Anna Quadros: A mulher que deseja com coragem
A menina do triciclo e a líder do agora em uma história de desejo, entrega e caminhos que se constroem coletivamente

Se a vida é feita de escolhas, a de Anna Quadros é feita de desejos que viram caminho. Com um brilho nos olhos que nunca parece se apagar, ela não espera que as coisas simplesmente aconteçam, ela quer, sonha e faz acontecer. E, quase sempre, realiza. "O Marketing me escolheu", ela diz, com aquela firmeza serena de quem conhece seu percurso e honra cada passo dado. Mas a verdade é que Anna também escolheu, e escolhe, com o coração aceso e os dois pés no chão.
Anna Amélia Matos de Quadros é catarinense por um gesto de amor. Ela nasceu em 30 de março de 1983, em Campos Novos, porque a mãe, diante das viagens constantes do pai a trabalho, escolheu estar perto da própria mãe (ou seja, a avó de Anna) para ter apoio nos primeiros cuidados com a filha que estava no ventre e com a primogênita, três anos mais velha.
Filha de Sonia e Pedro, irmã da Tatiana, sua grande referência de vida, Anna guarda as primeiras lembranças, antes dos quatro anos de idade, da casa com galinheiro e plantação de tomate na cidade gaúcha de Encruzilhada do Sul. Ali, na carona do triciclo guiado pela irmã, ela já vivia os primeiros ensaios do que, hoje, chama de seu maior talento: construir em parceria.
Desde cedo, Anna já sabia o valor de conquistar o próprio caminho. Aos 14 anos, tirou a primeira carteira de trabalho, que só veio a usar posteriormente. Ainda na adolescência, começou a empreender à sua maneira: vendendo sorvete, fazendo ponto cruz até conseguir o primeiro emprego como atendente em telemarketing.
Queria ganhar seu dinheiro, não só por necessidade, mas para poder escolher. Com 18, estava em uma agência de eventos e, pouco depois, chegou ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). A mudança tinha um propósito claro: realizar o sonho da faculdade. E o que era para ser um trampolim virou história. O Senac não só bancou sua formação, como também abriu as portas para uma jornada de 17 anos repleta de crescimento, aprendizado e liderança. Ali, Anna floresceu e deixou marcas.
Uma vida de histórias
"Minha vida é uma grande história", ela diz, rindo. E é mesmo. Casada há 24 anos com Leandro, a quem se conheceu por acaso no extinto aplicativo chamado ICQ, a história dos dois é daquelas que parecem invenção de roteiro romântico.
Ele queria conversar com uma Camila, foi assim que conheceu uma amiga de Anna. Comprometida, a amiga sugeriu: "Conversa com a Anna". Foram seis meses de diálogos, telefonemas e risadas, antes do primeiro encontro. E, desde então, o que começou com uma frase aleatória virou uma vida compartilhada e um amor que cresceu junto com os sonhos.
A espera que transforma
Um deles, o maior de todos, está prestes a se tornar realidade: a maternidade. Depois de uma década tentando engravidar, e quatro anos na fila da adoção, Anna e Leandro vivem hoje a doce e forte espera pelo filho ou filha. "É como se eu estivesse gestando há anos", conta. E ela conta para todos, com orgulho, com afeto, com a tranquilidade de quem vive essa a espera com o coração aberto.
No Dia das Mães, ganhou presente no trabalho. Porque as mães que estão na fila de adoção também já maternam. "Aqui no trabalho, todo mundo sabe que minha bolsa pode romper a qualquer momento", brinca. "Fiz questão de falar sobre isso ainda no processo seletivo. E tenho certeza: estou no melhor lugar para viver esse momento".
Mesmo com a alegria dessa fase, ela fala abertamente sobre os medos, inclusive o de sair de licença e, talvez, não querer mais voltar. "Desde que a gente nasce, ser mulher já vem com essa carga de culpa", diz. Mas ela vem desconstruindo isso com terapia, com conversa, com autoconhecimento, a ponto de saber que a luz do ser humano é também a sua sombra: "Minha energia é minha força, mas, se não canalizo bem, pode ser também meu ponto fraco".
Hoje, à frente da Comunicação e do Marketing da Central Sicredi Sul/Sudeste, Anna colhe os frutos de um desejo antigo. "Eu desejei muito estar aqui. Me candidatei com outras 800 pessoas e acreditei. Era pra ser." Desde que chegou, vem fazendo história. Liderou campanhas de impacto, como a recente ação em resposta às enchentes no Rio Grande do Sul, que tem o artista Lucas Lima como protagonista. "A gente mirou o sol e acertou a lua." Ela fala de equipe no plural, sempre. "Não é minha equipe. É nossa."
Ela não para!
Rotina intensa, madrugadas iniciadas às 5h25, dois treinos por dia - afinal malhar é sua válvula de escape -, reuniões, planejamentos, viagens. Quando descansa, permite-se o ócio. Ou seja, dá-se o direito de não fazer nada. Sabe o que quer. E sabe quando não quer mais. Já saiu de onde não crescia, já escolheu novos rumos e já foi para o Japão sozinha dar palestras. Enfrentou salas cheias de japoneses críticos e voltou fortalecida. Lá, aprendeu a viver coletivamente, e, hoje, no cooperativismo, tudo faz ainda mais sentido para Anna.
Colorada que veste a camisa e frequenta o Beira-Rio, ela acompanha os jogos com interesse, apesar do momento do time do coração. 'Rueira' assumida, não para muito em casa. Se não está em um happy hour com amigos, é provável encontrá-la no Sushito Experience, a escolha favorita do momento para saborear o prato preferido: sushi.
Um pouco mais de Anna
Ela tem convicção de que seu corpo não nasceu para ficar parado. Precisa estar em constante movimento. E é com essa mesma energia que enfrenta os dias, seja nos treinos (que chegam a 11 ou 12 sessões por semana) ou nos deslocamentos com uma trilha sonora, que vai de Liniker a Sandy, de Foo Fighters a Matheus e Kauan. "Não é eclética, é duvidosa", diverte-se.
Acredita em Deus e, principalmente, na força das pessoas. "Sou uma eterna otimista. Uma Poliana com senso de justiça bem afiado." Se não estivesse no Marketing seria delegada ou advogada. Mas só se pudesse defender os inocentes. Porque justiça, para esta ariana com lua em libra, não é teoria, é prática, é ação. Anna acredita na força do exemplo, do cuidado, da escuta. E vive o que prega. Seu lema é de ação: "Não é suficiente concordar com as ideias, é preciso colocá-las em prática.", do Padre Theodor Amstad
Ela é gestora, é inspiração, é movimento e multiplicidade. E, em algum lugar, Anna ainda é aquela menina que pegava carona no triciclo que dividia com a irmã mais velha - de pé, confiante, entregue. Porque uma boa liderança não se importa em estar atrás: ela confia em quem está por perto. E vai junto, sem medo da queda.
No fundo, Anna Quadros é uma mulher que deseja com coragem e age com coração. Uma força em constante movimento. E é também um lembrete vivo de que, quando o desejo é inteiro, a vida se move também. Por inteiro, com verdade e sorriso.