Eládio Dios Vieira da Cunha: Empreendedorismo nato

Com diversificadas atividades profissionais, exercidas desde quando era estudante, ele se dedica agora a consolidar as empresas da família, sem se descuidar do futuro: "Vou trabalhar até os 93 anos", assegura.

Eládio

Eládio Dios Vieira da Cunha, 53 anos, é uma pessoa muito prática e com forte característica de liderança. Administrador de empresas que sempre atuou em empreendimentos de comunicação, ele se tornou um especialista na área e dedica-se, atualmente, à formação do Grupo Vieira da Cunha, no qual pretende reunir os negócios da família. Nascido e criado em Cachoeira do Sul, ele cultiva um grande apego pela cidade e vê na convivência com os cinco irmãos a base de seu amadurecimento e crescimento pessoal.  

Na cidade natal, ele vivenciou uma infância tranqüila, típica de cidade pequena. Desse tempo, ele destaca o gosto pelo futebol. "Eu era craque", assegura. Também o crescimento em uma família numerosa lhe traz lembranças felizes. Eládio tem cinco irmãos: Paulo, 58, José Antônio, 57, Helena, 55, Sérgio, 51, e Liberato, 45. Ele conta, satisfeito, que a relação entre os "manos" é de "muita amizade, muita briga, muita disputa, mas, essencialmente, de muito entendimento e aprendizado".

Filho de Paulo e Sulema, ambos falecidos, ele vem de uma família de empreendedores e comunicadores. A aquisição do Jornal do Povo pelos Vieira da Cunha é uma história antiga, que vem sendo prolongada através das novas gerações. Tudo começou na década de 40, quando Liberato Salzano Vieira da Cunha, tio de Eládio, na época um político atuante, tomou a frente do periódico. Mais tarde, em 1957, Liberato faleceu e o pai de Eládio assumiu a gestão do veículo ? do qual já era diretor. A partir daí, cada vez mais familiares foram se agregando ao trabalho. Nesse ano, o Jornal completa 77 anos de existência.

Em 1970, aos 17 anos, preparando-se para ingressar na Universidade, ele saiu de Cachoeira rumo a Porto Alegre e matriculou-se em um cursinho pré-vestibular. "O ensino superior era muito restrito fora da capital, precisei me mudar", justifica. Seu objetivo era cursar paralelamente Administração de Empresas e Jornalismo. Prestou dois vestibulares, um para Administração na PUCRS e outro para Jornalismo na UFRGS. Apenas no primeiro obteve aprovação. "Como eu vinha de uma família proprietária de jornal, eu me considerava, na época, uma das pessoas mais entendidas no assunto. Mas vestibular não tem nada a ver com jornalismo e eu não passei", ironiza.

A primeira graduação foi concluída por ele em 1974 e, no mesmo ano, ele começou o Jornalismo, também na PUCRS, formando-se em 1978. Nesse período, dedicou-se ao trabalho na Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre. O convite para gerenciar a cooperativa partiu de seu irmão José Antônio, então presidente da entidade. "Fui o segundo funcionário, além de mim só tinha a secretária", relata. Embora sua paixão pela comunicação fosse grande, Eládio tornou-se responsável pela parte administrativa da cooperativa e garante ter contribuído na conquista de bons resultados, como o crescimento do Coojornal, principal veículo da cooperativa. "O que era um boletim informativo se tornou um veículo nacional que concorria com outros veículos alternativos em âmbito nacional", comemora.

Administrador ou jornalista?

Trabalhar como administrador de uma cooperativa de jornalismo sendo, paralelamente, estudante de Jornalismo foi uma experiência fundamental em sua vida. "Hoje, eu me considero um administrador, mas entendo como ninguém o que é ser jornalista. Não me limito a ser um executivo centrado na lucratividade e no salário baixo", avalia. Ao longo de sua trajetória profissional, ele acabou sempre trabalhando com empresas da área de comunicação. "Isso me complementou e é com o que eu venho trabalhando todos esses anos", conclui.

Em 1979, de volta a Cachoeira, com dois diplomas, assumiu a direção do Jornal do Povo junto com seu pai, Paulo. "Nada mais lógico do que administrar a empresa da família", brinca. Sua convivência com o pai no ambiente de trabalho se estendeu por 11 anos. Em 1990, Paulo afastou-se do veículo e o deixou aos cuidados dos filhos. Ao longo dos anos, a família de Eládio foi investindo em novos negócios e obteve sucesso. Atualmente, os Vieira da Cunha gerenciam a Gráfica Jacuí, a Editora Casa Brasil - responsável pela revista Planeta Arroz, de circulação nacional - e uma central gráfica impressora de jornais, todas estas empresas com sede em Cachoeira do Sul.

