Os encontros de família podem ser de descontração depois de dias intensos de trabalho, nos quais se conversam amenidades e questões cotidianas, mas na família Dornelles, a pauta sempre incluiu o mercado publicitário. Clarissa Dornelles, executiva de Mídia na HOC - House Of Creativity, cresceu ouvindo os termos e vivenciando a dinâmica de uma área que, mais tarde, a fisgaria.
O legado é tão proeminente que eles brincam que a família é a "Máfia Dornelles". O pai, Amauri Dornelles, atuou como mídia em diversas agências, incluindo a Martins+Andrade, e depois migrou para o lado dos veículos, trabalhando no comercial do Correio do Povo e na gerência comercial da TV Guaíba e, posteriormente, da TV Record até a aposentadoria. A irmã, Sabrina Dornelles, trilhou caminho semelhante: foi mídia na Global e depois se consolidou em veículos de rádio, como Pop Rock, Mix e, atualmente, Band FM. A lista segue com primos, como Patrick Dornelles, dono da Setdoor, e Rafael e Nathália Dornelles, que atuaram por algum tempo na área, mas mudaram o percurso, além do tio Salvador, que foi proprietário da gráfica Prodeco.
Curiosamente, Clarissa tentou desviar da rota. Optou pela Administração de Empresas na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), pois não se identificou muito com as disciplinas do curso de Publicidade e Propaganda. Chegou a iniciar Relações Públicas e, após três semestres, fez a troca para a Administração. Fez estágios em áreas distintas, como negócios e Recursos Humanos. No entanto, o caminho era inevitável. O segmento de Mídia despertou sua atenção com uma oportunidade de estágio no comercial do SBT-RS em 2007, que selou seu retorno ao destino familiar.
A experiência na sua área de formação, contudo, acabou por ser um diferencial, pela habilidade de negociação e pelo domínio de planilhas. A paixão se consolidou a ponto de, certa vez, quando recebeu uma proposta financeiramente atraente fora da área, ela recusar. "Na ocasião escutei: 'Depois que o mosquitinho da mídia te pica, tu não consegues mais sair fora'", lembra, citando a fala de seu mentor Flávio Franco. Hoje, ela afirma que no máximo se veria no Marketing de algum cliente, mas nunca fora da Comunicação.
Virada para o mar
Clarissa nasceu em Alegrete, em agosto de 1978. Lá, morava a família e foi onde a mãe buscou apoio para os primeiros dias com a filha. Entretanto, a criação ocorreu em Porto Alegre e, após décadas de carreira consolidada, vivendo a "vida louca" das agências, uma grande mudança ocorreu. Em 2020, em plena pandemia e após conhecer o futuro marido, Wagner, ela tomou uma decisão que mudaria a rotina: trocar a capital gaúcha por Garopaba, em Santa Catarina. A ideia parecia impensável alguns anos antes: "Eu pensava: 'Deus me livre sair daqui, nunca vou sair de perto dos meus pais'". Porém, o pensamento surgiu a partir de um desejo mútuo do casal após passar um período na praia, onde a sogra já morava. Ela optou por sair do emprego onde estava e mergulhou em um novo estilo de vida, longe da correria de uma capital.
A mudança incluiu uma tentativa de empreender fora da Publicidade. Clarissa abriu um delivery de frango frito. Contudo, o "mosquitinho" da mídia seguiu ativo. Durante o período em que tocava o seu próprio negócio, ela também atuou como freelancer para agências de São Paulo. Tais experiências, ela considera muito enriquecedoras profissionalmente.
A nova cidade também aprofundou sua conexão espiritual. Clarissa já seguia a Umbanda em Porto Alegre, religião que a ajudou muito a superar o luto, em 2017, pela perda do primeiro marido, com quem compartilhou a vida durante 20 anos. Em Garopaba, sentia falta de um espaço para se conectar com a sua fé. Por uma coincidência do destino, um dos clientes no delivery era um pai de santo de Curitiba, que havia aberto um terreiro na cidade. Ela começou frequentando a assistência e, hoje, já faz parte da corrente, trabalhando a caridade semanalmente nas segundas-feiras.
Paixão pelas contas públicas
A trajetória de Clarissa é marcada por grandes nomes do mercado gaúcho. Antes de entrar para a Graduação, trabalhou durante dois anos no Opec do Correio do Povo, onde recebia as autorizações e materiais de anúncios. Após o retorno para esse mercado, a partir do estágio no SBT-RS, teve uma breve passagem pela Dez Propaganda, onde teve o primeiro contato com contas públicas, atendendo ao Banrisul. Logo após, surgiu uma oportunidade de assistente de Mídia na Martins+Andrade e lá, entre outras contas, atendia à Prefeitura de Porto Alegre.
