Guga Ketzer: Em busca do melhor

Publicitário que deixou Porto Alegre há 14 anos conta as experiências que a capital paulista tem proporcionado

Por Márcia Farias
A tranquilidade com que fala e leva a vida, em alguns momentos, não condiz com a criatividade de Guga Ketzer. Ao contrário de muitos colegas de profissão, o publicitário canaliza sua energia exclusivamente para o trabalho. Longe dele, prefere o sossego da própria casa. "Sou muito vagabundo, gosto da preguiça e da certeza de não ter absolutamente nada para fazer", afirma, reforçando que não é o tipo de pessoa que produz o tempo todo. Gosta de ficar em casa com a esposa, Fabiana: "Não preciso da propaganda para viver ou curtir a vida."
Apesar da formação ter sido em Jornalismo, foi na Publicidade que traçou a carreira. "Na academia, o Jornalismo é muito esquemático. Acabei preferindo a liberdade da propaganda", revela, lembrando o início da carreira na Escala. A agência, aliás, foi uma grande escola que, ao mesmo tempo em que ensinava, permitia que se divertisse. Orientado pelo diretor de Criação da agência, Guga conta que Eduardo Axelrud sempre permitiu ser quem ele era e o incentivava a isso. "Se a Famecos foi o lugar que me levou a escolher a propaganda, a Escala foi onde aprendi a gostar dela no dia a dia", analisa.
Cara, coragem e um portfólio
Há 14 anos, Guga tomou uma decisão que considera o passo decisivo na carreira. Após definir que era com Propaganda que queria trabalhar, percebeu que precisava estar "no centro de onde tudo acontece", ou seja, São Paulo.  Aos 23 anos, pegou seu portfólio e colocou o pé no mundo para mostrar seu trabalho. Na capital paulista, encontrou na Loducca uma porta aberta e lá se mantém há 12 anos, tendo um intervalo de apenas sete meses na agência Talent. Hoje como sócio, ele se considera "um cara fiel", tanto que sua trajetória profissional é baseada em somente duas agências. Antes de fazer parte do quadro societário da Loducca, cargo que alcançou em 2007, atuou como redator e diretor de Criação.
Foi na atual agência que encontrou a principal referência profissional: Celso Loducca. Guga explica a relação com muito carinho, dizendo que a dupla se fala sem precisar usar as palavras: "Ele é um mestre". A definição gerou até uma brincadeira entre os, hoje, sócios: "Costumo chamá-lo de Yoda - um mestre Jedai."
Estar no ápice da carreira? "Nem pensar", enfatiza Guga. Prefere dizer que ainda há muito para ser feito: "Se estiver no ápice com 30 e poucos anos, para onde vou depois? A tendência é descer? Não, nada disso. Estou longe dele." O momento profissional é definido como uma troca, pois quer continuar construindo não apenas a própria carreira, mas ajudar na construção dos outros.
O melhor Guga
Sem planejamento. Esta talvez seja a frase que resume a forma como o publicitário leva a vida. Não tem medo do que está por vir e não almeja grandes conquistas. Ele explica: "Tenho um pouco de 'deixar levar'. Acho que quando as coisas são mais naturais se tornam mais interessantes". Mesmo sem ter ideia de quem será o Guga daqui a 10 anos, garante viver dentro dos princípios nos quais acredita e se adaptar aos ambientes que frequenta, sem nunca deixar de ser quem é. "Não tenho lema de vida, pois acho que hoje posso ter um e amanhã outro. Talvez minha única premissa seja a eterna busca pelo melhor Guga", explica, para em seguida completar analisando-se como alguém que não se leva muito a sério, pois gosta de viver com leveza.
O jeitão simples também é demonstrado quando fala de elogios e reconhecimentos. Mesmo com alguns prêmios conquistados e tendo atuado como presidente do júri do Festival Mundial de Publicidade 2011, não gosta do glamour que a profissão, às vezes, oferece. Ele diz que tem dificuldades em lidar com elogios, pois os considera "perigosos e capazes de tirar os pés do chão". "Prefiro reparar em gestos e atitudes de pessoas que sei que gostam de mim e se preocupam comigo. Isso é mais marcante do que um elogio." Por outro lado, gosta das críticas e tenta absorvê-las quando surgem. Sobre isso, é enfático: "Eu sou o meu maior crítico".
