Caroline Torma: Alegre e passional

A jornalista Caroline Torma defende que a dedicação em tudo o que faz precisa sempre ser total, pois não gosta de nada pela metade

Caroline Torma | Crédito: Franco Rodrigues
Por Márcia Christofoli
À primeira vista, Caroline Torma aparenta ser uma pessoa séria, mas são necessários poucos minutos de conversa para perceber que a realidade é outra. Natural de Rio Grande e formada pela Universidade Católica de Pelotas há 16 anos, a jornalista é a convicção em pessoa, e aos poucos também se mostra uma mulher doce e "totalmente passional", como se autoafirma. O bom humor, inclusive, é uma das características reconhecida pelos que a cercam, por ser capaz de fazer piada em momentos tensos.
Se tem algo que não teve tanta certeza, foi a faculdade a ser cursada, pois Carol costuma dizer que o Jornalismo a escolheu. A primeira opção era Engenharia Genética, mas os 108 candidatos por vaga na Unicamp não favoreceram a ideia. No vestibular para Medicina ficou em 68º lugar - e havia apenas 60 vagas. "Na metade daquele ano, decidi que queria estudar em Pelotas, mas o acordo com a minha mãe, que era contra, foi de tentar na Católica e também na Furg, de Rio Grande", recorda.
O gosto por ler e escrever e um curso de redação começaram a fazê-la olhar mais para a área de humanas. Na hora de inscrever-se para o vestibular das duas cidades, optou por Jornalismo em Pelotas e Direito na cidade onde nasceu há 38 anos. A prova em Pelotas foi em dezembro e passou. Não teve o mesmo sucesso no vestibular seguinte. "No segundo dia de prova, dormi na casa de uma amiga e o relógio não despertou, ou seja, não fiz a prova. Então, me tornei jornalista por acaso, não por vocação", deduz.
Sucesso do interior
Dos 18 anos de carreira, 14 estão dedicados ao Grupo RBS, tempo suficiente para experiências diversas. Foi correspondente em Rio Grande, coordenadora de produção da central de interior e da agência de notícias, editora do extinto caderno Dinheiro, de Zero Hora, e editora de capa do site do jornal. Deixou o chamado hard News para atuar como assessora de relações corporativas, coordenadora da assessoria de imprensa e da comunicação interna do grupo, até acumular as últimas três funções com o atual cargo de gerente. "Sou extremamente realizada com o que construí. Para quem é de Rio Grande, se formou em Pelotas e começou em jornal local, isso é muito mais do que eu poderia esperar", comemora.
O início da carreira se deu no Jornal Agora, de Rio Grande, de onde guarda bastante carinho por todo aprendizado. "Trabalhar no Interior é a oportunidade de fazer de tudo", diz, lembrando que, além das matérias de diversas editorias, inventava caderno especial, suplemento jovem, evento de moda, edição, reportagem, etc. Após quatro anos, queria mais. Contatos feitos, chances aproveitadas, provas de seleção - e foi necessário apenas uma semana para se tornar correspondente de Zero Hora, em Rio Grande. Chegava o Grupo RBS em sua vida.
Muitos foram os convites da empresa para que Carol trabalhasse em Porto Alegre, o que só aconteceu em 2006, quando veio para ser coordenadora de Produção da central de interior. Na função, teve a oportunidade de conhecer todo o Estado, as sedes da empresa e as pessoas que nelas trabalhavam. "Acho super importante ter esse conhecimento, pois a RBS tem muitas realidades distintas", analisa.
Desafio e motivação
Acumular a função com a agência de notícias do grupo foi enriquecedor, segundo a jornalista, pois poucos conhecem a importância do setor para a empresa. "É uma área que lida com todos os veículos da empresa, faz o meio de campo com as compras e vendas de notícias, contratos com jornais do Interior, serviço de meteorologia, um trabalho intenso", explica. Também foi dessa experiência que Carol diz ter aflorado a característica de liderança, pois coordenava 15 correspondentes e mais 14 estudantes contratados na agência. Economia foi área de interesse desde o início, e quando entrou para a equipe do caderno Dinheiro, realizava mais um sonho. E foi justamente em uma época em que buscava atividades diferentes dentro da empresa, tanto que ainda achava tempo para editar a capa do site do jornal aos finais de semana.
