar, ir para a praia e ler também lhe fazem muito bem.

Música é o que embala a sua vida, mas não tem preferência específica, e ouve desde Frank Sinatra até uma Bossa Nova, passando por eletrônica. "Cada momento pede a sua trilha, e num mesmo dia pode-se ter diversos momentos", pondera. Cozinhar é uma das melhores atividades de lazer, e no cardápio preferido entram frutos do mar, polenta e bacalhau, de preferência feitos por ele mesmo, pois adora sua própria comida e tempero.

Viajar também entra na lista de prazeres. Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Nova Iorque e Punta Del Leste foram lugares que deixaram boas recordações. Mas o local inesquecível é Roma, pelo simples fato de ter pisado onde viveram muitos ancestrais.
Na intimidade

Ao olhar para si mesmo, Dudu reconhece que é uma pessoa muito exigente. "Eu me ponho muito à prova. Exijo de mim e da minha equipe", diz, para em seguida ponderar que não é nenhum tipo de carrasco, apenas tem um 'olho clínico', sempre acha algo errado e acredita que a diferença está justamente nos detalhes. Por outro lado, não tem dúvida que suas principais características são sinceridade e transparência. "Não sei mentir. Às vezes está escrito na minha testa o que estou sentindo", conta.

Ele se autodefine assim: "Dudu lembra padrão e não patrão". A frase explica o fato de ser extremamente detalhista e perfeccionista. Quando está longe do trabalho se define diferente: "O Dudu é um jovem senhor com uma jovem criança dentro de si". Ele diz isso ao mesmo tempo em que lembra da infância, que foi repleta de brincadeiras. A mãe, por exemplo, diz até hoje que nunca pôde ter jardim, já que ele e seus amigos destruíam-no o tempo todo. Deste tempo, diz que conserva os amigos até hoje e que suas maiores heranças são a honestidade do pai e a energia da mãe.

Outra característica que detalha é ser ligado às novidades tecnológicas e redes sociais, mas faz um alerta: "São ferramentas e facilidades que me ajudam, mas não sou refém delas. Meu mundo não acaba se eu não atendo um telefonema ou não vejo meus emails". Ao encerrar a conversa, ele se resume como um 'cara intenso'. "Vivo de momentos."
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