Ana Paula Carneiro Costa: muitas possibilidades

Fundadora da Blue Mint, relações-públicas aprendeu desde cedo a valorizar o trabalho, mas também a seguir o coração

Crédito: Salomão Cardoso

Ana Paula Carneiro Costa nasceu em 9 de outubro de 1987, em Porto Alegre. O nome composto, brinca, foi uma estratégia da mãe, Márcia Carneiro Costa, para que pudesse ter diversas possibilidades dentro dela. "Muitas vezes eu me sinto Ana, outras me sinto Paula, e algumas Ana Paula". Ana é usado no ambiente profissional, Paula ou Paulinha, no pessoal, enquanto Ana Paula com quem tem menos intimidade.

É atuando em diferentes frentes que ela se sente feliz. E, para isso, tem como norteadores: seguir o coração, para ser quem realmente deseja, e dialogar. "Acho que conversas verdadeiras, honestas, que partam desse lugar de permissividade, de respeito e empatia, sempre foram guias para a minha vida, assim como fazer o certo", reflete.

Paulinha, a filha

A praia de Arroio Teixeira, no Litoral Norte gaúcho, reserva as melhores lembranças da Paulinha de oito anos. Por morar na Capital, em apartamento, ela sempre teve uma vida urbana, por isso, estar por lá era experimentar uma vida de interior, onde vivia na rua e perto da natureza. "Os melhores banhos de chuva, banhos com girinos, as melhores brincadeiras nos cômoros de areia. Brincar de queimada na praia. Ter essa experiência, muito pequena, de poder ficar até tarde na rua", rememora. Recordações de pessoas especiais, de família, amigos - que têm até hoje - e namorados que eram de lá. 

Se da infância guarda estas boas memórias, também tem uma que afetou sua vida: a separação dos pais. Segundo ela, foi um momento muito difícil, visto que precisou amadurecer muito e entender questões que, para ela, uma criança de 10 anos não teria capacidade. Conforme análise de Ana, a família não teve recurso emocional para bloqueá-la do que estava acontecendo e, por consequência, acabou que ela participou muito da situação. "Fiquei muito com essa referência de que eu não poderia ser uma fonte de tristeza, uma fonte de decepção e de frustração, em uma família que já tinha muita dor." 

A experiência a fez desenvolver o que considera serem os principais defeitos: o perfeccionismo e a exigência exagerada - que geram sofrimento não só para a comunicadora, mas também para quem está ao redor, pois as cobranças são igualmente feitas com os outros. Afinal, desde o episódio, tentou ser a "criança perfeita" - que obedece e só tira nota boa - e uma pessoa especial, que fosse fonte de alegria. E, assim é até hoje, pois procura sempre provocar mais felicidade do que trabalho, dúvidas e inseguranças nas relações. Por outro lado, considera-se muito afetiva, e essa qualidade se dilui em outras, como o cuidado e a doação. "Cuido muito das pessoas, do que é meu. Gosto dos detalhes e realmente tenho apreço pelo afeto," afirma.

Ana, a empreendedora

O rompimento dos pais também a impulsionou aos negócios, pois, na época, a menina processou a mensagem de que as mulheres precisam trabalhar. O registro se deve à mãe que, em momento de muita tristeza, dizia que os filhos e o trabalho a salvaram. "Ficou muito claro para mim, desde quando era pequena, o quanto isso poderia ser fonte de cura de possíveis dores, de uma liberdade, de não precisar depender de ninguém." 

Além disso, pai e mãe sempre se dedicaram ao trabalho, e isso a influenciou. Empresário de produtos médicos hospitalares, o pai, Gabriel Costa Neto, incentivou o empreendedorismo e também o lado da Comunicação. Já a mãe, psicóloga, foi referência para ser uma pessoa de boas conversas e do entendimento em profundidade. Por isso, ela sempre teve uma relação muito saudável com a carreira, que começou no primeiro dia da faculdade - iniciada aos 17 anos.

