Duda Tajes

De volta ao Estado depois de três anos, o publicitário Duda Tajes fala da trajetória de duas décadas na propaganda

Por Karen Vidaleti
Antes de resgatar a trajetória, o publicitário Duda Tajes revela que quase dispensou a reportagem, pois tem "problemas para falar". Seu negócio é a escrita e, não por acaso, a história de quase 23 anos na propaganda está ligada ao ato de escrever. Hoje diretor de Criação da Vossa, passou por algumas das maiores agências do Estado e até reconhece que as mudanças de emprego são um tanto constantes na trajetória - recentemente completou dois anos em uma agência. "Já briguei com muita gente, me demiti de muito lugar, de simplesmente sair, ir embora e não voltar. Hoje, as pessoas fazem coisas horríveis e dizem que fizeram como eu", conta, ao admitir que algumas atitudes contribuíram para que ganhasse má reputação.
Ser diretor de Criação nunca foi uma pretensão, no entanto, a oportunidade surgiu na segunda passagem pela Vossa. "Falei com Gil (Kurtz) e pintou de eu vir pra cá. A gente se dá bem, não briga, o que é uma raridade, em se tratando de mim", admite. Na trajetória, trabalhou na McCann, Nova Forma, teve mais de uma passagem pela Centro, Competence e Martins + Andrade. Participou de campanhas políticas, como a de Germano Rigotto (2008), e a de José Fortunati (2012). Aventurou-se na direção de filmes com a produtora Índia. Foi um dos roteiristas da série "Mulher de Fases", da HBO, junto com Pedro Furtado e a irmã Claudia Tajes, e colaborou com "Fora do Ar", da RBS TV.
Quer mais? Ainda encarou duas temporadas em São Paulo - de 2004 a 2005 e de 2009 a 2012 -, onde passou por agências como Duda Propaganda, QG, We e G2 Brasil. No retorno a Porto Alegre, descobriu algumas empresas em que não é bem-vindo. "Algumas eu já sabia, outras pensei que fosse brincadeira. Tem lugares que eu não entro e outros que não posso nem passar na calçada". Entre uma agência e outra, diz que acabou caindo em alguns golpes em propostas de trabalho. "Muita gente, sabendo da minha necessidade de mudança, me prometeu coisas que nunca cumpriu. Então, também tenho lugares que jamais voltaria", conta.
Mesmo com algumas desilusões, admite que a publicidade lhe trouxe boas vivências, como oportunidades de conhecer outros lugares. Uma delas viveu aos 24 anos e é marcante por ter sido a primeira vez em que viajou de avião. Havia sido contratado para trabalhar em um livro assinado por Dado Schneider, junto de um autor na Bahia. Porém, uma crise no fornecimento de papel impediu que a publicação fosse impressa. "Como o pagamento era condicionado ao livro, acabei não recebendo, mas acho que, mesmo assim, saí no lucro", crê.
Fora do ar
Dos tempos de menino, considera o período vivido no bairro Ipanema o melhor da infância. Isso porque, mais tarde, a mudança para a vizinha Tristeza o afastou dos amigos. O desejo de ser jogador de futebol abandonou aos 12 anos, quando surgiram os sinais da miopia. Na faculdade, precisou interromper já no terceiro semestre, por falta de recursos. Para sustentar a família - formada ainda pelas irmãs Amélia, Claudia e Clara, e pela mãe Miriam -, o pai, o jornalista Tito Tajes, chegou a ter três empregos. Trabalhou no Correio do Povo, foi funcionário público e redator publicitário. "Ele levava um dos filhos com ele para o jornal e, geralmente, era o mais novo, eu. Passava a tarde no Correio e me divertia brincando com os clichês - o que não era nada saudável. Mas tinha uma época em que eu só o via no domingo e no sábado pela manhã", recorda.
Apesar de sempre presente na vida de Duda, foi em 1989 que a comunicação se fixou como um projeto profissional. Recém-formado em escola pública, ficou surpreso ao ver o nome na lista de aprovados em Publicidade, no vestibular da PUC. "O plano não era passar, era fazer cursinho em março. Achei que não teria pessoas mais burras que eu fazendo vestibular", conta aos risos. Foi ainda nos tempos de faculdade que ganhou o primeiro prêmio, com um spot no Set Universitário. A distinção rendeu uma indicação para estágio no Grupo RBS, que acabou não acontecendo, mas suscitou outra, para a Arauto, de João Firme - oportunidade que, confessa, não foi muito animadora, pois passou um mês fazendo clipping.
Mais tarde, passou pela Centro e pelo setor de divulgação da rádio Gaúcha, até que um dia, sem nada para fazer, leu em jornal o anúncio: "agência de propaganda contrata redator". "Cara de pau - devia ter no portfólio uns anúncios de audiência, uns textinhos -, peguei minhas coisinhas e fui tentar", lembra. Foi lá, na pequena agência Di Lucci, que viveu as primeiras experiências na área e também onde teve o primeiro trabalho retirado do ar. "Era para um mercadinho da Zona Norte, que tinha personagem tipo Robin Hood que ia lá e baixava o preço de tudo. Só que o Robin Hood começou a ficar muito criminoso", explica.
