Ana Cássia Miguel: Agregadora por tradição

Mais de 30 anos de carreira da profissional de Marketing são fruto dos ensinamentos passados na infância

"Naquela casa havia união, amor, boas conversas e muita conexão com a fé." Por volta do início dos anos 1980, no município de Santa Rosa, a residência dos Langschs, comandada pelo seu Rui e pela dona Oliva, mantinha a tradição que, anos depois, passou a ser administrada por Ana Cássia Miguel. Os ensinamentos trilharam os mais de 30 anos de carreira da Gerente Comercial Regional na Midialand, que sempre foi não só uma gestora, mas também uma "mãezona para o pessoal". 

De fato, este é um adjetivo que ela não se importa de levar, uma vez que, por todos os lugares onde passa, quem a conhece sabe que, por vezes, se faz importante "dar uns puxões de orelhas" para que as coisas entrem no rumo certo. Além do mais, o que todos podem esperar dela é um bom conselho maternal e - por que não - um colo que serve de aconchego para aqueles que necessitam. Apesar de só ter um filho biológico, ela faz questão de ser a agregadora e líder dos ambientes que frequenta. 

Esses costumes passam por gerações, um reflexo da casa cheia de pessoas que estavam em volta dos matriarcas da família, onde reuniam hábitos de rodas de violão, churrasco, danças e reuniões de aconselhamentos. Os pais de Ana Cássia eram bastante conhecidos no bairro, uma vez que ministraram uma palestra para noivos, intitulada de 'A vivência do sacramento da vivência'.  Hoje, a profissional palestra o mesmo tema, na paróquia que frequenta, ao lado do marido Cristiano. 

Para Ana, talvez, esses tenham sido os "aprendizados fundamentais para uma carreira sólida no mercado da Comunicação". Além de um currículo que apresenta cargos de gestão em agências, bem como mentoria em diversos projetos, ela atuou como professora do MBA em Marketing, do Centro Universitário Ritter dos Reis (Uniritter), e do MBA em Gestão, da Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs). 

Assumir as rédeas 

Uma vida em família. Desde nova, aprendeu que essa sempre foi a sua base de sustentação. Filha caçula do casal Langsch, Ana viveu a infância rodeada dos três irmãos mais velhos, que faziam questão de a incluírem nas brincadeiras do dia a dia. "Eram coisas muito masculinas, mas eu estava sempre presente com eles", lembra. 

A conexão maior era com o irmão Paulo Ricardo. Isso porque ele foi o primeiro deles a dar a ela "o presente de ser tia, um dos meus maiores sonhos". Ela foi a responsável por dar um dos primeiros banhos e cuidar, por muito tempo, do casal de sobrinhos, para que o irmão fosse trabalhar. Ela era a tia-coruja que, por vezes, até mesmo acobertou as travessuras que os sobrinhos aprontaram como, por exemplo, bater no carro do pai. 

Porém, foi quando o sobrinho mais velho tinha 17 anos que Ana, de fato, teve que entrar em cena. O seu irmão, pai das crianças, veio a falecer, vítima de uma parada cardíaca. Neste momento, ela assumiu as rédeas e "segurou a onda da família". A partir daí, a união entre eles ficou ainda mais intensa, pois, por muitas vezes, serviu de ombro não só de tia, mas também de mãe. 

As lembranças que ficam são do irmão tocando violão, nos saraus de família que aconteciam na casa dos pais, na cidade natal. Essas são as principais recordações daquele tempo e que fazem parte das suas inspirações, e isso é o que dá força a ela para seguir forte. "Me lembro, com sete e oito anos, eu sentada apreciando aqueles momentos. Gosto de músicas antigas por conta dessas memórias afetivas." 

Início e carreira

Ainda jovem, foi para Porto Alegre onde os pais fixaram uma residência na cidade, uma vez que os filhos estavam ficando mais velhos e precisavam de um local para realizar os estudos. Ana optou, primeiramente, pela carreira de professora de educação infantil, onde atuou por alguns anos. No entanto, "ainda não seria isso que me faria feliz".

Neste contexto, existiram algumas pessoas importantes para a profissional, que ainda procurava um rumo. Uma dessas é a sua madrinha, a publicitária Tânia Arriens, que a inspirou e incentivou a ir para o mundo da Comunicação. Por isso, em 1994, Ana ingressou no curso de Relações Públicas da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos). Entretanto, formou-se em Marketing e, depois, especializou-se em Marketing e Vendas, Design de Futuros e mestrado em Design Estratégico e Inovação. 

A trajetória se iniciou mesmo ao lado do marido, Cristiano Miguel, cofundador da agência Arca. Eles se conheceram por acaso, pois o primeiro contato aconteceu por meio de uma ligação telefônica. Ana Cássia trabalhava em uma empresa de Comunicação, que precisou dos serviços do Cristiano. "Eu liguei para fechar o trabalho com ele e ali iniciou uma primeira aproximação", recorda. Eles, que estão juntos há quase três décadas, têm um filho único, o gamer Arthur, de 18 anos, que mora fora do país por conta da carreira. 

Alguns anos depois, a dupla passou a trabalhar na mesma empresa, onde dividiram os negócios e a gestão do lugar. Esse foi o começo da trajetória de Ana na coordenação de pessoas. 

