Cássia Zanon: Mulher das letras

Curiosa e impulsiva, jornalista e tradutora compartilha trajetória profissional e admite amadurecimento após a maternidade

Cássia Zanon - Lina Zanon Pinheiro

A jornalista e tradutora Cássia Zanon é daquelas mulheres que sabe a que veio. Com seus olhos verdes expressivos e hipnotizantes, a filha mais velha da dona de casa e voluntária do Brechó do Instituto do Câncer Infantil, Alair Mombach Zanon, e do advogado, vendedor e profissional de Marketing Jurandir Antônio Zanon nasceu no primeiro dia do signo de peixes, em 20 de fevereiro de 1974.  

Da infância, a irmã mais velha da publicitária Carolina, lembra de ter de se adaptar a lugares novos, pois aos 6 anos se mudou para São Paulo e depois para Sorocaba. Sem criar raízes na infância, ela recorda que estava sempre tentando fazer amizades e se aproximar das pessoas. Procurava entender quem eram aqueles estranhos que ia conhecendo e não se sentia parte daquele mundo. Era como se ela sempre fosse uma visita, mas se divertia muito com isso também.

Em casa, a família era muito unida. Os pais sempre a estimularam intelectualmente - ir ao cinema, ler bons livros, conhecer a cidade em que moravam e fazer turismo na região. "Meu pai chamava de sair à toa. Entrávamos no carro e íamos passear, às vezes, parávamos em alguma praça." Na época, Cássia via os amiguinhos com os avós e parentes e ela não podia fazer o mesmo, pois estava longe do restante da família. "A gente quer o que não tem, então, eu me ressentia em não ter o almoço de família todos os finais de semana", lamenta. 

Voltou para Porto Alegre adolescente, aos 16 anos, quando foi estudar no colégio Anchieta e, após, formou-se em Jornalismo pela Famecos, em 1995. Nesta época, a relação de amizades já era outra, fez muitos amigos que trouxe para vida e superou a frustração da infância.

Uma vida junto

Casada com o também jornalista Márcio Pinheiro, a quem tece elogios, conta que tem mais tempo de vida com o marido, do que sem ele. Os dois estão juntos há 25 anos. Se conheceram quando ela tinha 21 anos e fazia parte do projeto Caras Novas da RBSTV e ele era editor de um programa de cultura da emissora. Os dois já haviam se cruzado pelos corredores da empresa até que um dia Cássia recebeu a incumbência de falar com algum editor para estagiar na área e, por familiaridade com o tema, escolheu a Cultura, porém, não havia vaga naquele momento. 

Passados alguns dias, Márcio a convidou para jantar, e o local escolhido foi o McDonald's, que era no meio do caminho da casa de ambos. De lá, seguiram, a convite do amigo Felipe Vieira, para o aniversário da jornalista Luciana Kraemer, até então apenas como amigos. Veio mais um convite para jantar, desta vez em um restaurante japonês, e desde então não se largaram mais. Passados três meses do início do namoro, Cássia perdeu o pai e isso fez com que o casal se aproximasse e se apegasse ainda mais. "Eu e o Márcio somos muito amigos. Já passamos por várias crises, como qualquer casamento, mas construímos uma história, um patrimônio e uma família", compartilha. 

Quando decidiram que queriam ter um filho, descobriram que existia uma dificuldade para engravidar, mas tiveram maturidade e cumplicidade para lidar com toda a questão da fertilidade. Após oito anos, nasceu, no dia 12 de abril, a menina dos olhos do casal. Na época, tomaram duas decisões: a primeira era que não iriam colocar a responsabilidade das suas felicidades em cima da filha; e a segunda que tentariam desenvolver a curiosidade dela. Hoje, Lina está com sete anos e é motivo de orgulho para os pais-corujas, que estão sempre abertos a ouvi-la e incentivá-la a fazer o que deseja para se desenvolver. "Somos muito abençoados, pois ela é muito curiosa, esperta, carinhosa e afetiva", orgulha-se. A família se completa com as duas vira-latas, Farofa e Bacana, de nove e dois anos, respectivamente. 

Nos dias de folga, o trio adora receber amigos e familiares em casa. Tanto é, que eles costumam fazer uma espécie de boemia diurna, com eventos que começam às 11h e se estendem ao longo do dia. Cássia comanda a cozinha, já o marido é o responsável pelo churrasco e pelos drinques. Lina, por sua vez, é uma anfitriã nata, uma vez que a casa está sempre cheia e são raros os momentos em que o sair para jantar é só na companhia da "familinha", apelido dado pela pequena para quando estão só os três. 

Desde que o sogro, o ex-deputado Ibsen Pinheiro, ficou viúvo, uma vez por semana eles se encontravam, para que Lina pudesse conviver com o avô, falecido no início de 2020. Cássia destaca o sogro como uma referência paterna que sente muita falta. "Na maior parte das vezes, era ele quem nos visitava e tinha algo a compartilhar e nos ensinar", relata.