Cinema e televisão são os únicos meios que poderiam tirar Guga da Propaganda, pois não se enxerga mais em outra área que não seja ligada à Comunicação. Além disso, acredita que ter cursado Jornalismo o ajudou em dois aspectos: boa redação e poder de síntese.
A vida de um preguiçoso
O caçula do fazendeiro Júlio e da professora Solange, pró-reitora da Pucrs, acredita que família seja uma base. Para ele, a combinação de família com amigos auxilia muito na formação do caráter e na forma de se relacionar com as pessoas. E diz mais: "Pensando nisso, só tenho a agradecer à família que tenho". Mesmo sem planos de voltar para Porto Alegre, Guga vê a Capital gaúcha como sinônimo de família. "Não me considero paulista, mas lá foi o lugar que escolhi para viver", simplifica.
Colorado, mesmo morando em São Paulo, ele diz que não é possível torcer para dois times, e, de longe, continua vendo jogos, ficando tenso e acompanhando o Inter como sempre fez. A distância do time é até boa: "Gosto de manter uma distância saudável do fanatismo", brinca.
Outro prazer para o publicitário que se diz preguiçoso é a leitura. Mas não é qualquer uma que lhe agrada, a preferência é por biografias. No momento, o livro de cabeceira é Conversations with Myself, com as cartas que Mandela escreveu no presídio. O gosto pelo gênero vem da curiosidade que Guga revela ter pelo ser humano. "Talvez por isso eu seja publicitário, pois uma das maiores características do criativo é ser sensível às pessoas, pois produz para elas. Gosto de saber a verdade por trás daquela 'persona'", explica.
Na música, as opções são maiores, e apesar de não dizer que gosta de tudo - apenas de "muita coisa" -, esclarece que a tendência é sempre mais voltada ao rock. Já em cinema, a gama é maior ainda: "Vejo desde o pior blockbuster, dito pelos críticos como péssimo, até um filme mais cabeça. Apesar de não ser muito fã deste último, pois enxergo a sétima arte como diversão, como entretenimento. Por exemplo, não sou o tipo de cara que vai ver um filme iraniano", brinca.
Presente da Loducca
Ter batido na porta da Loducca há 14 anos rendeu mais do que uma chance profissional: valeu um casamento que dura oito anos. Guga e Fabiana foram colegas de trabalho na agência. A relação com a designer de joias, segundo conta, começou de forma muito discreta, algo que se mantém até hoje. Ele explica que o casamento foi estabelecido da seguinte forma: "Temos algo forte e muito fechado. Uma cumplicidade gostosa e saudável".
Falar da esposa, aliás, não parece tarefa difícil. "A Fabiana é muito especial. Acho a vida de casal muito difícil por inúmeras diferenças que se tem, mas a nossa relação de comprometimento e entrega um com o outro é muito aberta. Ela me dá um lado da vida que eu não tenho e vice-versa. Somos dois sonhadores e por isso nos ajudamos a manter os pés no chão." O hobby do casal, além de ficar em casa descansando, inclui outra dupla: o Geraldo e a Vitória, os bulldogs da família.
O casal tem mais uma preferência em comum, as viagens. Mas nada de lugares convencionais. A lua de mel, por exemplo, foi desfrutada no Butão, um reino pequeno e fechado no Himalaia. "Queríamos fugir do mundo e conseguimos. Foi muito interessante, tanto que ela voltou budista de lá." Surfista, Guga também destaca o Havaí como um dos lugares preferidos. Além da magia que a ilha oferece, o melhor foi ver o tamanho e a força das ondas, pois o fez perceber que a natureza é muito mais potente que o ser humano. Próxima parada? Como era de esperar, ele não planeja: "O mundo é muito grande".
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