Após algum tempo, com o nascimento do Arthur, ela precisou ficar no lar para cuidar de perto do filho, visto que a empresa do marido estava bem. Com a criança mais velha, preferiu explorar o mercado e procurar outros rumos, além de receber convites de diversas empresas. 

Por volta dos anos de 2010, as ofertas de trabalho chegavam para ela com frequência. Mas foi no Grupo RBS que aceitou um cargo para assumir o setor de vendas da Rádio Farroupilha. "Ali aprendi muitas coisas, principalmente com os comunicadores Sérgio Zambiasi e Gugu Streit", elogia. E foi na Band TV onde viveu um dos momentos de maior satisfação da sua carreira, em que participou do fechamento de negócio que envolveu o patrocínio de uma marca tradicional gaúcha, no programa de culinária 'MasterChef Brasil'. 

Do luto à inspiração

No início da pandemia, a família Langschsd passou por mais um luto. Desta vez, o seu Rui, pai de Ana, veio a falecer em decorrência do vírus da Covid-19. Ana Cássia recorda que, naquela ocasião, a maior preocupação era com os pais, em razão de serem idosos e precisarem de cuidados especiais. "Meu pai disse à minha mãe que a amava e nunca mais voltou", emociona-se.

Assim como fez da outra vez, no falecimento do irmão, abraçou a família e foi uma fortaleza para aqueles que precisavam de consolo. Só que foi nesse momento que outra preocupação afligiu a mente de Ana. Isso porque ela estava acima do peso e também faria parte do grupo de risco da doença que deixava a população preocupada. A partir de então, passou a ter Síndrome do Pânico - crise de ansiedade repentina e intensa com forte sensação de medo ou mal-estar, acompanhadas de sintomas físicos. 

Segundo Ana, sabendo do problema, ela foi procurar ajuda profissional. "A única coisa que eu não queria era ter que tomar remédios, então, fui em busca de tratamentos alterativos", recorda. Nesse momento, entraram na rotina funções que ela nunca mais deixou de exercer: meditação, atividades físicas, leituras e escrita. "Eu não vivo mais sem", completa. 

A escrita entrou na sua vida por meio de textos de desabafo que fazia. O marido leu um deles e disse a ela que precisaria abrir um site a fim de publicar e inspirar outras pessoas. Hoje, Ana Cássia também administra o blog 'Ajustando as Velas', um espaço onde ela se dedica a contar histórias e oferecer ajuda, por meio de texto, às pessoas que passaram pelo mesmo transtorno que ela. 

Para o futuro, ela conta que ainda não sabe como vai fazer, mas pretende realizar mais movimentos para ajudar quem não viveu um luto, assim como outros tipos de suporte. "As pessoas acham que a gente é forte por natureza, mas, na verdade, somos nós mesmos quem adquirimos essas condições", resume, ao falar sobre o desejo.

Hoje, conta que aprendeu a conviver com as perdas e tenta sempre auxiliar os outros a não cometerem o mesmo erro que ela. "Consigo falar do assunto com naturalidade, pois eu entendi e soube viver o luto da maneira correta", explica. Ela complementa e diz que, por mais que seja a fortaleza da família, também pode ter os seus momentos de fraqueza.

Conexão com a fé

A conexão com a fé da profissional se deu antes mesmo de a profissional nascer. A sua mãe não poderia ter mais filhos, uma vez que a gestação anterior foi de risco e isso fez com que o médico impusesse essa condição. No entanto, Ana foi gerada e, de fato, a gestação acabou sendo de risco. "Meu pai fez uma promessa para a Santa Rita de Cássia, santa das causas impossíveis, para que eu e a minha mãe fôssemos fortes para sair com vida", disse. Pois ela veio ao mundo e foi batizada com o mesmo nome da santa da oração.

Essa inspiração ainda acontece nos dias atuais. De religião católica, ela comparece em missas e tenta levar para a família os mesmos costumes dos pais. Hoje, os encontros não são mais na casa da sua mãe, por estar mais idosa. Ela levou a tradição para a sua residência, onde, lá, as coisas acontecem: jantares, festas, natais e aniversários. "Depois da morte do meu pai, fiz questão de migrar os ensinamentos para a minha casa."

Ana Cássia tem a admiração e o respeito da família que faz questão de deixar a mesa da casa sempre cheia. "Gosto de ter os pintinhos em volta das minhas asas", brinca. Ela gosta de citar os bons exemplos e falar das suas referências: o marido, a madrinha e a sua mãe, por todas as coisas que passou nos últimos anos, assim como na vida. "Uma mãe durona, que puxou as orelhas, mas que passou bons ensinamentos." 

E na casa de Ana, trata-se de um lugar onde todos são bem-vindos e fazem parte da família. Ainda é uma mulher forte, porém, que conhece seus limites e luta contra eles. Mas, apesar disso, tem uma pessoa que quer ajudar e transmitir o colo de mãe que oferece proteção para todos. "Mesmo que eu não saiba como, o propósito é fazer com que mais mulheres lidem e tenham o direito de serem mães saudáveis", finaliza. 

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