Bárbara Pufal: Em constante evolução

A vida da Diretora do Núcleo Institucional da agência Moove podia dar um livro, mas está mais para letra de samba-enredo

Bárbara Pufal, diretora do Núcleo Institucional da Moove

O plano estava traçado: fazer Desenho Industrial, não casar e não ter filhos. Mas não foi bem isso que aconteceu na vida de Bárbara de Leão Pufal. É que esta aquariana, que está de aniversário hoje, 28 de janeiro, entendeu, com o passar do tempo, que não adianta pensar muito lá na frente, pois sempre que programa algo, acaba não acontecendo. Mas isso não é necessariamente ruim. 

Fosse assim, ela não estaria ao lado de Edemar Bürguer, não teria trocado de curso e se formado em Publicidade e Propaganda, e não estaria à frente do Núcleo Institucional da agência Moove, uma das mais premiadas de Porto Alegre. Mas o mais inesperado e recompensador presente, ela ganhou no dia de Natal de 2010, com a chegada da filha mais velha, Melissa, a Mel. E renasceu novamente como mulher e mãe com a chegada de Matheus, em março de 2018. 

Sabe a ideia de casa, cachorro, marido e filhos? No caso da publicitária, é só trocar o cão pelo gato Zen, que é "o filho mais velho", e como primogênito tem lá suas implicâncias com a irmã do meio, já que "ele e a Mel não se bicam muito", porém o felino recebeu bem a chegada do caçula. Ficar em casa também não fazia parte do planejamento, trabalhar muito menos, mas uma pandemia chegou e, mais uma vez, os planos foram desfeitos. 

Aplicada como é, Bárbara aprendeu a trabalhar em sua residência. "Eu nunca cogitei isso, porque não queria misturar trabalho e família, mas é uma bobagem porque na agência eu chego e 'não desligo o botão de mãe'. Assim como tudo na vida, a fórmula pandemia + home-office também foi um aprendizado. Para todos!" Ela conta que, quando está só lendo os e-mails e conversando com a equipe e cliente em canais digitais, a casa está "barulhenta", mas, se liga a câmera para alguma reunião, todo mundo fica em silêncio. 

E com o ritmo de muito trabalho, sobrou pouco tempo para a diversão durante o início do confinamento. Bárbara lembra até hoje da primeira vez que saiu de casa para visitar amigos, que moram em um condomínio na Zona Sul de Porto Alegre. "Eles estavam se cuidando também, mas, no carro, me deu medo. Achei que íamos nos infectar e que voltaríamos com Covid-19. Meu marido segurou minha onda e, no final das contas, curtimos muito todo o final de semana". Depois desse dia, ela decidiu que seguiria o protocolo, mas que não deixaria de lado a saúde mental. E sobre esse assunto, ela fala com propriedade. 

A mulher da Arena

Leitora voraz, Bárbara admite que compra tantos livros, que nem consegue ler todos. Mas tem os preferidos e eles ficam guardados no armário do escritório de casa. "Esses eu não empresto. E, quando gosto, leio mais de uma vez". Foi assim com o 'A vida perfeita não existe', da jornalista gaúcha Daiana Garbim. Foi por meio da autora que a publicitária descobriu outra escritora, Brené Brown, autora do livro ´A coragem de ser imperfeito'. 

Na obra, a norte-americana se debruça sobre o discurso do ex-presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt intitulado 'O homem na arena': "Não é o crítico que importa; nem aquele que mostra como o homem forte tropeça, ou onde o realizador das proezas poderia ter feito melhor. O crédito pertence ao homem que se encontra na arena, com o rosto manchado de poeira, suor e sangue; que luta com valentia; que erra e tenta de novo e de novo?". 

E são em livros como estes que esta mãe, mulher, publicitária, filha, esposa e amiga encontra algumas respostas, na procura constante por evolução. "Para que estamos aqui? A busca por respostas me persegue, encontrá-las é também uma busca por aceitação", reflete. Outras leituras recomendadas pela aniversariante são: 'Psicopatas do Cotidiano', 'Milagres da manhã', 'O poder do hábito' e a obra da mesa de cabeceira, leitura do momento, que é 'Mulheres que correm com os lobos', presente da Moove. 

