Julio Mottin Neto: Dedicação total

Executivo explica a paixão pelo trabalho e fala do caminho traçado para conquistas profissionais

Por Márcia Farias
A timidez de Julio Mottin Neto não esconde o prazer que ele tem por trabalhar, afinal, dedicação é a palavra que define a trajetória profissional de quem, aos 37 anos, é diretor vice-superintendente da rede de farmácias Panvel. Formado em economia, o executivo explica que optou pelo curso por acreditar que a escolha lhe daria condições de atuar na Comunicação. "A Economia abrange áreas que eu me interesso muito, aprofunda as pessoas, o ambiente e etc. Economia tem muito a ver com Publicidade, especialmente pelo lado psicológico", explica.

Mais do que se interessar por pessoas, Julio revela que gosta mesmo é de entender, com profundidade, o que acontece a sua volta. Curioso desde sempre, não bastava saber que as pessoas compravam determinados produtos, ele queria saber o que as levava a tal escolha. "Sempre fui curioso, sempre quis saber o porquê de tudo. A psicologia da compra sempre me interessou muito."

É um dos herdeiros da Panvel, já que o pai (também Julio Mottin) é um dos fundadores da organização, mas nunca quis ser reconhecido por isso. Aliás, seu primeiro desafio, garante, foi justamente desvincular o nome - e neste caso, o sobrenome. "Queria ser visto como alguém capaz de agregar valor à empresa. A pressão para o filho do dono é muito maior", afirma, lembrando que passou por todas as áreas do Marketing antes de assumir o atual cargo. Começou como analista, foi supervisor e gerente, para então assumir a diretoria do setor.
Outros desafios

Muito cedo o executivo começou a trabalhar na empresa, mas longe do Marketing. Desde os 14 anos, durante o período de férias escolares, em vez de ir para praia, como os meninos da sua idade, preferia trabalhar. Era vendedor da Panvel, geralmente na loja do Parque Moinhos de Vento, o Parcão.

Antes de entrar para o setor que queria, ainda teve outra experiência, longe da empresa do pai. Durante dois anos, atuou na agência Competence, nas áreas de Atendimento e Planejamento e atendeu às contas da Habitasul, da Goldsztein e da Paquetá. "Foi uma experiência muito importante para mim. Me trouxe uma visão ampla de vários segmentos, um pouquinho de cada ramo de atividade", conta, para logo em seguida completar que estar "do outro lado do balcão" colaborou muito para sua formação dentro da Panvel.

Não bastasse a faculdade e as experiências anteriores, Julio garante que procura sempre se atualizar. Passou quatro meses especializando-se em Administração, na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Lê muito e acha importante o profissional manter a busca constante por desafios e conhecimento.
Julio e o público

O primeiro desafio que encontrou na trajetória profissional: falar em público. A missão, em 1997, era apresentar para cerca de 200 pessoas, numa conferência de gerentes, o planejamento de Marketing do ano seguinte. "Eu estava muito nervoso, o microfone tremia muito na minha mão", conta, lembrando que o momento foi de encontrar uma saída, a sinceridade. "Falei o quanto estava nervoso e agradeci a atenção de todos." A atitude, segundo conta, acabou gerando certa empatia do público. Hoje, ele diz que "é melhor ficar vermelho uma vez e dizer que tem dificuldade do que ficar amarelo para sempre".

Após o início difícil, pegou gosto pela prática de falar em público e, atualmente, tem até facilidade para fazê-lo. Prova disso veio alguns anos após a primeira experiência, em 2003, na mesma conferência. Julio queria mostrar aos demais a importância de conquistar o consumidor e encontrou uma maneira, no mínimo corajosa e divertida. Apresentou uma cena do filme Don Juan de Marco, em que o personagem principal conversa com uma mulher por cerca de cinco minutos e a deixa completamente envolvida. Ao final da mostra, o executivo apareceu fantasiado de Don Juan e distribuiu uma rosa para cada um dos gerentes. "Essa iniciativa gerou uma série de elogios. Tenho alguns emails que guardo até hoje sobre esse dia", recorda.

