José Aveline Neto: Na marca do Goool

Criador e diretor da revista Goool, há 30 anos, José Aveline Neto resiste às dificuldades econômicas do mercado editorial

A trajetória de José Aveline Neto se confunde, muitas vezes, com a história da revista Goool, da qual é fundador e diretor.  Não é para menos, afinal, ele dedicou praticamente metade de sua vida à publicação, que, em 2013, completará 30 anos. Teve passagens por outros veículos de comunicação, como as revistas Programa e Abril Cultural, sempre prestando serviços de comercialização de publicidade. Foi com a criação do impresso que encontrou aquilo que, apesar de paradoxal, chama de sua maior realização: difundir cultura. "Esse é o objetivo da editora. É o que me realiza, me deixa bem com o dia a dia, e me faz dormir tranquilo", garante.
Filho do falecido jornalista João Baptista Aveline e da dona de casa Asdilla Seixas Aveline, buscou seguir os passos do pai nos aspectos pessoais e profissionais. Sem formação universitária na área, cresceu convivendo com o amor do pai pela profissão, experiência que foi para ele fonte de inspiração. "Ele foi uma pessoa que me inspirou muito pelo dinamismo, condição ideológica e carisma pelo Jornalismo. Tudo isso me fortaleceu e me incentivou muito".
Começando a publicar
Apreciador dos esportes, Aveline se sentia incomodado frente à falta de espaço oferecido pela revista Placar aos times do Estado, Grêmio e Internacional. A inquietação diante desse fato foi o que o levou a criar a Goool, que foi às ruas pela primeira vez em 1983. O número um, dedicado ao jogador ponta-direita Valdomiro Vaz Franco - que jogou na Seleção e conquistou títulos pelo Inter na década de 1970 -, teve tiragem de cinco mil exemplares e se esgotou em dois dias. O resultado chamou a atenção e o fez permanecer no mercado editorial.
Para produzir a edição de estreia, lembra que percorreu as redações de veículos de comunicação, captando depoimentos sobre o jogador, o que ajudou a estreitar o relacionamento com profissionais da área. Grande parte do mérito por manter a revista durante tanto tempo ele atribui ao fato de cultivar uma boa relação com os colegas, não só o jornalista mais conceituado como o de qualquer escalão em uma redação.  "Das publicações que surgiram, ao longo desses anos, a maioria sucumbiu e, diante de um contexto monopolizado, acredito que ter o apoio desses profissionais foi muito importante", ele diz.
Desse período, destaca como grandes realizações a publicação de edições especiais que retrataram a conquista dos títulos mundiais e os centenários do Grêmio e do Inter, assim como as Copas do Mundo de 1994 e 2002, nas quais a Seleção brasileira consagrou-se campeã. Outro motivo de orgulho é o Prêmio de Jornalismo da Associação Rio-grandense de Imprensa (ARI), recebido em 2009, que reconhece a contribuição da revista para o esporte.
O ídolo virou réu
Motivo de muita alegria, também foi a trabalho para a Goool que viveu sua maior decepção. Em 2002, durante a cobertura da Copa do Mundo do Japão e Coreia do Sul, uma câmera fotográfica lhe foi retirada e quebrada por seguranças do então jogador Ronaldo Nazário, em uma boate. Lembra que, na ocasião, havia recebido autorização de Ronaldinho Gaúcho para fotos e era dele que fazia imagens. O "fenômeno" que, segundo Aveline, estava com cinco mulheres e aparentemente alcoolizado, em período de concentração, deduziu que as fotos fossem dele. "Ele era um sujeito pelo qual eu tinha grande apreço e carinho pelo futebol que ele desenvolveu na sua carreira", revela.
O episódio resultou na abertura de um processo, no qual, em primeira instância, a justiça entendeu como procedente o pedido de indenização. Ambas as partes envolvidas recorreram da decisão e a ação segue em tramitação. Conforme o jornalista, em reportagens da época, anexas ao processo, Ronaldo confirma os acontecimentos, o que pode ser interpretado como uma confissão de culpa. Mas ele, Aveline, ficou chateado porque alguns colegas do eixo Rio-São Paulo fizeram conceito errado sobre ele.
