Diego Casagrande: Falem mal, mas falem de mim

O jornalista contrasta sua metralhadora giratória de opiniões com uma vida pessoal tranqüila e equilibrada, mas ainda cheia de energia.

Diego Casagrande Rocha, jornalista porto-alegrense de 33 anos, faz, diariamente, o que muitos de seus colegas de profissão adorariam: opina. Impetuoso, criterioso, persistente e extremamente crítico, Casagrande manifesta o que pensa, seja para o bem ou para o mal, e acredita que o pior para um jornalista é a indiferença. "Tem gente por aí que diz barbaridades e não consegue repercussão." Ele avalia que um comunicador é lido/assistido/ouvido quando tem credibilidade, ainda que uma parcela do público não concorde com seus posicionamentos. "Eu não concordo com a maioria das coisas que o Arnaldo Jabor escreve. Mas eu não deixo de ler!" Casagrande considera-se versátil e assegura não limitar-se aos assuntos políticos: "Minhas opiniões políticas são contundentes, marcam muito. Mas falo sobre tudo".

O jornalismo surgiu na vida de Diego quando ele ainda era criança e ganhou um gravador do pai. "Era um Panasonic, daqueles pesados. Saí entrevistando as pessoas." Ele conta que, naquele tempo, a caminho da escola, ouvia programas de rádio com seu pai. As reportagens preferidas eram do Flávio Alcaraz Gomes, "direto do front, falando do Vietnã com áudio de bombas e mísseis". Elas despertavam a imaginação do pequeno que não passava dos seis anos. A vida acadêmica teve início em 1990, na PUCRS.

No mesmo ano, ele começava também o trabalho na RBS, uma parceria que durou quase 10 anos. Sua primeira passagem pela empresa foi como auxiliar de copyright na Zero Hora, recebendo informações das agências de notícias, "quando os computadores ainda tinham tela verde". Após seis meses tornou-se estagiário de reportagem da Rádio Gaúcha e, mais adiante, passou para a produção do programa de Rogério Mendelski. "Eu pegava às seis da manhã em uma época em que as festas eram fortes", brinca.

Já formado jornalista, Casagrande virou repórter da emissora e consagrou-se com a cobertura do caso Melara, em 1994. "Me lembro que no dia da rebelião eu estava muito doente, com amigdalite, mas fui trabalhar mesmo assim. Quando começou a correria eu esqueci de tudo." Mais tarde, em 1997, lançou o livro "Porto Alegre: 48 horas sob terror", com detalhes da história.

Casagrande tentou participar do projeto Caras Novas, da RBS. "Era meu sonho. Mas não passei. Chegaram a me dizer que eu nunca faria televisão." Mas, contrariando avaliações como essa, em 1995, o jornalista foi contratado pela TVCOM, ficando à frente do programa Conversas Cruzadas por dois anos e meio. Fez uma pausa em 1997, quando foi para Nova York estudar. De lá, trabalhava como correspondente internacional para a Rádio Gaúcha. "Da capital do mundo, Diego Casagrande", lembra da assinatura. Entre idas e vindas, ainda passou pela RBS TV e pelo Canal Rural. Em 2000, jogou tudo para o alto e decidiu trilhar novos caminhos. "Eu queria dar opinião e a RBS estava fechada para isso", explica.

Em busca da independência editorial

Casagrande criou o site Opinião Livre, uma coluna diária, com assuntos regionais, que, segundo o jornalista, surgiu despretensiosamente e hoje possui aproximadamente 50 mil assinantes. Recentemente, a coluna virou um Blog, "seguindo a tendência mundial do jornalismo independente", como ele mesmo define. Na seqüência, criou o programa de TV Opinião Livre, "mais light, com entrevistas em eventos, mais amplo", transmitido pelo canal 20 da NET. Em 2003 montou um site nacional, o www.diegocasagrande.com.br . Ele assegura que empresas importantes e também a Presidência da República acessam o site freqüentemente. "Esses tempos o Boris Casoy me enviou um e-mail dizendo que lia e gostava", relata, orgulhoso.

Entre 2003 e maio de 2005, o jornalista esteve na Rede Pampa, novamente trabalhando com Rogério Mendelski, mantendo uma coluna no jornal O Sul e fazendo comentários sobre assuntos variados no programa de TV Pampa Boa Noite. Em junho estreou um programa na Band News Porto Alegre. "Foi um convite do Bira Valdez, acho que fui a última contratação dele", comenta.

Para Casagrande, a imprensa deve ter "reportagens investigativas, colunistas com posicionamentos fortes, confronto de opiniões." Ele acrescenta: "Eu acho que jornalismo é o que se faz no Estado de S. Paulo, na Folha de S. Paulo. É quebra-pau todo dia!" Conhecido como um desafeto declarado aos partidos de esquerda, ele diz sentir-se, hoje, devido aos escândalos de corrupção no governo do PT, mais livre do que nunca para manifestar-se. Ri ao relatar que, atualmente, tem sido mais amado do que odiado pelo que escreve. Apesar de preocupado em assumir os riscos de suas opiniões ? "porque opinião implica riscos" ?, provoca espanto ao criticar ferozmente figuras como Luis Fernando Verissimo: "Ele matou a velhinha de Taubaté prematuramente. Nos últimos 20 anos ela foi um instrumento de deboche dos governos. Aquela personagem inteligente, mordaz, era um instrumento de crítica da sociedade. Só que ele a matou no meio do mandato do Lula! Ele não se sentiu à vontade para ironizar quem ajudou a eleger." Aficionado por história, um de seus maiores hobbies, Casagrande provoca ao referir-se ao mandato de Olívio Dutra (PT) como o governo de Átila, o rei dos hunos. "Foi o pior da história republicana", complementa, demonstrando entusiasmo ao declarar mais uma opinião.

Integrante da juventude do PDT nos anos 80, o jornalista garante não ser filiado a nenhum partido político. E assegura confiante: "A melhor maneira de dividir riquezas e ter justiça social é dar liberdade para as pessoas. A saída para o Brasil é o liberalismo". Sonhando com "menos Estado e mais liberdade econômica", Casagrande condena, entre outras coisas, a burocracia para abrir empresas e a legislação trabalhista atrasada.

Deixa a vida me levar

Apesar do acelerado ritmo de trabalho, Casagrande preza por uma vida pessoal equilibrada e dedicada à família. "Eu sou um cara tranqüilo na minha vida pessoal e um trator para trabalhar. Mas não sou um workaholic", esclarece. Divorciado, pai de dois filhos, um de quatro e outro de três anos, considera-se uma pessoa feliz e diz esforçar-se para transmitir essa felicidade à vida dos filhos.

Fala com carinho dos pais, ressaltando o bom caráter e a dignidade de ambos. "Meu pai mora em Glorinha e eu viajo muito para lá, gosto de reunir a família", conta. Quando sobra tempo, aprecia ir ao cinema, tomar um bom vinho, sair para dançar e jantar em restaurantes. As preferências gastronômicas são variadas, come de tudo "menos mondongo e dobradinha" e adora sushi.

O comportamento ativo e o excesso de energia, presentes no exercício do jornalismo, também se mostram em sua vida pessoal: "Eu estou sempre ligado, é da minha personalidade". Um de seus passatempos, a tecnologia, vai ao encontro dessas características. Casagrande tem cadastro no Orkut com 455 amigos, diz que se abre o MSN não consegue trabalhar e brinca ao definir como "tamagochi" o seu recém-criado blog. Embora empreendedor, ele garante não fazer planos para o futuro e adotar a filosofia de vida de Zeca Pagodinho: "Deixa a vida me levar, vida leva eu."

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