Diego Fabris: Gastronomia na veia

Por Márcia Christofoli Pensou em cursar Turismo, mas o pai o alertou que o que parecia pretender mesmo era ser turista. Quis fazer Relações …

Diego Fabris | Divulgação
Por Márcia Christofoli
Pensou em cursar Turismo, mas o pai o alertou que o que parecia pretender mesmo era ser turista. Quis fazer Relações Públicas, mas, em uma feira de profissões, foi provocado por Analisa Brum, para quem seu perfil se enquadraria melhor em Publicidade. E foi nessa área que Diego Fabris, 33 anos, encontrou a fórmula para se realizar profissionalmente. A faculdade, as experiências, o perfil familiar e a passagem pela agência Escala foram aspectos decisivos para iniciar um projeto que "precisava ser algo diferente, algo que ninguém ainda havia criado".
Nascia assim o projeto Destemperados. Primeiro como um guia impresso, depois um blog, passando por redes sociais, caderno em Zero Hora, espaço físico, programa em rádio, eventos e tantos outros produtos que surgiram ao longo de nove anos. "Sempre tive veia empreendedora e sabia que teria meu negócio, mas queria que isso acontecesse cedo", conta Diego, lembrando que a decisão de ser empresário veio aos 25 anos. Achar alguém que acompanhasse suas convicções não foi difícil, pois Diogo Carvalho era amigo desde os tempos de escola. "Somos totalmente diferentes, mas, de certa forma, complementares. Começamos a fazer um planejamento bem como queríamos, com crenças do branded content", recorda.
Nesse processo, o livro A Cauda Longa, de Chris Anderson, ajudou-o a aplicar os conhecimentos adquiridos focando em três áreas: digital, marca e comportamento. E desse início lembra do publicitário Ricardo Freire, a quem chama de "Dindo", por o ter inspirado com o blog "Viaje na Viagem". "É um cara muito querido por nós, que nos ajudou e nos divulgou bastante", elogia. No meio do caminho, Diego achou tempo e energia para abrir outro negócio, uma agência de branded content, a Winehouse; afinal, precisava de outra fonte de renda, já que o Destemperados crescia lentamente. A empresa continua, mas hoje Diego tem um envolvimento presencial bem menor.
Os passos de um sonho
A agência Escala era a referência de Diego e onde queria trabalhar desde o tempo da faculdade. Conseguiu: entrou ali em 2003 como assistente de Planejamento. "Sempre gostei de trabalhar com estratégia, visão de longo prazo, entender o que está por trás do todo", explica, salientando que ainda sente carinho pela empresa que considera sua grande faculdade. Foi nessa passagem que atuou ao lado de Martin Haag, dito por ele como "genial" e com quem diz ter aprendido muito. Desse tempo, não esquece de citar ainda Miguel de Luca e Alfredo Fedrizzi, nomes que o inspiram até hoje.
Atender a contas como as de John Deere, Dellano, Zero Hora e Unimed, entre outros, fez Diego ter ainda mais certeza de querer criar conteúdo para marcas e estudar tendências em comportamento. Quatro anos depois, tudo isso seria aplicado na própria empresa. Ao lado de Diogo, o publicitário formado pela Famecos (PUC) concluiu que queria unir todos os conhecimentos ao principal gosto pessoal: a gastronomia.
Em 2007, começou a se dedicar ao planejamento e a apostar no negócio - e sem nenhum dinheiro, mas com a premissa de criar algo que os fizesse feliz. "O Destemperados nasceu para ser multiplataforma. Quando olhamos o primeiro planejamento, percebemos que as coisas estão acontecendo de verdade, chega a ser assustador", orgulha-se.
Ele não se considera especialista em gastronomia, mas confessa que comer e beber são atividades pelas quais é apaixonado. De origem italiana, tem na veia o "sangue da mesa". O pai, Carlos Eduardo Fabris, é empresário - mantém um moinho de trigo -, e a mãe, Margareth Cachapuz, tinha uma empresa de doces. Unir o útil ao agradável foi a parte fácil, o desafio era escrever sobre o tema com propriedade, desde que fosse do ponto de vista do consumidor. Foi assim que começaram as publicações, inicialmente como blog, com fotos produzidas por eles mesmos e com uma premissa praticada até hoje: sempre pagar a conta.