Quando surgiu uma vaga na Comunicação Corporativa do Grupo RBS, lembra bem do seu painel de seleção, que chamou de "punk", pois ali estavam reunidas as principais lideranças da empresa na época: Duda Melzer, Nelson Sirotsky, Anik Suzuki e Deli Matsuo. A conversa com Deli, responsável pela área de pessoal e conhecido internamente como "o Japa do Google", devido a sua origem, foi considerada decisiva no sim que deu ao novo desafio. "Ele me disse que eu estaria abrindo uma avenida na carreira e que aumentaria minhas perspectivas. Disse também que, caso não desse certo, haveria ainda muitas possibilidades, pois jamais deixaria de ser jornalista".
Hoje se sente desafiada diariamente, o que a instiga e motiva. Trabalha diretamente com o presidente-executivo Duda Melzer, o que considera "maravilhoso", pois tem nele um líder inspirador. "Estou muito feliz e acredito no que faço. Só assim as coisas podem dar certo. Além do mais, ter bom humor para fluir melhor é essencial", garante, ao contar que o gestor sempre elogia essa característica quando lhe dá algum feedback.
Muitos foram os momentos marcantes, é verdade, mas "por mais estranho que pareça", como ela diz, acredita que uma equipe se fortalece em situações tristes. Foi o que aconteceu quando do incêndio da Boate Kiss, em janeiro de 2013, fato que, garante, nunca esquecerá. Estava no litoral gaúcho e às 5h recebeu a ligação do editor-chefe, Nilson Vargas, pedindo que voltasse para a Capital. Receber pedidos de material do mundo inteiro, viver a mobilização da equipe, ver os editores voltando para o jornal no meio da noite - foram muitas emoções que mexeram com a jornalista. "É incrível como a gente cresce em momentos como esses", recorda, citando o mesmo envolvimento da equipe no acidente com o avião da TAM, em São Paulo, que tinha gaúchos entre a maioria dos passageiros. "Óbvio que não fico feliz com a tragédia das pessoas, mas foram experiências de Jornalismo espetacular, pela vivência da notícia em si", acredita.
Nada sozinha
Carol sabe que a trajetória é de muitas conquistas, assim como tem convicção de toda sua dedicação ao longo desse caminho. Afinal, como gosta de dizer, não admite nada pela metade e tem intensidade em tudo o que se propõe a fazer. Por outro lado, entende que não chegaria a lugar nenhum sozinha e, por isso, faz questão de citar quem teve influência direta na formação profissional.
Ricardo Stefanelli é o primeiro a ser lembrado. E, anote-se, como alguém muito crítico, só que a forma como fazia isso, tem certeza, fez com que se aprimorasse como jornalista. "Hoje, sou osso duro de roer, não me abalo por pouca coisa. Devo muito disso a ele", admite, atribuindo o perfil aos ensinamentos do ex-editor. No que faz hoje, Anik Susuki é a principal referência, com quem diz ter aprendido sobre comunicação corporativa e liderança, além da "arte de transitar neste meio". Cita ainda Rosane Tremea, que ganha o título de uma das pessoas que mais a ensinou sobre texto.
Comandar equipe é outro aspecto motivador, especialmente quando percebe que seus liderados crescem. "Já aconteceu de um deles passar em mestrado fora do País e me mandar e-mail agradecendo o tempo que esteve comigo. Isso é bom demais", reflete. Tenta se manter próxima e transparente, pois não gosta de hierarquia, prefere gestão horizontal. "Mesmo em posição de liderança, quando deves ensinar e inspirar, tu és parte de um todo. E time é isso", observa.
Pequena, mas unida
Filha da advogada aposentada Marlene Torma e do contador Adilson Torma, falecido por conta de um câncer, hoje é a única herdeira. Isso porque também perdeu uma irmã de 18 anos, pela mesma doença. Casada com o administrador Roger da Rocha há 12 anos, Carol se derrete ao falar do fruto desse relacionamento: Marina, de quatro anos. "É meu amor, esperta, desafiadora, incrível", define a mãe coruja. "Minha família é pequena, mas muito unida. Desde a morte da minha irmã, minha madrinha se uniu muito a nós e meus primos são como irmãos para mim", conta.
