Ângelo Garbarski: Empresário com jornalismo na veia

Antes de empreender, foi um ativo repórter e comentarista, especialmente na área esportiva

Ângelo Garbarski - Reprodução

O pai russo e a mãe polonesa ensinaram ao menino Ângelo todas as tradições israelitas, e a única característica deles que a criança não fez questão de aprender foi o idioma israelita. "Em casa eles falavam na língua de origem, mas eu e meus irmãos não quisemos aprender. Afinal, estávamos no Brasil e queríamos falar o português", conta o adulto Ângelo Garbaski, nascido em 1943, época em que Porto Alegre começava a se transformar numa metrópole, centro administrativo, comercial, industrial e financeiro do Estado. Eram considerados anos de modernidade e crescimento: os automóveis invadiam a cidade e grandes avenidas como a Senador Salgado Filho surgiram.

Morador da Rua Vasco da Gama, então tida como uma colônia africana em Porto Alegre, o filho de imigrantes aprendeu a respeitar o que, para ele, era diferente. "Cresci no meio afro e com diversas casas espíritas ao redor da minha residência", recorda, avançando para outro nicho da memória de infância: seu maior prazer eram os jogos de futebol com os amigos. "Eu era o único branco a participar. Para jogar com eles tinha que ser muito bom, e eu era". O interesse pelo esporte foi crescendo e não coube apenas nos campinhos improvisados de futebol.

Aos 17 anos pediu que a irmã, Gilda Garbarski, uma das primeiras mulheres a ser locutora comercial em rádio, intervisse junto ao amigo Antônio Carlos Rezende, que trabalhava na Rádio Gaúcha. "Consegui entrar na emissora para um período de adaptação como repórter esportivo. Naquela época, já sentia a força da minha ligação com o esporte". Assim tornou-se setorista no Grêmio e teve a oportunidade de conhecer e conviver com grandes nomes do futebol como Airton, Joãozinho, Alcindo, Sérgio Moacir Torres e Osvaldo Rola, além de cobrir duas Copas do Mundo, no Chile em 62 e na Inglaterra em 66.

Grande admirador do Renner, já extinto, o jornalista preferiu não aderir a nenhum dos times da dupla Grenal. "Meu pai era colorado, mas como fiz boas amizades no time do Grêmio preferi ficar neutro. Até mesmo pela profissão foi melhor ficar isento. O envolvimento profissional falou mais alto".

Oportunidades

Quando iniciou como repórter, Garbarski era muito jovem e tinha voz de gurizão, como gosta de contar. Foi aperfeiçoando-a com o tempo. O esforço teve sua recompensa e ele ganhou o programa "Rádio Despertador", transmitido às 6h com informações sobre o clima e as notícias do dia. "Antigamente, a escolha do locutor era toda baseada em uma boa voz", explica. Aos poucos foi ganhando espaço e começou a participar também da TV Gaúcha, fazendo reportagens esportivas para a emissora, além de ser o repórter oficial do programa "Ringue 12", de luta livre, o que lhe possibilitou ser o protagonista de uma incrível fuga. "Fui entrevistar o lutador 'Grand Caruzo', que era um dos mais ferozes. Perguntei porque gostava tanto de morder orelha e sobrancelha de adversários. Ele ficou furioso, não gostou e partiu para cima de mim. Eu corri e ele me perseguiu. Como o programa era ao vivo, todos viram, inclusive o meu pai que tinha problema do coração e quase teve um enfarte ao assistir a cena. Hoje, me recordo com divertimento, mas na época tivemos que fazer um trato: ele não chegava perto de mim e nem eu dele. Afinal, não queria correr mais riscos", explica com uma gargalhada.

Em 67, saiu da Gaúcha e foi para a TV Piratini, onde permaneceu até 1977. Ele passou a integrar a equipe do Conversa de Arquibancada, programa no qual Paulo Sant'Anna foi lançado na TV participando - como torcedor - do quadro de debates entre torcedores da dupla Grenal com Hugo Amorim. Um ano depois, já com o registro de jornalista profissional, Garbarski formou-se em Direito, na PUCRS. "Fiz Direito porque vi no curso a possibilidade de unir as duas profissões. Queria continuar como jornalista e ter minha banca de advocacia".

