Elisa Piedras: Pesquisadora da Comunicação

São duas décadas de profissão e quase todo esse período dedicado ao curso de Publicidade e Propaganda da Fabico

Há quem diga que é praticamente impossível juntar pessoas pragmáticas com aquelas que são mais sonhadoras. No entanto, Elisa Piedras está aqui para, pelo menos, tentar provar que esses dois aspectos não só se misturam como, também, se completam. Quer saber como? Um dos fatores está no fato dela ser uma pesquisadora nata, que acredita no resultado da Ciência e nas assertividades em resultados. 

Além disso, enxerga-se uma profissional que equilibra o lógico e o imaginário em sua vida e carreira, voltada ao âmbito social. A professora do curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), procura, por meio das disciplinas, incentivar o mercado da Comunicação. De uma rotina agitada, porém, muito bem organizada, encontra tempo para atender a todos ao seu redor. 

Afinal de contas, trata-se de uma mãe divorciada que aprendeu ao longo da vida a dar intensidade em todas as coisas que se dedica, incluindo vida pessoal e profissional. "Essa foi a maneira que encontrei de não enlouquecer", conta, aos risos. "Eu me dedico ao máximo para não perder nenhum momento", completa. Além do dia a dia, Elisa está presente em todas as atividades dos filhos, Inácio e Lorena, de 12 e nove anos, respectivamente. Enquanto conversa, os olhos da mãe ficam atentos para saber o que os filhos fazem ou, se precisam de sua ajuda. 

Professora aplicada

Qual seria a definição de uma boa professora? Talvez possa estar no que se refere a ser uma profissional discreta, que executa muito bem o ofício, a fim de dar voz aqueles que aprendem. E de fato, acrescenta-se, ainda, aquela que por excelência é lembrada por marcar a vida dos alunos. E sem dúvidas, essas são as características de Elisa Piedras. Afinal de contas, basta observar os comentários em suas redes sociais e perceber o carinho que recebe dos estudantes, sobretudo, em ocasiões na qual é convocada para ser paraninfa - personalidade considerada referência profissional para os formandos. 

Não por menos, já são duas décadas de profissão e quase todo esse período é dedicado ao curso de Publicidade da Fabico. Ao longo dessa longa jornada, considera aprender e crescer junto dos estudantes, de modo a ser um combustível para continuar trilhando este caminho. "Eu acredito muito nos meus alunos e na possibilidade dos seus crescimentos pessoais e profissionais", orgulha-se. 

Aliás, por falar na instituição de ensino, a Academia é a sua verdadeira casa. Isso porque ela vem de uma família de professores universitários. A mãe, dona Estela Piedras, leciona para o curso de Arquitetura. Já o pai, bem como a irmã, Sérgio Renato e Fernanda Piedras, respectivamente, professor e pesquisadora no curso de Oceanologia. Portanto, não é por acaso o gosto pela ciência e a vontade de transformar o mundo por meio de pesquisas em Comunicação. 

Jogadora de vôlei? 

As principais lembranças de infância estão atreladas ao afeto familiar. A comida caseira que emociona, para ela, só é sentida quando está em Pelotas, sua terra natal. "Aprecio um bom carreteiro", recorda. Nascida e criada no bairro central da cidade, onde foi muito feliz. De acordo com a publicitária, carrega amizades até nos dias atuais. "Recentemente, tive um encontro com algumas amigas do jardim de infância", conta.  

Naquela época, o passatempo dos amigos eram as corridas pela rua e brincadeiras de esconder. Mas o que mais a dava prazer eram os jogos com a bola, não importava qual, poderia ser de qualquer esporte. "Eu era uma criança que não gostava de bonecas, então foi para o esporte que migrei", explica. Tanto que, ainda jovem, começou a jogar vôlei no em um time da escola. 

Nos anos subsequentes, o interesse pela modalidade cresceu ainda mais, a ponto de receber propostas de outras equipes para fazer parte dos times. "Aceitei, mudei algumas vezes de instituição e disputei torneios estaduais", recorda. Na adolescência, chegou a jogar profissionalmente no conhecido clube da Região Sul do Estado, o 'Brilhante Voleibol'. Ao completar os 18 anos, decidiu abandonar a carreira de atleta, pois, havia um objetivo, que era ingressar na universidade. "Foi um momento bom e de muito aprendizado, onde conheci pessoas pelos diversos lugares que passei."   

