A comunicação como uma ferramenta potencial de alavancar o processo educacional. Esse é um dos vieses com os quais Anaís Bertoni compreende o mundo e sua própria permanência na Comunicação. Para ela, a educação é poderosa, e o seu bom manejo depende do domínio e da vastidão de ideias que se celebram ao pensar este meio em uma perspectiva dialógica. "Claro, sempre trabalhando com respeito, de modo ético e buscando entregar valor", ressalta. Ela diz, assim, que é fundamental exercer esse espaço de uma maneira comprometida com a responsabilidade e humanização para com os outros.

Aos 37 anos, Anaís é coordenadora de Publicidade e Propaganda e professora nos cursos de Gestão Comercial e Marketing da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Publicitária graduada pela Universidade de Caxias do Sul, na serra gaúcha, ela afirma que sua paixão pela área não surgiu inesperadamente, mas após um longo processo em que buscou entender qual era o seu perfil profissional e quais áreas gostaria de seguir. O que ela já sabia, no entanto, é que seu perfil não se alinhava com áreas um tanto "burocráticas", e que preferia construir uma carreira em que pudesse realizar coisas diferentes e com criatividade. Assim, a escolha foi pela Comunicação e, por meio da Publicidade, pôde exercer a sua florescência criativa e não cair na rotina.

Uma trilha pela educação

A trajetória profissional da publicitária, no entanto, nem sempre foi voltada para o viés educacional. Seus primeiros anos na área foram dedicados ao webdesign, com o qual desempenhou funções de estagiária. Com o então namorado, e hoje marido, liderou, no início da carreira, uma empresa onde desenvolviam sites e sistemas. Especificamente, Anaís trabalhava com redação para interfaces e com os procedimentos de UX (experiência do usuário, em tradução livre).

A vida acadêmica e a busca por novos conhecimentos, contudo, a chamavam, e assim, ela iniciou o mestrado em Design, Educação e Inovação na UniRitter, sendo integrante da turma inaugural do programa. Nisso, a profissional já começava a sua guinada rumo a uma jornada de aliar a Comunicação aos saberes educacionais, sem deixar o ponto de vista de profissional do mercado atuante com as tendências. Por isso, paralelamente com o curso e a empresa, trabalhou com o Marketing da Associação Cultural e Científica Virvi Ramos, de Caxias do Sul.

Ao final do mestrado, veio a entrada definitiva na docência, passando a atuar como professora no curso de Design da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG). Multitarefas e dedicada às funções, ela permanecia atuante em diversas frentes - paralelamente à universidade, passou pelo setor de Marketing da multinacional Mobitec, indústria metal-mecânica do segmento de transporte público.

Foi em 2014, porém, que ganharia um espaço na casa que é a sua até os dias atuais: após um processo seletivo, foi chamada para ser professora do curso de Publicidade da Unisinos. Ainda morando em Caxias do Sul, dividia a rotina entre Unisinos, Mobitec e, ainda, o curso de Design da Ftec, também na cidade serrana, de onde era docente. A partir disso, gradativamente, sua vida iniciou uma jornada migratória para a região metropolitana de Porto Alegre. 

O verdadeiro papel da Educação

Mesmo tocando diversas incumbências profissionais, a área acadêmica era a que mais lhe chamava, assim como a perspectiva de, por meio da Educação, contribuir para uma Comunicação efetiva e comprometida com a solidariedade. Dessa forma, em 2016, mudou-se para Novo Hamburgo, onde reside até hoje, dividindo-se entre a área de marketing que assumiu na imobiliária Crédito Real, em Porto Alegre, e a prática da docência. O convite para ser a coordenadora da Publicidade e Propaganda da Unisinos veio em 2017, e o título de doutora, quatro anos depois.

Anaís destaca o papel da Educação e as interfaces realizadas de forma a conectar estudantes com as realidades e práticas do mercado de trabalho. Ela entende que, dessa forma, enquanto ainda na graduação, eles podem ter contato com vivências que possibilitem identificar o que o mundo espera deles. 