Mas as coisas não aconteceram como imaginava. Ele estava trabalhando na Prisma Publicidade, agência na qual iniciou no financeiro e finalizou a carreira como diretor, e foi convidado, em 69, para organizar o setor administrativo da Impresul, uma indústria de artes gráficas. "Comecei de carteira assinada, como funcionário", recorda. Conhecido por muitos pelo trabalho dentro do jornalismo, quando era questionado sobre o que mais fazia, informava sobre a empresa e acabava conquistando novos clientes. Então, eu, que nem sabia vender, em três anos vendia mais que os próprios vendedores", conta. O interesse e o empenho do jovem foram percebidos na época pelo então dono da Impresul, Marcos Fichbein, que ofereceu a ele 5% de participação na sociedade, porcentagem que em pouco tempo aumentou para 40% e chegou a 100%, em 74, quando Fichbein lhe ofereceu sua parte devido a uma doença no coração.

Atualmente, Garbarski tem a participação da esposa Regina e do filho Fernando na administração da empresa. O sócio, Jairo Amaral, assim como ele, também começou como funcionário. "Gosto que as pessoas cresçam e se desenvolvam. Até hoje, em todas as atividades nas quais atuei ou em entidades que dirigi, sempre abri espaços. Nunca trabalhei ou fiz reunião de portas fechadas. Sou transparente e tudo que digo as pessoas podem ouvir".

O reconhecimento

Os anos foram passando e a Impresul ganhou o reconhecimento do setor gráfico. O empresário credita o sucesso aos investimentos em tecnologia, como a estação própria de microondas de rádio e o sistema computer to print, no qual o trabalho sai do computador direto para a impressora. Outro aspecto relevante destacado pelo empresário é a identificação com o mercado publicitário. "Temos uma ótima sintonia e, em virtude disso, praticamente não temos clientes diretos. Hoje, 95% dos nossos clientes são agências", destaca.

O trabalho da Impresul ganhou expressão e os prêmios começaram a surgir. "No setor promocional, somos uma das gráficas mais premiadas do Brasil e nos últimos cinco anos temos sido finalistas do Oscar da Indústria Gráfica Nacional, que é o Prêmio Fernando Pini, o qual vencemos em 2003 na categoria Calendários de Mesa". Como empresário da indústria gráfica, sabe da importância de cumprir o que é prometido e se tiver dúvida quanto a isso, prefere não assumir responsabilidades. "No nosso ramo somos muito desacreditados em relação a prazo. As pessoas têm medo, se questionam: será que vão entregar mesmo na 'quarta-feira, pela manhã'. Por isso, quando prometemos, cumprimos e se não vamos cumprir não aceito o trabalho".

A mesma fórmula ele aplica ao exercício do jornalismo. "Temos que ser verdadeiros naquilo que informamos e, como comentaristas, representar o povo. Falar o que ele falaria se estivesse com o microfone na mão. Este é o papel do comunicador".

O homem e o profissional

Quando quer relaxar e se desligar da rotina, Garbarski não precisa ir muito longe, a Serra gaúcha e Capão da Canoa são os lugares escolhidos pelo empresário. Se pegar a estrada não estiver em seus planos outro 'santo remédio' - já que, como gosta de falar, o aposentaram do futebol - são os livros. "Adoro ler coisas diferentes da minha atividade. Não importa o quê", destaca ele que é fã de Paulo Coelho e livros espiritualistas. Na hora de descansar a família não fica para trás. "Gosto de reunir minha esposa, meus filhos, nora, genro e minha netinha para almoçar aos sábados. É muito gostoso".

Apaixonado por tudo que faz, Garbarski nem pensa em parar ou deixar de lado alguma de suas atividades. Aos 60 anos e com mais de três décadas de jornalismo e empresariado, soube fazer amigos, o que para ele é muito importante. "Sou um homem de muitas relações. 98% das pessoas que conheço gostam de mim e 2% não. Acho um percentual ótimo, ainda mais para mim que sou jornalista e muito autêntico. Tem gente que não gosta". Mesmo estando envolvido fortemente com a empresa e as atividades extras, como a diretoria da Abigraf/RS, a do Sindicato da Indústria Gráfica do Rio Grande do Sul e a da ARP, Garbarski não abandona o velho e bom jornalismo.

Trabalhou ainda, de 90 a 94, na TVE, e há três anos foi convidado pelo jornalista Bibo Nunes para participar do programa Bibo no 20, com um comentário sobre esporte nas segundas-feiras. Está lá até hoje: "Não consegui ficar longe, está no meu sangue. Minha cachaça é mesmo o jornalismo e nem penso em largar este vício".

Comentários