Ana sempre soube que queria fazer Comunicação, a dúvida era entre Jornalismo e Relações Públicas. A opção por RP se deu pelo gosto por eventos, por perceber um mercado mais amplo de atuação, e por ter o irmão, Gabriel Carneiro Costa, cursando a faculdade. Antes de abrir o próprio negócio, trabalhou em diferentes lugares, como a Inside, empresa de Comunicação e Endomarketing que o irmão tinha na época. 

Passou pela R7, uma agência de eventos, e pela Good Card - companhia de cartões de benefícios -, onde atuou na área de retenção de clientes. No setor, produzia eventos dentro de fábrica, em diferentes cidades, como Caxias do Sul, Passo Fundo e Pelotas, e, às vezes, de madrugada. "Foi uma época em que eu me senti muito livre de mim mesma, fazendo minhas coisas. Ganhava um dinheiro legal, tinha um salário bacana." No entanto, era uma rotina intensa, somada aos estudos na graduação. O cansaço a levou a sofrer um acidente de trânsito, em São Leopoldo. Ficou alguns dias hospitalizada e teve um deslocamento no quadril. O episódio a fez trocar a área de abrangência para cortar as viagens, e passou a cuidar de Porto Alegre e da Região Metropolitana.

Em 2008, ingressou como analista sênior de Marketing na seguradora Montepio da Brigada Militar (MBM). Depois de 12 meses, aos 22 anos, passou à gerência. Jovem e mulher, ela sentia o preconceito por parte de colaboradores, mas isso nunca a afetou. Contudo, em 2009, com a troca da diretoria, ela e mais de 40 funcionários foram demitidos. "Para a garota com 'síndrome da perfeição', imagina o que significava uma demissão!", aponta.

Cursando pós-graduação na FGV de Marketing Global, Ana foi, então, fazer uma "bolsa-sanduíche" em Portugal, onde conheceu a agência de Comunicação com foco na sensorialidade, My Sense, que "abriu a mente para virar a chave". A partir daí, decidiu empreender.

Doce amargo empreender

A Blue Mint veio para cobrir uma lacuna que a profissional enxergava no mercado: entrega de soluções repetidas, forma de precificação nebulosa e pouca customização e criatividade. Por isso, estudou Marketing Sensorial. Foi nessa linha que surgiu o nome. Blue (azul, em português) foi baseado no livro que a inspirou, 'A estratégia do oceano azul', de W. Chan Kim e Renée Mauborgne. "Ele fala muito sobre a gente navegar em oceanos onde poucas marcas estão, com entregas que poucas marcas têm. E o propósito e a entrega de valor da Blue Mint passam muito por isso, por algo diferente, que não era o padrão dentro do mercado de eventos", assegura. 

Parte desta diferenciação acontece em função do Marketing Experiencial, por isso a gestora desejava conter no nome um fator sensorial. Na Gastronomia, três são os elementos fortes em todos os sentidos: café, chocolate e hortelã. A preferência por Mint (hortelã, em português) foi porque entendeu que os outros dois identificariam erroneamente a empresa. E, até hoje, a agência utiliza a planta nos drinques de final de ano, nos aromas e nas experiências culturais com os clientes.

Desta forma, começou sozinha, em 2010, com 23 anos, ainda morando com a mãe, onde instalou uma mesinha, um computador e uma linha dedicada de telefone fixo. "Iniciei bem estruturada, no sentido de que sabia que queria ser grande. Mas não em tamanho e, sim, em reconhecimento, fazer bons trabalhos e atender ótimas marcas", aborda.

A comunicadora lembra que, apesar de pequena, o comportamento era de uma agência de porte médio. "Eu já falava com os meus clientes 'nós'. Era só eu, mas eu dizia o meu financeiro, como se fosse outra pessoa." E assim a Blue Mint cresceu e passou para um espaço compartilhado em um coworking, depois para uma sala exclusiva e, então, para o prédio onde estão até hoje, no bairro Rio Branco, em Porto Alegre. Os primeiros clientes foram os parceiros da MBM e o Sindicato das Seguradoras do Rio Grande do Sul, conta mais antiga da agência.