Alguns gostos e um segredo
Apesar de tantos anos editando a Goool, Aveline afirma que nunca acumulou patrimônio líquido, no entanto, garante que viveu bons momentos. À frente da publicação, pôde viajar a cinco continentes, realizando coberturas de Copas do Mundo e outros campeonatos. Viajar, aliás, é uma das atividades que mais aprecia. Sempre que pode, parte com a família para estados como Santa Catarina, Rio de Janeiro, Bahia. Para a próxima viagem, os preparativos já estão encaminhados. Será entre outubro e novembro, para o Amazonas, onde quer ter a oportunidade de fazer uma excursão pela Floresta Amazônica. "Gosto muito de animais, do verde, da vida selvagem. Além disso, é um dos poucos estados brasileiros que ainda não conheci", explica.
No cotidiano, os momentos de lazer são recheados de leitura. "Estou sempre lendo alguma coisa. Minha esposa até me questiona se eu não vou acompanhar as notícias quando estivermos no meio da Amazônia", brinca. Estar em estádios de futebol é outro gosto, especialmente quando ao lado dos filhos. "É um esporte que me fascina. Um esporte que se joga com os pés, as mãos, a cabeça, o peito, é o mais completo da Terra e ainda se vê o brilhantismo através de jogadas tradicionais, como o gol olímpico, o balãozinho, a janelinha, que encantam o público".
Como muitos profissionais da imprensa esportiva, não revela o time para o qual torce. Acredita que essa informação poderia prejudicar a relação com o público leitor, já que a rivalidade no Estado é muito forte. "É como chimango e maragato", compara. Talvez, um dia, quando estiver aposentado, revele o clube do coração, por enquanto, prefere manter em segredo.
Menino, marido, pai
Natural de Porto Alegre, da infância, recorda os passeios de bonde. Diz que pendurar-se nos veículos de transporte público das décadas de 1950 e 1960 era, para o menino, razão de muita alegria. Quando jovem, queria ser jogador de futebol, mas a dificuldade em ter uma oportunidade afastou o desejo por seguir na profissão. "Na época, havia milhares de bons jogadores e ter uma chance era muito difícil", lembra.
Casado há 15 anos com Sandra Cristina Salomão, orgulha-se da esposa pela dedicação em prosseguir com os estudos. Recorda que, quando a conheceu, ela trabalhava como ascensorista no mesmo prédio em que está instalada a sede da Goool. Mais tarde, passou a atuar junto à publicação e, como já era professora, seguiu com o mestrado em Pediatria e, hoje, faz especialização em Patologia Clínica, na PUC. No futuro, tem a intenção de cursar um doutorado. "Me sinto lisonjeado por vê-la chegar a esse patamar", conta.
Pai de Eduardo e Marcelo, do primeiro matrimônio, Leandro e José Vitor, do segundo casamento, e David, enteado que considera um filho, se esforça para manter uma relação de serenidade, carinho, amizade e respeito com os filhos. "Essa proximidade e convivência é fundamental para que eu consiga permanecer em pé", esclarece.
E o sonho segue?
Acredita que tem na bondade uma das suas principais qualidades, em contrapartida, assume que também é bastante teimoso. O defeito, entretanto, se torna positivo quando considerado que foi essa característica que contribuiu para que seguisse com a revista Goool até os dias de hoje.
Ateu, assim como o pai, que foi um líder comunista no País, diz que não consegue crer em Deus por todas as coisas ruins que acontecem no mundo diariamente. "O respeito, a humildade, o trabalho e a conservação da família são, na minha ótica, o suficiente e necessário para eu acreditar em mim, nos meus deveres e obrigações, aliados à bondade ao próximo. Estes são os requisitos elementares para eu acreditar no "meu" especial Deus", acredita.
Aos 62 anos, Aveline pretende alçar novos voos. Quer concretizar o sonho de tornar a Goool uma revista de âmbito nacional, com espaço igualitário entre os times. Para isso, conta com sua persistência e confia na potencialidade da internet para aproximar o público. "Se eu conseguir esse feito, poderei dizer que realizei um grande sonho, o maior deles. Sei que vou ter muitas dificuldades, mas vou fazer de tudo para alcançá-lo", garante.
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