A primeira aposta - e, portanto, o primeiro desafio - foi um guia impresso, sobre a culinária de Punta Del Leste. Mas por que, em uma empresa que queria ser multiplataforma, tudo começou com papel? Por dois motivos: "O primeiro foi para que as nossas famílias não achassem que éramos tão malucos, e o segundo por uma questão de mercado publicitário, pois acreditamos que o cliente não pode pagar pelo conteúdo, e sim as marcas". A publicação foi o único investimento feito do próprio bolso. Economias raspadas, os sócios imprimiram 10 mil exemplares e fizeram a distribuição pessoalmente. O que era para durar um verão inteiro se encerrou em apenas oito dias. "Ali percebemos que o produto era bom mesmo. Foi emblemático", observa.
Conquistas na casa
Dos momentos marcantes, Diego lembra do curso Food Experience, junto com a Perestroika, ministrado em Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte que, para ele, foi a oportunidade de ter contato com grandes chefs, donos de vinícolas, de cervejarias, críticos gastronômicos, entre outros
Outro sonho que se tornou realidade foi a criação de um local físico. Com a aposta do Grupo RBS como parceiro, a Casa Destemperados foi aberta em maio do ano passado para ser um espaço de experiências, troca de ideias, eventos e tudo o que possa fazer o conceito da empresa prosperar. Em sete meses, foram mais de 150 eventos na casa que fica no bairro Moinhos de Vento. O caderno em Zero Hora é entendido como uma responsabilidade enorme. "No início, pensávamos em como as senhoras que liam o antigo suplemento iam ver o que oferecíamos. Afinal, não somos especialistas em gastronomia, mas apaixonados por ela. Foi algo maluco, que mexeu demais com a gente", admite, ao reforçar que é muito realizado com tudo o que conquistou até hoje.
O que esperar do futuro? "Me imagino comendo e bebendo", diz, aos risos, garantindo, em seguida, que pretende seguir trabalhando com conteúdo de gastronomia. Porém, daqui a uns anos, Diego, Diogo e Lela Zaniol - terceira sócia, que entrou ainda no primeiro ano - querem mesmo é tornar o negócio menor, ou, pelo menos, ter mais tranquilidade, foco e passar o controle para pessoas que estarão com mais gás.
Família grande
O mais velho de outros quatro irmãos é filho de pais separados há muitos anos, o que resultou em família grande: a empresária Luciana é da mesma prole, depois vem Cassiano, por parte de mãe, que mora na Austrália. Completam a lista, por parte de pai, Marcelo, estudante de Medicina, e Lívia, que estuda Engenharia de Produção nos Estados Unidos. "Adoro isso. Tenho muito orgulho dos meus irmãos", elogia.
Ter duas famílias diferentes resultou em lembranças duplicadas da infância. Uma é na casa de praia, em Atlântida, com toda família do pai reunida, o avô fazendo churrasco, enquanto a garotada jogava futebol no pátio. A outra é em Bagé, cidade natal da mãe. "Um dia saímos para camperear e eu era um pitoco, mas subi num cavalo sozinho e acompanhei todos os meus tios e peões campo afora. Me marcou muito", recorda.
É casado há quase um ano com a relações-públicas Mariana Marimon, que conheceu no Destemperados. "Foi uma paixão meio maluca, pois nunca imaginei que fosse acontecer no trabalho." A parceria profissional não existe mais, pois, conforme conta aos risos, chegou um momento em que ela passou a mandar mais nele do que o contrário. Concluíram ali que a situação não daria certo. Hoje, ela trabalha com conteúdo para redes sociais. "É uma pessoa muito importante pra mim, companheira e que tenta sempre acompanhar meu ritmo", elogia. Para ele, o relacionamento é desafiador não apenas pela vida a dois, mas é que Mariana não come carne. "Nunca pensei que casaria com alguém assim. Todo mundo brinca com isso. Pelo menos, adora gastronomia, tanto quanto eu", pondera.