Qualidade adquirida

Ela e o marido gostam muito de ir a shows, porém estão cada vez mais seletivos, uma vez que precisam de uma boa logística para alguém ficar com Lina. O gosto musical dela por MPB foi influência das tias paternas Rita, Heloísa e Rosa. Além disso, gosta de Rock, Folk e do Jazz "fácil de ouvir". A Cássia de 25 anos era aficionada por cinema, mas a atual não tem conseguido muito acompanhar a sétima arte. A preferência é por filmes leves, como comédias e, atualmente, os infantis que assiste com a filha. "A Cássia que gosta de cinema virou uma velha reacionária", brinca.  

A paixão pela leitura é descrita como superpositiva e conta que tem livros espalhados pela casa toda. No entanto, os títulos dela não conversam com os do marido. "Ele gosta mais de biografias, história e sobre comunicação, e eu tomei um fartão do Jornalismo, então, estas leituras sobre o tema não me empolgam. É como se aquilo não me pertencesse mais", confessa. A preferência é por ficção, mas hoje suas leituras vão da gastronomia à maternidade, psicologia infantil, desenvolvimento humano, história e tecelagem. 

Criada para valorizar muito a parte intelectual, pensa que talvez por isso a questão física tenha ficado de fora, então, não se considera vaidosa, o que não significa que dispense cuidados com a saúde, pois gosta de caminhar e de praticar ioga. Além disso, está sempre aprendendo algo novo e gosta de fazer as coisas por ela mesma, como tricô, crochê, bordado e costura. Não se considera religiosa, mas se diz uma agnóstica espiritualizada, que acredita em uma energia maior.

Definindo-se como uma pessoa curiosa e otimista, a torcedora do Internacional (tal qual a sua familinha) destaca a capacidade de mudar de ideia como uma qualidade adquirida. "A maternidade me fez amadurecer e me mudou em muitas coisas, especialmente na forma de como tolerar diferentes formas de pensar", enaltece. Já a impulsividade é descrita como um defeito, o qual está tentando melhorar.

Jornalismo e tradução

Nos primeiros dois anos de faculdade, dava aula de inglês na Escola de Idiomas Quatrum, depois, fez estágio em Comunicação na Assessoria de Imprensa do Tribunal de Justiça do Estado e também atuou na Bandeirantes. Quando estava planejando uma viagem para fazer um curso fora do Brasil, em 1995, surgiu a oportunidade de participar de um teste para o projeto Caras Novas da RBS, e passou. Trabalhou também como rádio-escuta da mesma emissora e ainda como produtora. Como estava cursando paralelamente Jornalismo Aplicado em Zero Hora, descrito por ela como "uma baita experiência", "estava com o pé que era um leque para trabalhar no jornal". Até que surgiu uma vaga na editoria de Política de Zero Hora e foi chamada pela Rosane de Oliveira para ser subeditora, onde diz que foi uma grande escola e que aprendeu muito.

Também trabalhou como editora no portal Terra, nas redações de Porto Alegre e em São Paulo, até que começou a questionar a vocação para o Jornalismo. Voltou para Porto Alegre e passou a se dedicar à tradução, trabalho que já desenvolvia em paralelo, desde 1999. Teve ainda uma passagem pelo Correio do Povo e também um retorno ao Grupo RBS, para trabalhar como redatora do site Agrol, passando pela editoria de Notícias e pela área de Desenvolvimento de Produtos, até sair em 2012. Nesta época, cursou pós-graduação em Gestão Estratégica e Inteligência Competitiva, que acabou não concluindo. Além disso, deu aula de Jornalismo Online na Unisinos, em 2009 e 2010. 

Apesar de ter começado a carreira na TV, diz que é péssima para qualquer coisa que não seja texto, por isso, desde que saiu definitivamente da RBS, dedica-se de modo exclusivo à sua empresa, a Cássia Zanon Traduções, que conta com clientes como Intercept Brasil e a The School of Life. Também trabalha para agências de traduções multinacionais, traduz livros especialmente para a Intrínseca e a caxiense Belas Letras.

Sentindo-se realizada, diz que ainda tem muito o que fazer, quer sempre melhorar, mas seguir em frente como a vida se apresentar. Entre seus muitos sonhos, está ir para Califórnia com a Lina. Para os próximos 10 anos, imagina que estará vivendo a síndrome do ninho vazio, em um momento de revisão de vida, pois hoje está, em meio ao confinamento da pandemia do coronavírus, vivendo uma mistura de Zeca Pagodinho com Alcoólatras Anônimos (AA), ou seja: "Deixa a vida me levar e só por hoje", brinca. Seu lema de vida destaca que aprendeu com o pai, "que não importa qual seja a situação, boa ou ruim, ela vai passar".

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