André Machado: Sem medo de desafios
O jornalista aprendeu a superar a comparação com o pai, Dilamar, e hoje é destaque da Rádio Gaúcha e TVCom
Abandonar uma faculdade e o emprego estável na Caixa Econômica Federal para seguir o Jornalismo não foi problema para André Machado. O jornalista ainda teria que encarar a comparação com o pai, Dilamar Machado, e substituir apresentadores consagrados na rádio Gaúcha, como José Aldair, à frente do Correspondente Ipiranga, e Armindo Antônio Ranzolin, no Gaúcha Atualidade. Nascido a 3 de dezembro de 1966, em Porto Alegre, André diz que sempre se sentiu influenciado pelo trabalho do pai no rádio e na TV, um nome importante da Comunicação gaúcha.
"Sempre me vi influenciado e gostava de participar dos programas dele de rádio, quando era criança, essas coisas que envolvem a relação entre pai e filho. Ele é uma referência forte para mim. Hoje, há dois tipos de pessoas que me abordam, as que falam do meu trabalho e as que falam do trabalho do meu pai. Isso acontece com muita freqüência", revela. Além de comunicador, Dilamar, que faleceu há cinco anos, foi deputado e teve presença marcante no interior do Estado. "Tenho um orgulho enorme do pai e busco me espelhar tanto nos seus acertos quanto nos seus erros. Por causa dele, o Jornalismo sempre esteve presente para mim como uma possibilidade", conta.
Jornalistas na Biologia
O Jornalismo era uma possibilidade, mas não a única. André também se sentia envolvido com a Biologia, profissão de um de seus irmãos. Na hora do vestibular, prestou para Biologia, na Ufrgs, e para Jornalismo, na PUC. Ao saber que tinha sido aprovado na Federal nem chegou a terminar as provas da outra universidade. Ele não foi o único futuro jornalista a se aventurar na Biologia. A repórter da RBS TV Guacira Merlin ingressou no curso junto com ele. "Éramos muito amigos e hoje trabalhamos juntos na RBS", revela. Apesar de gostar da disciplina, André entendeu que não queria isso como carreira e abandonou a faculdade após um ano e meio, em 1985. A decisão de deixar o curso estava vinculada com a vontade de fazer Jornalismo e, assim, logo prestou novo vestibular, na Ufrgs, e passou.
Em 1988, André foi aprovado num concurso da Caixa Econômica Federal e, como não conseguia conciliar os horários limitados da Universidade Federal com o de trabalho, migrou para a PUC, onde se formou, "bastante tempo depois", em 1994. Ele estava bem na Caixa, com um bom salário e a possibilidade de fazer muitas viagens. Tanto que conseguiu ser cedido para o banco em São Paulo, onde participou dos cursos de Jornalismo do Estadão e da TV Cultura. A convivência nos veículos levou André a resolver deixar a Caixa para se dedicar à carreira de jornalista.
Dia das Mães salvador
No Dia das Mães de 1995, ele veio a Porto Alegre ficar com a família e descobriu que estava sendo inaugurada uma emissora, a TVCom. "Eu queria saber se daria certo no Jornalismo. Fui lá levar meu currículo. A Lígia Tricot era a coordenadora. Fiquei uns dias fazendo testes e me contrataram", lembra. A decisão de deixar o emprego na Caixa não foi fácil: "Foi complicado, tinha 27 anos e minha família reclamou. Falaram que eu já tinha estabilidade, "vai te meter no Jornalismo, que os salários são baixos" e tal?". Mas André estava disposto a tentar a profissão. Começou como editor do antigo Notícias, que hoje se chama Jornal TVCom. Após 10 meses, foi para a rádio Gaúcha, onde iniciou uma trajetória que já dura 10 anos e meio.
A relação com a rádio começou com frilas, em seguida, foi convidado para ser redator e logo passou a repórter. Após um ano na função, André já era chefe de Reportagem e apresentava alguns programas. No final de 2004, assumiu a edição e a apresentação do Correspondente Ipiranga, que ganhou um formato totalmente diferenciado. A idéia era ficar dois anos no posto, assim, em julho do ano passado, deixou o programa para coordenar a cobertura das eleições. Em novembro, o jornalista foi convidado para cobrir as férias de Ranzolin no Atualidade. Embora o comunicador tenha se aposentado em dezembro, André se diz interino na função. "Mas poderia seguir no programa para sempre. Não me importaria", admite.
