André Lima: o realizador inquieto

Publicitário de espírito curioso faz da criação um ato de materializar o que imagina

André Lima é um dos fundadores e CEO da Batuca - Crédito: Bruno Marconi

Há quem se realize sonhando. André Lima parece se realizar fazendo. De olhar atento e de poucas palavras, pelo menos quando é para falar de si, o publicitário, um dos fundadores e CEO da Batuca, é daqueles que transformam ideias em movimento. Se algo o instiga, ele pesquisa, constrói. Se um projeto o desafia, mergulha de corpo inteiro. E talvez seja essa mistura entre curiosidade e obstinação que defina melhor quem ele é: um realizador nato.

Nascido em São Bernardo do Campo, André cresceu entre diferentes paisagens. Passou parte da infância em Promissão, no interior paulista, onde viveu o que chama de "vida de sítio": pés descalços e muitas brincadeiras em tardes longas. Mais tarde, em Botucatu, cidade onde passou a adolescência, trocou o ritmo rural por uma rotina mais urbana. Talvez por isso, hoje encontre no silêncio e no mato o refúgio ideal para equilibrar o excesso de ideias.

Filho de Maria Aparecida, consultora de comércio exterior, e de José Carlos, advogado, falecido em 1996, cresceu entre a disciplina e a curiosidade. Desde cedo, mostrou interesse por aquilo que podia construir. 

Aos 14 anos, já trabalhava em agências, primeiro como designer, depois explorando sites e programação. Quando entrou para a faculdade de Publicidade em Caxias do Sul, a escolha já estava feita: a propaganda não era apenas uma profissão, mas também um modo de existir. E de fazer acontecer. A vinda para o Rio Grande do Sul ocorreu há 20 anos quando a mãe foi contratada pela Marcopolo. 

Um materializador de tudo

Aos 19 anos, abriu a primeira empresa, sem saber exatamente o tamanho do salto que dava. O desafio foi grande - impostos, gestão, vida adulta -, mas dali nasceria a Batuca, hoje uma das agências mais reconhecidas do sul do país. "Não tem 'não dá'. Tudo tem um jeito. É só descobrir qual", repete, como um mantra.

De lá pra cá, o menino curioso virou líder de uma holding com 132 pessoas, mas sem perder o traço artesanal. Ele afirma ser uma pessoa que aprecia ver as coisas acontecendo. Da criação de campanhas à construção de espaços, André gosta de materializar. Foi assim na pandemia, quando projetou a cabana em meio ao mato, em Flores da Cunha, refúgio que ele e a esposa, Larissa, chamam de casa nas horas de folga.

Mas até as horas de descanso chegarem, ele passou bastante trabalho. André dedicou muito tempo pesquisando como tirar a ideia de ter uma cabana do papel. Optou por construí-la em steel frame - uma estrutura de aço leve e modular - na cidade de Bento Gonçalves. Só que nem sempre tudo sai como o planejado. No trajeto, descobriram que uma das estradas de chão era estreita demais para o caminhão que levava a estrutura. 

A solução veio, como sempre, de forma prática e improvisada: foi preciso parar tudo, trocar de caminhão e abrir caminho até o destino final. A lembrança, que hoje parece anedótica, na época exigiu obstinação, qualidade que acompanha André em tudo que faz. 

O gosto pelas obras talvez revele mais sobre ele do que qualquer título profissional: André é um fazedor. No trabalho, nas viagens, na vida, move-se por impulso criativo e senso de urgência.

Entre o ruído e o silêncio

A rotina é intensa: começa às cinco da manhã, entre e-mails, academia e leituras, quase sempre sobre gestão e liderança. Prefere as primeiras horas do dia, quando o mundo ainda está quieto. O silêncio é produtivo. A disciplina, uma necessidade. Com tantas abas abertas na cabeça, aprendeu que a organização não é apenas um hábito, mas a única forma possível de funcionar.

Apesar de ocupar diferentes cargos entre Bento Gonçalves, Porto Alegre e Caxias do Sul, André mantém um pé firme na criação. Foi dessa inquietude que nasceram novas operações, Bumbo, The Digital Drums, a produtora Tamborim, e o Bloco (holding). "As ideias vão surgindo e a gente vai fazendo. É um pouco do 'por que não?' que sempre me guiou." E pasmem, ele não possui uma mesa de trabalho só dele em nenhum desses lugares.

Nos fins de semana, ele desliga. Vai para a cabana, toca violão, assiste filmes e contempla aquele tipo de silêncio que só o verde é capaz de produzir. Outro "barulhinho bom" que ele gosta é a música. André comemora neste momento da vida a retomada da banda de soul 'Black Soul Soda", da qual é vocalista, formada por sete músicos e muita energia. "É quase terapêutico. Ensaiar é colocar pra fora a intensidade."

Entre o concreto e o invisível

Casado há três anos, André divide o amor pela comida e pelas viagens com a esposa Larissa. Juntos, exploram sabores e destinos, de Nova York ao litoral uruguaio, onde ele encontra a calma que o ritmo da agência às vezes rouba. 

E se é para falar em geografia, o país que ele colocou no mapa do coração foi a Índia, onde visitou a mãe, que viveu lá por três anos. Ele costuma dizer que a experiência provocou uma transformação intensa em sua visão de mundo. 

Entre prêmios, menções e o crescimento da Batuca, o que mais o orgulha não são os troféus, mas as pessoas que crescem com ele. Tanto que os planos futuros envolvem consolidar as operações e desenvolver as lideranças, mantendo o orgulho pelo que a equipe entrega e pelas pessoas que estão ao seu lado.

Se pudesse se definir, diria que é alguém que não desiste fácil. E quem o conhece confirma: André é intensidade em movimento. Às vezes ansioso, por vezes impaciente, mas sempre disposto a resolver, aprender, recomeçar. 

O menino do sítio hoje dirige uma das principais agências do sul do país. Continua curioso, inquieto, cercado de projetos e reformando o mundo à sua maneira. Ele diz que não sabe esperar, mas, certamente, sabe construir. 

Elis Regina cantava que queria uma casa no campo. André também. E essa história revela muito sobre ele: é alguém que não recua diante dos percalços. Se o caminho se fecha, ele abre outro; se não há solução pronta, inventa uma. Materializar ideias, sejam campanhas, negócios ou uma cabana no meio do mato, parece ser mesmo sua missão.

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