Pouco silêncio, muita inspiração

Silêncio é artigo raro na vida dela. Nas lembranças mais distantes, há sempre muito barulho na casa em que morou com o pai, o empresário Helmut Luis Schmidt Pufal, e com os três irmãos, Tiago, Diego e Sabrina. "Sempre teve muito agito, muita bagunça, muitas conversas, muito? amor", recordou. Isso fica claro que nunca faltou na criação de Bárbara. É da avó, Maria Brasil de Leão, e da mãe, a defensora pública Dóris de Leão Pufal, que ela lembrou com mais carinho nesta conversa.

A trajetória das duas mulheres vai além da inspiração, é uma lição na vida de Bárbara. "Minha mãe lutou pela profissão, pela família e acho que isso a levou num grau de exaustão, que ela não conseguiu superar", desabafou. A avó sempre foi uma pessoa à frente do seu tempo. É desta forma que a neta enxergava Maria: "Na época dela, as meninas não podiam ir ao cinema, nem tomar café sozinhas em local público, mas ela fazia", orgulha-se. A publicitária conta que a avó a ajudou muito na adolescência e falou da saudade que sente de ouvir suas histórias e dos almoços na casa da matriarca. 

Engana-se quem pensa que só Bárbara enxergava nas mulheres de sua família inspiração. Assim como a herança genética, a presença feminina da família Leão transcende. E foi tão além que a história virou capa da revista Donna, em reportagem alusiva ao Dia Internacional da Mulher de 2011. Um merecido lugar para falar sobre essas três leoas e a pequena Mel, recém-nascida que, na foto, está no colo da mãe.

Uma história nutrida com tanto amor em vida também encontra certa beleza na morte. Mãe e filha se despediram em um intervalo de um ano. Maria faleceu aos 93 anos, em 2019, e Dóris, um ano depois, após contrair Covid-19. A morte traz ensinamentos e Bárbara percebeu ali a importância do verbo cuidar, de si, do bem-estar e da saúde mental.

Entre lições, perdas e exemplos, ela citou a colega e amiga Laura Azevedo, que não resistiu a complicações de um câncer de mama e faleceu no início do mês. "Mesmo quando a doença estava mais avançada, a Laura falava com a gente com clareza, generosidade e simplicidade", emocionou-se. Talvez a fé na doutrina espírita a ajude a encontrar o jeito leve de conduzir a vida. Batizada e com primeira comunhão na Igreja Católica, é no espiritismo que faz algumas de suas perguntas em busca de respostas e aceitação. 

Rejeitando rótulos 

Organização é palavra-chave na vida dela. Aliás, é tão "maniática". como ela mesma se define, que chega a virar defeito, junto com a ansiedade, que é amenizada com a terapia semanal. "Dentro de casa, estou sempre me controlando, porque gosto de tudo arrumado, mas com duas crianças sei que é impossível". Ela não gosta de rótulos, mas até acha que é workaholic. Só sendo muito organizada para dar conta da rotina de trabalho, que se inicia às 6h, para que possa "dar uma arrumada na casa" e ter o seu momento de silêncio durante as caminhadas e a prática de exercícios, quando consegue um tempo a mais. 

O horário da agência é das 9h às 19h. Antes desse horário, ela dá check em suas atribuições pessoais - muitas outras estão distribuídas em um arquivo de Word, com 10 páginas, em fonte tamanho nove. Assumindo o título de "louca das listas", as composições possuem cores diferentes, afinal de contas, organização é muito importante. É também dessa maneira que ela, atualmente, atende aos 11 clientes da sua carteira.

Após o expediente, porém, é hora de curtir. Antes da pandemia, isso incluiria restaurantes, festas, encontros com amigos, mas, na nova realidade, significa ficar com a família, jantar e ver série ou filme. Aliás, alguns programas são elaborados para quando todos puderem sair de casa em segurança: cinema, um hábito que fazia parte da rotina do casal e da Mel, ir a festas e dançar muito, exceto músicas no estilo sertanejo, pagode e tradicionalistas, de resto se diz bem eclética. "A sofrência não é comigo". 

Tem outra paixão que ela não vê a hora de voltar a colocar em prática: viajar. E a família já desenha um roteiro, que envolve um carro e a região da Toscana, na Itália. Também deseja conhecer a Grécia, porém como fazer planos não é muito a praia desta aquariana, ela se consola com as lembranças da areia e do mar da Bahia, último local que visitou antes da pandemia. Se o turismo está no modo pausa, a gastronomia segue bem apreciada. E o que a entrevistada não dispensa é um bom churrasco, sushi e "um xis, pingando banha", brinca.