O início como redator teve como inspirações o trabalho de Luis Toledo e Ruy Lindenberg. "Esses dois caras eram tudo que eu queria ser em 1990. Os títulos eram lindos, os textos eram bem escritos", diz, contando que, na época, identificava facilmente qualquer anúncio de Lindenberg. "Esse eu puxaria saco facilmente", completa.
Seis casamentos e uma banda
"Uma coisa que eu faço bastante, além de mudar de emprego, é casar", comenta, ao revelar que está no sexto casamento. Está casado com a programadora Michele, que deve chegar em breve à Capital. "Acho um saco esse negócio de vai na casa, volta da casa? Caso para depois namorar e, às vezes, dá errado", justifica. Apesar do número de relacionamentos, garante que não pensa em separação. "Não acho que eu vou durar muito - meus pais morreram cedo -, mas se ela me aguentar mais uns 25 anos, eu vou ficar bem feliz". Do segundo casamento, nasceu Pedro, hoje com 15 anos. "Acho que ele é a pessoa que mais me conhece no mundo. Esses dias, ao invés de me perguntar "o que aconteceu", ele perguntou "o que tu fez?"", explica, se referindo às "confusões" que arruma.
Nos momentos de lazer, admite que tem andado um tanto recluso. Não gosto de lugar fechado, não gosta de pessoas gritando, não gosto de nada do gênero. Os únicos programas com aglomerações que costuma ir são jogos de futebol e shows. Mas promete que, com a vinda da companheira, que vem de São Paulo, será "mais social", já que, por um tempo, terá bastante da cidade para apresentar. Outra atividade que aprecia é a fotografia. Gosta de registrar pessoas em momentos mais espontâneos, sem que elas percebam que estão sendo fotografadas. "Acho que isso tem a ver com o meu jeito de viver, que é observar, olhar os outros, não fazer muita parte da história".
"Baixo, guitarra, bateria e gritaria" compõem a fórmula musical que mais lhe agrada. Para esclarecer melhor, seu estilo é hard rock, punk rock, hard core. O gosto pela música o colocou no vocal da banda Os Carlos, formada em 1991 e que tinha no repertório releituras de canções de Roberto Carlos. A intenção até já foi fazer da banda um negócio, no entanto, essa pretensão acabou. "Virou uma coisa: Vamos lá tomar um cerveja de graça e, de repente, ganhar uns R$ 50 cada um", exemplifica e, em seguida, completa: "Todas as vezes em que toquei, tinha namorada. Então, nunca tive o meu momento rock star. Uma baita frustração".
Ler, escrever, pensar
A atração pela leitura vem desde a infância, hábito que credita aos seus pais, suas irmãs e aos professores de Português. O livro "O Dia do Chacal", de Frederick Forsyth, e uma bola foram seus presentes de Natal, quando ainda tinha oito anos. "Do dia 25 de dezembro até mais ou menos 15 de janeiro, fiquei lutando com aquele livro, gigante para uma criança, não consegui. Depois, eu fui jogar bola", relembra. Passados alguns anos, morando longe dos amigos, apegou-se mais aos livros. As cortesias das editoras enviadas ao pai, quando trabalhava no O Globo, também alimentaram o apreço pela leitura. Hoje, são destaques em sua prateleira as obras de Chuck Palahniuk, Rubem Fonseca, a quem considera um deus, e da irmã Claudia, leitura quase que obrigatória.
Acredita que se sai melhor na escrita do que na fala e diz que a maioria dos problemas consegue solucionar no papel. "Se eu te mandar um e-mail para resolver uma coisa, me saio muito melhor do que se eu falar", conta. Assume que tem dificuldades para guardar as boas lembranças, o que considera um problema de autoestima, mas recorda um elogio como uma das melhores coisas que já ouviu. Certo dia, quase dois anos depois de ter filmado para HBO, encontrou alguém que recordava uma cena por ele escrita e se questiona sobre de quem seria a autoria. "Tinha que ser sempre, tudo que a gente faz deveria fazer as pessoas ficarem pensando".
Ao olhar para a trajetória de "altos e baixos", diz que foram várias as vezes em que precisou ser resgatado. Nomes como os dos amigos Alê Lucas, Paulinho Silva, Roberto Lins e Luis Giudice, além de Claudia, aparecem na lista de salvadores. A capacidade de ter, e por vezes expressar, a própria opinião é considerado para ele não só a sua principal qualidade, como também um grande defeito. "Do mesmo jeito que muitas pessoas gostam de mim porque eu falo o que penso, outras me odeiam pelo mesmo motivo", esclarece. "Eu sou mau exemplo, mas não uma má companhia", conclui.
Duda Tajes_dez12

Comentários