As ações, além de práticas, também são sociais: ela comenta que, pouco antes de se tornar coordenadora do curso, um dos clientes captados para um dos grupos de alunos que acompanhava era um projeto social, cujo objetivo era o incentivo à adoção de gatos e cachorros abandonados. E as atividades, na ocasião, tomaram uma proporção não inicialmente prevista pela turma. "Os alunos tinham que fazer uma campanha para o projeto. Um dos grupos se empenhou tanto, que fez ações fora da sala de aula para o projeto após o término do semestre. Eles conseguiram colocar propagandas até no Trensurb de modo gratuito", conta, orgulhosa.

Outro exemplo aconteceu durante o episódio das enchentes de 2024 no estado gaúcho. Com os alunos, participou de um projeto de recuperação de fotos danificadas pelas cheias. A professora, assim, enxerga a Comunicação como conectada com a Educação e com a ética na entrega de valores aos clientes e no fazer profissional. Ela ressalta: "É importante entender o quanto o olhar humano e a empatia são importantes na Comunicação".

Fora da zona de conforto

A Publicidade ocupa um lugar especial na vida de Anaís por ser um ambiente que não se deixa abater pela zona de conforto. E isso também ocupa um espaço em sua visão a respeito de como o Brasil se comporta em relação a essa área. Para ela, o momento é "desafiador", e é nítida a forma como as plataformas digitais têm exercido influência no cotidiano em relação a ideias e à própria democracia. Isso provoca uma circulação de sentidos mediada pelas redes e com o adendo das inteligências artificiais como novas ferramentas de produção desses sentidos.

A professora diz sentir falta de uma regulação no que tange ao uso de redes, com a produção de consequências para a sociedade ainda a serem revisitadas. "A situação do Brasil, mas não apenas aqui, é transformada por essas dinâmicas internacionais, que operam sem uma regulação clara, e influenciam uma série de atitudes e ações que vemos se manifestando no tecido social", diz. No escopo dos desafios que a área ocupa, ela afirma que saber manejar as tecnologias enquanto ferramentas, mas de forma que os processos criativos e a imaginação não se percam, é uma tarefa a ser alcançada.

Anaís gosta muito de escrever, criar e desenhar. Admira a forma como a Publicidade, constantemente, transforma-se, demonstrando que, por meio da criatividade, é possível utilizar ideias para desenvolver melhores soluções para algum problema de Comunicação. A zona de conforto, assim, não é o lugar-comum da profissional, que está sempre em busca de novas perspectivas e possibilidades.

Determinada e com o futuro em mente

Um mundo de respeito em todos os sentidos. É nesse futuro que a publicitária acredita, utilizando a ética como balizadora para as relações. Determinada, ela admite ser crítica demais consigo mesma, o que, ocasionalmente, também faz com que busque realizar um trabalho sempre bem acabado e com um alto padrão de qualidade.

Para além da profissional, porém, Anaís é uma pessoa que cultiva hábitos que proporcionam bons momentos e oportunidades. Mãe de Vicente, de dois anos e meio, utiliza a leitura, filmes e séries em seus momentos livres. A praia, para ela, tem um lugar especial: sempre que pode, visita o litoral. Seu maior destaque, até hoje, vai para as praias de São Miguel dos Milagres, em Alagoas, que descreve como sendo um "paraíso". Comenta ter uma preferência por espaços que estejam perto do oceano.

Gaúcha de Vacaria, no norte do Estado, ela não nega alguns costumes gaúchos, com destaque para o gosto pelo churrasco. Diz que, apesar de não gostar de cozinhar todos os dias, se tivesse de o fazer, cumpriria com eficiência. E, do estado gaúcho, além da torcida pelo Internacional, também herdou a preferência por artistas locais, especialmente para o rock, citando Engenheiros do Hawaii como uma de suas referências. Já para os internacionais, U2, Coldplay, Oasis e Bryan Adams lideram as suas playlists. Para além desse estilo, a MPB também ocupa um lugar especial nas suas indicações.

Ela acredita no potencial da Educação para transformar a Comunicação e vê também como projeto de vida. A preocupação com as novas gerações demonstra a forma como conduz sua carreira na vida acadêmica e no mercado de trabalho em geral. Entretanto, quando perguntada sobre qual é sua essência, não deixa, mais uma vez, de refletir sobre como será o futuro e as interações que nele virão. Por isso, prefere ficar com uma frase de Washington Olivetto: "Mais do que nunca, precisamos tomar cuidado com o mundo que vamos deixar para os nossos filhos. E para os Rolling Stones, é claro".