O empresariar sozinho é "um doce-amargo", pois a mesma caraterística que o torna gostoso, também o faz desafiador: a liberdade. Pode-se escolher o que quer, mas sente-se falta de alguém para questionar se essa opção está certa, que impulsione e traga uma visão diferente, que divida responsabilidades. Entre os maiores desafios do início, Ana cita a estruturação financeira e "conquistar os cinco primeiros clientes". 

Ela enxerga que eles indicam outras oportunidades de trabalho e o negócio prospera. Porém, a dificuldade foi vender a ideia de um discurso diferente, de uma agência nova e administrada por uma mulher jovem. A jovialidade, principalmente, já fez a empreendedora sentir que não foi levada a sério. Por isso, sempre cuidou do "capital visual" - roupa, cabelo e gestos - ao achar que isso a ajudou. 

Paula, a mãe 

"Existe uma Ana Paula antes e outra depois da maternidade", resume a mãe de Nina, nascida em 31 de janeiro de 2021. Ela entende que essa é uma experiência de avalanche emocional e hormonal, em que se descobrem muitas versões desconhecidas de si. "Ser mãe foi e segue sendo a transformação mais importante da minha vida em todos os sentidos, inclusive nos negativos", declara. 

Ela e o marido, Douglas Tiede, queriam muito uma filha, mas, para realizar esse desejo, foi preciso esperar quatro anos, com muitas investigações, tratamentos, exames e consultas com diferentes médicos. Por ter endometriose severa e trompas obstruídas, também pelo formato fisiológico, os profissionais consideravam a chance de engravidar naturalmente extremamente baixa, em torno de 5%. No entanto, por fertilização in vitro (FIV), a possibilidade era considerada alta, devido aos óvulos saudáveis e à idade (28 anos na época em que começou o processo).

A primeira FIV, realizada em janeiro de 2020, não funcionou. A segunda tentativa seria executada em março. Contudo, foi cancelada devido à pandemia de Covid-19. O prejuízo ao setor de eventos e um acidente ocular de Douglas marcaram negativamente o início do ano. Porém, eles tinham uma alegria: uma casa recém- construída, em Gramado, onde atualmente moram. Sem comércio aberto e mão de obra disponível, o casal finalizou a morada, onde colocou todo o foco e energia.

No começo de maio, descobriu a gravidez. A relações-públicas não tem dúvidas de que os fatores comportamental, emocional e social influenciaram. Com a pausa forçada pela pandemia, "abriu espaço" para a chegada de um bebê, o que não acontecia com a quantidade de atividades que ela exercia. "Alguma coisa talvez dentro de mim, em uma camada muito mais inconsciente do que consciente, sinalizava que a minha vida não estava pronta para a chegada de um filho." Hoje, tem certeza de que a maternidade é a maior realização, isso porque considera que a filha, Nina, a eleva na potência máxima do melhor dela todos os dias.

"Aberta ao andar dos ventos"

Apesar de organizar as ações, não se considera a "louca do planejamento". Entretanto, ela sabia aonde queria chegar. "Também sempre estive aberta para que esse andar dos ventos e dos mares pudesse me levar para lugares novos", compreende. Uma dessas mudanças de rotas foi lecionar Marketing Sensorial e Experencial na Escola Superior de Marketing e Propaganda (ESPM-Sul), com 27 anos, o que não considerava factível. 

Apesar de desejar o crescimento da Blue Mint, com a realização de trabalhos transformadores e inspiradores, a empresária queria mantê-la como "boutique", ou seja, pequena em estrutura, pois assim ela consegue manter o DNA da empresa. Em um futuro, conforme a profissional, ela deve atuar em outras áreas que não os eventos, como abrir um negócio em Gramado - ainda em estudo.

Com 12 anos de existência, a Blue Mint expandiu o escritório, com execuções em Curitiba, Santa Catarina e São Paulo, além do interior gaúcho. Dessa forma, a empresa chegou no patamar pretendido. Ela entende que, se continuarem a fazer um trabalho consistente, inspirador, significativo, assim como que faça diferença nas marcas com as quais trabalha, já está ótimo -, não se esquecendo de citar o retorno financeiro. "Óbvio que sempre terá espaço para crescer, mas eu acho que a Blue Mint já me entrega bastante fonte de realização", finaliza.

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