Foi na agência que ela encontrou a primeira grande escola, sob a mentoria de Flávio Franco, a quem chama de mestre até hoje. "Muito da profissional que sou hoje, do modo como atuo, foi ensinado por ele", conta. Lá, também aprendeu com Rafael Ferreira e Airton Rocha, a quem já nutria uma grande admiração desde a época em que seu pai havia trabalhado no local.
Sua carreira seguiu por agências como Escala, Duplo, Morya Comunicação - em duas ocasiões - e Competence, onde trabalhou com Renata Schenkel, profissional que já admirava muito e que se tornou uma grande amiga e madrinha de seu filho. Clarissa também foi presidente do Grupo de Mídia do Rio Grande do Sul.
Em meio a essas passagens, oportunidades surgiram pela sua experiência com contas públicas. Além do Banrisul, atendeu à Prefeitura de Porto Alegre e ao Governo do Estado. "Tem muita gente que fala que é loucura esse tipo de conta porque é muito trabalho e muita pressão, mas eu adoro", explica. Esse expertise foi crucial para seu retorno às agências depois da experiência empreendedora. Quando a HOC conquistou a conta do Governo Estadual, Clarissa se colocou à disposição e foi contratada em novembro de 2022.
Hoje, na HOC, ela segue atendendo ao Governo do Rio Grande do Sul e também clientes como o Cestto, do Grupo Zaffari, e o Sport Club Internacional, seu time do coração. Aliás, o amor pelo clube segue forte e suas idas mensais a Porto Alegre para visitar a empresa, os clientes e a família também coincidem, prioritariamente, com dias de jogos do Inter no Estádio Beira-Rio, para que possa sentir a energia de uma partida no campo.
Ela, que sempre buscou manter a proximidade com os clientes e com os veículos, tenta se fazer presente nos meios digitais e nos eventos, sempre que possível. Por isso, mantém as viagens à capital gaúcha sempre em seu calendário. "Eu sempre atendo, sempre respondo e-mail, porque acho que essa relação com o veículo soma muito para a profissão", defende. A estrada também tem como destino a casa do pai, visto que sua mãe, Fani, faleceu no ano passado. "Minha família sempre me ajudou muito, não só profissionalmente. Minha mãe foi minha rede de apoio com minha filha porque eu engravidei na faculdade, e ela sempre estava ali para cuidar quando eu tinha aula ou qualquer outro evento do trabalho", conta emocionada.
Equilíbrio, família e novos hobbies
Aos 47 anos, Clarissa define suas aspirações com foco no equilíbrio. A rotina em Santa Catarina é motivada por essa busca. Quando consegue, gosta de caminhar na beira da praia, estar conectada com a natureza. Durante a semana, seu dia a dia inclui academia, com musculação e pilates.
A família segue sendo seu pilar mais forte. Com o marido Wagner, que conheceu no Tinder em 2019, compartilha paixões como o futebol - ele também é colorado - e os carros. Mas uma coincidência marcou já de início a relação: ambos têm filhas chamadas Eduarda e nascidas no mesmo ano - estão com 23 anos. A filha de Clarissa, inclusive, seguiu o legado da "Máfia Dornelles", trabalhando recentemente na parte de mídia da Mix, e agora também se mudou para Garopaba. "Quando iniciei no mercado, sentia muito orgulho de ouvir pessoas que tinham trabalhado com meu pai falando dele e agora vivo o contrário com ela. Isso é muito gratificante", conta.
Recentemente, ela e o marido adquiriram uma moto de viagem e estão transformando os passeios de fim de semana em um novo hobby, com planos futuros de viajar para a Argentina já no próximo ano. Outro sonho que nutrem juntos é o de visitar um salão de automóveis que ocorre anualmente nos Estados Unidos, a Specialty Equipment Market Association (SEMA).
Mas as viagens de moto também dividem o espaço com o neto Bernardo, de dois anos, filho da enteada, que é a alegria da casa, especialmente aos sábados, dia oficial de passeio com os avós. "Neto é bom por causa disso, né? A gente se diverte, passeia e depois devolve", brinca ela, ao se referir ao ótimo momento em que vive com o novo membro da família.
Para ter felicidade, ela não exige muito. "Acredito que ter condições de bancar uma vida tranquila, que se tenha algumas regalias como viajar e conhecer novos lugares já é ótimo", reflete. O seu maior desejo para o futuro é manter a qualidade de vida e ter saúde para continuar trabalhando e para ver seu neto crescer.