Recompensas
André entende que substituir Aldair e Ranzolin é uma grande responsabilidade: "É fruto do meu trabalho e da minha dedicação. Dediquei muito da minha vida ao trabalho, sacrificando uma série de coisas, e isso é uma bela recompensa", avalia. "A oportunidade que me foi dada pela RBS de estar à frente do projeto de mudança do Ipiranga, que tinha 38 anos, com o José Aldair, que é um tremendo locutor, infinitamente melhor que eu, que sou um jornalista, é um marco na minha carreira e talvez no futuro do rádio", comenta. André relata que muitas pessoas reclamaram do formato no início, mas depois se habituaram e passaram a gostar e a elogiar o programa. "O Ipiranga é hoje um programa que se edita no ar às vezes, porque o editor é também o apresentador", explica.
Quanto ao Atualidade, o jornalista considera os antigos apresentadores - Mendes Ribeiro foi o primeiro âncora - "mestres do radiojornalismo". O convite para apresentá-lo foi envaidecedor: "É muito bom, porque me valoriza e é um desafio muito grande. Preciso me equiparar à qualidade do trabalho que o Mendes e o Ranzolin realizavam para corresponder à expectativa que a empresa coloca nas minhas mãos". Além disso, André considera uma responsabilidade dividir entrevistas com Ana Amélia Lemos: "Ela é uma jornalista competentíssima, superbem-informada e que tem um poder de análise muito rápido".
O comunicador também está de volta à TVCom. Há um ano, edita e apresenta Manchetes do Dia, que antes estava sob a responsabilidade de outro importante jornalista: Oziris Marins. "Ir para a frente do vídeo é um desafio novo e gosto da possibilidade que a emissora nos dá de fazer essas coberturas ao vivo. Eu atribuo tudo isso ao rádio. É a minha trajetória no rádio que me dá credibilidade para que eu possa estar na TV. É bacana", diz. "As pessoas costumam começar muito jovens na TV e eu cheguei lá com 39 anos, maduro e completamente careca", brinca.
Sem crise dos 40
"Fiz 40 anos agora e estou bem tranqüilo com a idade", diz o jornalista. Mas ele revela que os anos trouxeram uma preocupação com sua forma física: "Consegui incluir exercício na minha vida, já perdi seis quilos, de maio para cá. Me obriguei a fazer ginástica depois da TV". Um período para dedicar à qualidade de vida é essencial para André, que chega na rádio às 7h da manhã e deixa a TV às 7h da noite. "Isso não me tira pedaço, meu trabalho me realiza. É claro que eu gostaria de ter mais tempo, mas essa é a profissão que eu escolhi e estou satisfeito com ela", conta. O jornalista não mora perto nem de uma nem de outra emissora, vive próximo à PUC, mas seu projeto para o futuro é mudar-se para o Menino Deus, onde ficará mais próximo, inclusive, da academia de ginástica.
André mora sozinho e aproveita os momentos de folga para descansar: "Eu gosto é de dormir", brinca. "Não é isso, mas tento aproveitar o final de semana para descansar um pouco, pois é o período em que posso", justifica. Enquanto não tem seus filhos, diverte-se com os sobrinhos Vinícius, Vivian e Valentina, e a afiliada Bárbara. Também gosta de cinema, livros e música - especialmente tango e rock'n'roll e diz que não se rendeu à tecnologia dos MP3 e seu hobby ainda é comprar CDs. Viagens, cozinha e futebol também estão entre as suas paixões. Curiosamente, além de torcer pelo Internacional, admira o Caxias e já foi à Serra só para assistir aos jogos do time. Seu plano para o futuro é "ir a Tóquio ver o Colorado ser bicampeão mundial! O Inter é o amor da minha vida e o Caxias é uma amante", compara.
Filho do Carnaval
Já o Carnaval tem um lugar de destaque para o jornalista. Foi cobrindo a festa, a convite de Cláudio Britto, que ele começou sua carreira na Gaúcha. Já foi diretor da Estação Primeira da Figueira e fez enredos para várias escolas, alguns em parceria com seu irmão Álvaro. "Parei porque o carnaval gaúcho entrou numa fase ruim", diz. André tem ido assistir ao Carnaval paulista e acompanha os ensaios da carioca Império Serrano. "Quero ir ao Rio este ano para ver a minha escola", planeja.
Para tanto, terá que arranjar tempo, já que reconhece que é um pouco workaholic: "É uma coisa que estou tentando rever na minha vida, sei que dou tempo demais ao meu trabalho". Outro defeito assumido é o humor ácido: "Hoje, quem me conhece entende minhas brincadeiras, mas já tomei muito na cabeça", confessa. Em compensação, o ponto forte de André é o bom relacionamento com as pessoas. "Tenho boas relações com o pessoal da RBS, com o mercado e até com as fontes, sem ser próximo demais. Se tivesse que dar um conselho para alguém que está começando no Jornalismo, seria esse: invista nas suas relações pessoais", ensina.