Sente-se motivado ao estar com o público e, por conta disso, faz questão de visitar as lojas de rede durante três dias da semana. Por acreditar que este contato é fundamental, não apenas para que perceba sempre o comportamento do consumidor, mas para manter proximidade com seus vendedores, ele procura fazer isso com frequência. "Já estive no lugar deles. Procuro estar sempre por perto para que tenham uma referência", explica. As visitas também servem como momento de elogios, pois acredita que um dos aspectos mais importantes da motivação de seus colaboradores é o reconhecimento pelo seu trabalho.
Inovação no trabalho

"A minha dedicação para a empresa é total", afirma convicto, para em seguida explicar que não tem uma vida social muito movimentada, e assegurar que isso, em vez de ser um fardo, é um prazer. O executivo garante que não se imagina em outra profissão e que trabalhar no final de semana não o incomoda, nem mesmo quando está no exterior a passeio, já que faz questão de entrar em lojas para buscar novidades. "Gosto deste envolvimento. Isto já faz parte de mim", afirma, explicando que busca sempre a inovação do trabalho. Para ele, curiosidade e persistência são as chaves de qualquer profissão, mesmo reconhecendo que o início de qualquer carreira é difícil. "O caminho é feito de muitas curvas e poucas retas. Nem sempre as coisas saem como se imagina", pondera.

Todo este empenho não é novidade para Julio, que foi muito cobrado pelo pai. "Ele sempre esperou muito de mim", completa. A sua preparação profissional, segundo conta, aconteceu para que se tornasse relevante no mercado, independentemente de onde viesse a atuar. Ser um referencial para as pessoas que o cercam é a grande marca dele.

Lema de vida? Sim, e como era de se esperar, tem a ver com seu trabalho: 'Só os paranoicos sobrevivem'. A frase foi lida numa obra de Andy Grove, um dos fundadores da Intel. "Acredito fielmente nisto. Não que eu seja pessimista, mas sempre acho que as coisas poderiam estar melhores", justifica. Ao falar no livro, ele cita outros autores que admira: Philip Roth, Paul Auster e José Saramago. Por que eles? Romances e filosofia estão entre as leituras preferidas. Além da profundidade do que escrevem, acredita que das relações humanas surgem muitas ideias interessantes, inclusive as possíveis de serem aplicadas no seu trabalho.

Apesar de considerar-se realizado profissionalmente, ainda almeja algo grande: ser presidente de uma companhia. Ele explica: "A complexidade deste cargo é enorme, mas poder ser um referencial para uma empresa é um grande desafio e isso mexe comigo".
Ame-o ou deixe-o

O filho mais velho do empresário Julio e da advogada e escritora Ana Luiza diz que, mesmo trabalhando com o pai e mantendo uma foto do avô paterno - que tem o mesmo nome das duas gerações seguintes - na sua sala, não se espelha em ninguém. "Acho que todo mundo tem qualidades e eu prefiro pegar o que tem de positivo em cada um e aprender com isso", explica. Ele mesmo se considera uma pessoa bastante reservada, mas fez questão de enfatizar que valoriza a relação afetiva que a família proporciona. O patriarca da família sempre gostou de ter todos por perto e a companhia dos filhos é mantida até hoje. Julio almoça com os pais, a irmã Mariana, também advogada, e a sobrinha Maria Luiza, de quatro anos, pelo menos três vezes por semana.

Não ter uma vida social muito intensa não significa viver apenas para o trabalho, ele adora praticar esportes também: joga tênis e gosta surfar. A segunda atividade citada é definida como o momento mais sublime de contato com a natureza. "Durante minha infância visitei muito a fazenda da minha mãe em São Borja, e, desde lá, já gostava do contato com os animais. É bom estar livre da pressão social. O contato com a natureza é o meu equilíbro."

Na lista de lazeres preferidos está um bom lugar, com um bom vinho, comida italiana e uma boa companhia, de preferência a da arquiteta Caroline, a quem namora há três anos. "As coisas simples me dão prazer", diz. Ao se definir, Julio cita as características perfeccionista, autêntico, sincero e leal. "Pela minha espontaneidade, às vezes me torno um cara polêmico. Também sei que sou implicante, mas comigo é assim: ame-o ou deixe-o."

Casar e ter filhos estão nos planos do executivo, mas em médio prazo. Para ele, ninguém consegue se realizar plenamente sem, efetivamente, formar uma família. "Aí sim me sentirei completo, com filho", revela, para em seguida completar que ensinar um pequeno ser que depende de outro é uma etapa que todos têm que passar.
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