Para Elisa, a relação com o esporte jamais deixou de ser distante, sempre quando pode é um dos seus principais lazeres. Essa filosofia também se reflete nos filhos, que não deixam de frequentar o Grêmio Náutico União, lugar no qual praticam as atividades na cidade de Porto Alegre. Em 2021, voltou a jogar voleibol, por meio de antigas amigas de Pelotas. "Agora com a rotina agitada novamente e uma lesão que adquiri, dei uma parada, porém, o esporte me faz muito bem." 

Pesquisadora nata

A inquietude é a sua principal característica, uma vez que acredita na pesquisa de modo a mover a sociedade contemporânea "ainda mais quando falamos em Publicidade e a capacidade que esse setor tem de criar e moldar o mercado", considera. Graduada em Publicidade, foi por meio da Ciência, no Brasil e no exterior, que dedicou-se toda a jornada profissional. Ela é mestre em Comunicação, por meio de um trabalho na qual desenvolveu a articulação da Publicidade com o mundo social, além de doutora em Comunicação. 

No entanto, o grande projeto que carrega com orgulho chama-se 'Rumos'. Trata-se de um programa de Pós-Graduação em Comunicação e do Departamento de Comunicação da Ufrgs e visa impulsionar a inserção e a capacitação de estudantes cotistas pretos, pardos e indígenas no mercado da Comunicação gaúcha, ao promover a inclusão e o impacto social. "É um grande prazer fazer parte do 'Rumos' e, ainda, gratificante poder contar com diversas grandes agências do mercado, a exemplo da DZ Estúdio." 

Depois dos 40

No início da carreira, Elisa Piedras atuou em algumas agências de Publicidade da Capital. Foram diversos anos de mercado, suficientes para saber em quais pontos abordaria em pesquisas científicas futuras. Aos 25 anos, encontrou o primeiro desafio profissional. Isso porque, conforme a profissional, muitos dos alunos tinham igual ou mais idade do que ela. "A impressão que eu tinha é que não teria legitimidade naquilo que iria propor nas aulas. Isso deu um distanciamento dos alunos nos primeiros anos", revela. 

A chegada dos filhos a ajudou na transformação como professora. Elisa conta que pôde ver a evolução e a transformação de um ser humano e, como mãe, sentiu a necessidade de acolher ainda mais seus alunos. "Passei a enxergar, bem como a me relacionar com os meus com ele de outra maneira. Hoje, os vejo de modo igual. No entanto, foi depois dos 40 anos que essa sensação aflorou ainda mais em mim." 

Outro aspecto que auxiliou na transformação profissional foi a partir do ingresso na Ufrgs. Ao chegar na instituição pública, observou uma universidade diversa, que proporcionou a ela diversas mudanças e entendimentos sociais, sobretudo nos que se referem às minorias. "Somos seres-humanos em reconstrução, erramos e magoamos pessoas. É preciso aprender com os erros diariamente e passar esses ensinamentos adiante." 

Acredito na rapaziada

Sobre as mudanças sociais, a professora procura levar aspectos para dentro da sala de aula. Em Estudo do Consumo, por exemplo, prevê a averiguação e a crítica a respeito da mente do consumidor, além de questões econômicas antes mesmo do contato com a Publicidade. "Essa disciplina nos mostra que é o significado que mobiliza a sociedade", explica. Já a outra na qual leciona, chamada de 'Pesquisa em Comunicação Publicitária', tenta formar profissionais de criação que se utilizem no campo da pesquisa a fim de tomarem as melhores decisões. "Por vezes, o mercado gosta muito da subjetividade", critica. 

É desta maneira que pretende auxiliar para um futuro melhor, por meio de pesquisa e veracidade. Elisa continua acreditando na juventude e na transformação que pode haver para o futuro. "Gosto de estar perto de pessoas mais jovens do que eu, esse conflito geracional é essencial para o nosso crescimento. É incrível essa mistura de gerações e todas elas aprendendo umas com as outras", exalta. 

Para ela, a nova geração cresce no mundo com outra consciência social relacionada a questões de inclusão, de modo mais rico em argumentos. "Eu tenho o privilégio de ser orientadora de mestrado ou doutorado de profissionais renomados no mercado, alguns com idade acima da minha. Isso é muito bacana dentro da universidade", considera. No futuro, é neste ambiente que Elisa pretende estar: "dando aula, passando tudo que aprendi durante os anos e aprendendo, cada vez mais, com juventude".

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