Executiva com veia empreendedora

Na época do vestibular, estava em dúvida entre os cursos de Psicologia, Educação Física e Desenho Industrial. Optou por este último. Mas, aos 22 anos, no sétimo semestre, começou a trabalhar em agência e "viver aquela cachaça". Trocou de curso e foi fazer Publicidade e Propaganda. Mas pode-se dizer que foi o Design que abriu as portas para a carreira de mais de 15 anos. "Eu e uma colega do curso de Desenho abrimos uma empresa, trabalhávamos bastante e pegávamos alguns jobs de uma agência. Foi assim que passamos a atender o Sonae, do Grupo Walmart", recordou. 

Com o fim da sociedade e o portfólio embaixo do braço, ela foi até a agência Im8, com o objetivo de atuar na área de Criação. Garantiu a vaga na hora, mas o dono da empresa, Aelson Alves, percebeu que Bárbara tinha perfil para Atendimento. Não estava nos planos, mas ela topou, pensando que logo trocaria de área. Já se passaram mais de 20 anos. "Eu brinco que o atendimento me escolheu."

O empreendedorismo bateu na porta da publicitária, novamente, em 2015 quando ela e o companheiro se tornaram proprietários de um pub, localizado no bairro Menino Deus. E, novamente, a vida apresentou outros rumos e eles precisaram vender o ponto em razão da pandemia. "Foi triste. Sofri outro luto", relembrou. 

Entre idas e vindas, ela está há cinco anos na Moove. Em 2019, teve uma breve passagem pela Competence. Contudo um convite irrecusável de uma das sócias, Luana Rodrigues, a fez voltar: "Ela disse para mim que queria engravidar e que só o faria se eu estivesse lá para dar conta de tudo. 'Tu és insubstituível. Preciso de ti' ouvi dela", recordou. O elogiou marcou a carreira de Bárbara, que reconhece não se sentir boa o suficiente. "Essa sensação mora em mim, mas hoje tenho clareza disso", reflete. 

Somam-se ao currículo, passagens pela Supercomunicação, AB Design, Gad, E21 e Centro. Recentemente, foi premiada com a estrela da Associação Riograndense de Propaganda (ARP) como Profissional de Atendimento e Negócios ou Gerente de Projetos do Ano. "Estamos nesse mundo pra se relacionar e aprender. Tudo passa, mas as relações ficam",disse, justificando que comemorou duplamente a festa da ARP, além do prêmio, voltou a encontrar amigos e colegas. 

Enfim, o amor

Era um domingo chuvoso e Bárbara acordou de ressaca, após uma balada na noite anterior. Sabrina, a irmã mais nova, a convidou para conhecer o Mix Bazaar, uma feira de moda e variedade. Assim que chegou, ela decidiu tomar uma cerveja para "equilibrar o nível de álcool no organismo" e um cara, que chamou a atenção dela, a observava. "Está ali minha alma gêmea", ela revelou à irmã, que, empolgada, comentou que ele estava havia horas de olho em Bárbara.

Parecia que o dia só reservava troca de olhares, mas ela decidiu ir embora até ir para a rua e constatar que caía granizo. "Voltei e vi que ele estava parado na porta, me esperando para conversar", contou, lembrando que os dois trocaram nomes para se procurarem no Orkut, o que era comum nos idos de 2005. Os planos podem não dar muito certo, porém a intuição não falhou. Ao voltar para casa naquele dia, ela disse a dona Dóris "conheci um cara muito legal". Conversaram duas madrugadas seguidas até às 3h da manhã, até que marcaram um encontro e seguem juntos. Mas sem casar. 

"Não consigo imaginar, tem muita dificuldade, o que planejei, a vida mostrou que eu estava errada". A letra até podia ter sido escrita pela entrevistada, mas é emprestada do samba-enredo eternizado na voz da cantora Simone. É que planejar o futuro não está nos planos de Bárbara. Costuma dizer aos amigos que, quando se aposentar, vai trabalhar com artesanato e pintar, como fazia aos 15 anos, nas telas com tinta a óleo. Ou talvez ela se dedique a algo relacionado à moda, estética, consultoria de imagem, assuntos que a atraem e do qual já participou de cursos. O fato é: ela estará buscando leveza na vida imperfeita.

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