Atualmente, quatro dos seis irmãos se dedicam aos negócios da família. Eládio permanece na direção do Jornal do Povo, Liberato, o caçula, é editor-chefe do veículo, Helena, a única mulher, é a diretora de Relações com a Comunidade e colunista social, e Paulo, o mais velho, é executivo da Gráfica Jacuí. Apenas José Antônio e Sérgio optaram por caminhos diferentes. O primeiro continua trabalhando com comunicação, vive em Porto Alegre e é diretor da Coletiva Editora. "Ele era nosso sócio também, mas acabou pedindo as contas. Hoje, em compensação, nós não temos nenhuma participação na Coletiva", provoca em tom de brincadeira. O segundo é funcionário do Banco do Brasil e mora em Chapecó, em Santa Catarina.

Além de todos os empreendimentos em Cachoeira, Eládio ainda mantém, junto com a esposa, Sandra, 51 anos, o Grupo de Diários. Trata-se de uma empresa de representação de veículos de comunicação, que se propõe a comercializar publicidade de agências de Porto Alegre em veículos do interior. O vínculo que ele mantém com os periódicos de fora da capital vai além dos negócios. Eládio foi presidente da Associação de Diários do Interior do Rio Grande do Sul (ADI-RS) nos últimos dois anos e é vice-presidente da ADI Brasil, entidade que congrega as ADIs de seis estados do Brasil. Seu objetivo para os próximos meses é fomentar a criação de ADIs em outros estados. Além disso, pretende dedicar-se ao crescimento das empresas da família através da consolidação de um grupo de comunicação que as unifique. "Estamos constituindo o Grupo Vieira da Cunha de Comunicação", adianta com entusiasmo.

Casamento moderno

Eládio tem uma maneira peculiar de conciliar o trabalho com a vida pessoal. Suas atividades profissionais é que determinam os rumos e as condições da rotina familiar. Seu casamento, por exemplo, foi moldado ao ritmo de trabalho frenético. Sandra, sua esposa há 16 anos, mora em Porto Alegre e é diretora executiva do Grupo de Diários. Ele, por sua vez, mora em Cachoeira do Sul, onde se ocupa dos demais negócios. Os encontros entre eles se dão nos finais de semana, feriados ou quando os compromissos profissionais permitem. Apesar disso, ele afirma: "Tenho o maior cuidado com a nossa relação afetiva".

Uma de suas ocupações preferidas nos raros momentos em que não está trabalhando é o tênis. "Passei a jogar tênis quando me aposentei do futebol, aos 35 anos", conta com precisão. "A partir dessa idade, eu já não era tão notado jogando bola. O cérebro comandava muito bem as pernas, mas elas já não executavam as ações com a mesma agilidade", justifica. Um professor particular, com quem treina uma vez por semana, garante o bom desempenho no novo esporte. Satisfeito, ele conta ser o quarto tenista no ranking da Sociedade Rio Branco, clube de Cachoeira do Sul no qual aproximadamente 50 esportistas competem.

Casado duas vezes, ele tem cinco filhos: Maurício, 27 anos, os gêmeos Márcio e Mauro, 25, Ana Paula, 24, todos do primeiro casamento, e Paola, 11. O convívio com os filhos, ele gostaria que fosse mais intenso, mas como alguns moram em Porto Alegre e outros em Cachoeira, isso se torna difícil. "Estamos ora juntos, ora separados, mas sempre em contato através de e-mails, celular? Hoje é tudo muito dinâmico", explica. Mesmo que, à primeira vista, seu cotidiano conturbado pareça carecer de organização, a maior virtude de Eládio está em administrar tudo isso de forma metódica e planejada. 

Para o futuro, ele tem metas bem definidas. Está programado para deixar os afazeres profissionais aos exatos 93 anos - "Toda a minha família sabe disso" -, estar presente no cotidiano dos cinco filhos, manter o segundo casamento e a excelente "performance tenística" e aumentar o número de viagens a lazer. "Já tenho o visto para os EUA e devo viajar até o final do ano", comemora.

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