Confessa que tem pouco tempo para a família, mas, quando está com ela, gosta de aproveitar cada minuto e se doar 100% - como em tudo o que faz. A mãe é seu braço direito na criação de Marina, condição imposta pela jornalista para que pudesse aceitar o cargo atual. "Ela veio para Porto Alegre exclusivamente para me ajudar com a pequena, pois, na época, Roger também viajava bastante a trabalho", explica. E sobre o marido, aliás, garante que só consegue fazer tudo o que faz por causa dele, que a apoia, incentiva, "é ótimo pai e ainda divide toda e qualquer tarefa".
No entanto, sua mania de organização provoca reclamações do companheiro. "Quando fomos morar juntos, ele brincava que levantava para gritar gol, e eu arrumava a manta do sofá", conta, com sorriso tímido. Outra situação clássica da família aconteceu quando a jornalista foi mover um móvel e deixou a TV cair no chão. Roger estava no banho e foi socorrê-la ao ouvir o pedido de socorro. Após garantir que nada grave havia acontecido, ela começou a gritar reclamando do quanto ele havia molhado o chão! "Já estou melhor com isso, então, acho que não chega a ser uma doença", reflete, aos risos.
Entretenimento e conhecimento
Como não poderia ser diferente, os dias de folga são dedicados à herdeira, mas também gosta de ler, sair pra jantar, ir ao cinema, viajar em família. O último filme visto foi "Spotlight - Segredos Revelados", de Tom McCarthy, "obra que todo mundo que gosta, trabalha ou consome jornalismo deveria ver", recomendou, mesmo antes de o título ser consagrado como o melhor filme no Oscar 2016. No mais, prefere suspense, drama, tudo que for intenso e fuja da comédia pastelão. Quando o assunto é livro, não admira que o de cabeceira seja "As notícias: manual do usuário", de Alain de Botton. Mas literatura também é sinônimo de entretenimento, como é o caso da releitura do momento, "Feliz Ano Velho", de Marcelo Rubens Paiva.
Falar sobre comida dá um certo orgulho a Carol, que perdeu 14 quilos em pouco mais de um ano. Desde setembro de 2014, quando começou uma dieta, cortou de vez o carboidrato de seus cardápios - no máximo, pão integral pela manhã ou quando vai a algum jantar. Com acompanhamento de nutricionista, tem conseguido manter o peso que considera ideal e se diz feliz com o resultado atingido. "Tenho muita tendência a engordar, então, tomei uma decisão e sou fiel a ela", explica. Gosta de frutos do mar e não abre mão de vinhos ou espumantes - concessão que se fez mesmo quando estava no ápice do regime. Ir para cozinha? Nem pensar, ainda mais para quem tem um marido que adora a atividade. "Confesso que como dona de casa, sou ótima jornalista. Quando a Marina fica só comigo, come miojo, salsicha, ovo cozido", conta, sorrindo mais uma vez.
Por inteiro
O que esperar do futuro? Por enquanto, nada. Para explicar, conta que, certo dia, Duda Melzer a questionou sobre o que faria quando deixasse a RBS, no que ela respondeu que abriria um café ou uma loja de sapatos - uma metáfora para explicar que é tão intenso o que faz hoje, que não sabe se irá querer fazer o mesmo em outro local. Exemplo dessa dedicação é o MBA em Gestão Empresarial que fez na Fundação Getúlio Vargas (FGV) (também possui especialização em História, pela Furg). Na primeira aula de Matemática Financeira, olhou para o quadro e pensou que nunca aprenderia. Resultado: em casa, fez diversos exercícios da matéria e tirou nota máxima na prova. "Sempre vou para tirar 10, nunca para ficar na média", confessa.
Mesmo parecendo contraditório, Carol admite que se imagina em outras profissões, sim. Isso porque entende que todo jornalista é uma espécie de clínico geral da vida, por isso tem certeza de que poderia exercer diferentes atividades. Não chega a ter um lema, mas algumas premissas a movem, como saber que as coisas só dão certo quando se acredita no que faz e despende energia para isso. E sentencia: "Não consigo fazer algo por fazer. A Carol é assim: intensa, passional e dedicada. Acho que sempre posso fazer mais e melhor".

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