Por enquanto, a Casa Destemperados é o único filho de Diego, que diz que quer, sim, a experiência paterna, mas apenas quando puder acompanhar o crescimento dos herdeiros. "Houve um tempo em que eu queria ter quatro, daí a Mariana quase me matou quando soube. Por enquanto, até dois ela topa."
O que faz bem
Apesar do ritmo intenso, Diego diz que consegue se desligar e ter momentos de lazer. Entre eles está o videogame - e sobre o aparelho a esposa brinca que, quando está com essa companhia, fica surdo. E ele reconhece o gap: "É quando não penso em nada. O playstation é minha terapia". Esporte, aliás, não é praticado apenas virtualmente, já que o tênis é uma paixão há alguns anos, desde que, por conta de dores no joelho, aposentou o futebol. Nesse quesito, resta acompanhar o time do coração, Internacional. Torcedor de ir ao estádio desde que tinha dois anos, a cadeira perpétua da família ficou para ele, que confessa não deixar de acompanhar o time, mesmo sem ser mais tão fanático.
Quando a intenção é relaxar longe do videogame, a preferência é assistir aos seriados que mais gosta, como House of Cards, Scandal, Blacklist, The Mentalist, entre outros. O cinema mesmo acompanha menos do que gostaria, mas, quando o faz, opta por suspense ou drama. "A Origem", de Christopher Nolan, é um dos títulos que mais o marcou. "Já tive sonhos muitos malucos, me identifico", brinca novamente. A leitura é fonte de conhecimento e, atualmente, a maioria voltada para gastronomia, como é o caso do atual "Eat, Memory", de Amanda Hesser, um relato de experiências com comida. Aos ouvidos faz bem a música, seja ela qual for. A prova do gosto variado é o iPod que mantém com absolutamente tudo que é tipo de música. "Chega a ser bizarro o que tem ali dentro, mas sempre vou pedindo para as pessoas salvarem suas músicas nele, então, fica bem eclético", relata.
Come e bebe muito, conforme repete diversas vezes na entrevista, mas confessa que tem um prato capaz de vencer qualquer outra experiência gastronômica: o bife à milanesa da mãe, melhor ainda se for acompanhado de purê de batata. "Sabe aqueles pedidos antes de morrer? Esse seria o meu cardápio", revela. Também adora doce e o arroz de leite da dona Margareth está no topo da lista, seguido de sorvete. Botar a mão na massa, porém, não é a melhor habilidade, algo que explica dizendo que convive com tanta gente que faz maravilhas - como a esposa, por exemplo - que deixa o fogão para quem realmente sabe.
O que apaixona
Quando ainda cursava Publicidade, foi morar nos Estados Unidos, onde trabalhou em uma estação de esqui, em Michigan, experiência denominada como espetacular. Foram cerca de cinco meses de contato com pessoas de outros lugares, em um local com temperatura de 20 graus negativos. "Foi incrível", resume. Viajar, segundo o publicitário, é uma das coisas que dá sentido à vida. Conhecer novos lugares, sentir emoções diferentes, conhecer pessoas e saber como elas vivem, tudo isso move o coração dele.
Gosta tanto, que já sabe as próximas viagens do ano: Europa, para assistir ao campeonato de Wimbledon, na companhia da turma do tênis; Nova Iorque, com a esposa; e Austrália, para visitar o irmão. Isso sem falar nas viagens proporcionadas pelo trabalho, claro.
Apesar das andanças pelo mundo, confessa que é louco pela Itália, onde comemorou o noivado e a lua de mel. Segundo ele, é o lugar mais incrível em termos de cultura gastronômica, personalidade e identidade. "Eles têm a cultura da mesa: a entrada, o primeiro prato, o segundo, a sobremesa, a tábua de frios e o expresso, e ainda comem sorvetes a torto e a direito. Tudo que eu amo", detalha, aos risos. E é nesse clima que ele se define: "O Diego é um apaixonado por comer, beber e viajar".

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