Enir Maria Grigol: O melhor está sempre por vir

Ela foi uma das primeiras mulheres especializadas em jornalismo econômico no Estado. Persistente, acredita que o segredo para conquistar o que se quer é não desistir nunca.

Enir Maria Grigol é daquelas pessoas que procuram sempre pensar positivo e manter o alto astral, mesmo quando a maré não está pra peixe. "Eu sempre penso que tem algo muito bom esperando por mim e isso me impulsiona", conta ela emocionada. Aliás, emoção também é uma característica dessa jornalista nascida em Vacaria há 49 anos, que chegou em Porto Alegre aos 19 para estudar Comunicação e, com muita batalha, trilhou um caminho de sucesso. "Quando cheguei aqui fui morar num pensionato de freiras, na João Pessoa. Foi uma boa base para chegar numa cidade estranha e não se sentir sozinha", avalia.


O interesse pelo jornalismo foi despertado ainda na infância. Enir conta que ficava emburrada quando o pai não a chamava para ouvir os noticiários de rádio. "Aprendi a ler no Correio do Povo e no primário era eu quem fazia o jornalzinho do colégio", diz. "Quando me formei, meu professor mandou um exemplar desse jornal, já todo amarelado". A formatura aconteceu em 1981, pela PUC-RS; e com o diploma na mão, Enir passou de estagiária para funcionária da comunicação da CRT.


O primeiro furo de reportagem, ela conseguiu durante um teste para a Folha da Tarde: "Foi em 1984, me mandaram numa coletiva de imprensa com o então ministro dos Transportes. Eu cheguei atrasada e perdi a coletiva. Então corri atrás do ministro e comecei a fazer algumas perguntas, mas ele dizia que o assunto que eu estava abordando fazia parte de um anúncio que ele faria em Pelotas no dia seguinte. Pedi então que ele me respondesse apenas quanto o Ministério iria investir no Rio Grande do Sul e ele respondeu. Foi um furo, ninguém tinha aquela informação e a Rádio Guaíba deu em primeira mão". Com esse desempenho conseguiu a vaga na reportagem de geral.


Muito trabalho e dedicação


Além da Folha da Tarde, o caminho profissional da jornalista passa pelo Palácio Piratini, onde trabalhou na editoria do Interior; e pela Assessoria de Imprensa da Secretaria de Justiça do Rio Grande do Sul. Em 1984, ela estreou na televisão como apresentadora e repórter da TV Guaíba. Em 1987 foi para a TVE onde, além de reportagem e apresentação, fazia comentários sobre economia. O trabalho na TVE era conciliado com a função de chefe de reportagem, editora de geral e colunista do Jornal do Comércio. "Com um salário eu pagava as minhas contas e o outro eu guardava para viajar". E foi assim por oito anos, até que em 1995 ela recebeu uma proposta da RBSTV, onde atuou como apresentadora e comentarista de economia nos telejornais da RBS e TV COM.


Em julho de 1999, Enir chegou na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) como assessora de imprensa. Um ano depois assumiu a coordenação da Central de Vídeo do Sistema Fiergs. Há alguns dias, teve um grande reconhecimento profissional ao ser convidada pela diretoria para assumir a Coordenação da Unidade de Comunicação da Federação e Centro das Indústrias do Rio Grande do Sul. "Fiquei muito feliz com essa valorização interna. Estou na casa em que já trabalhava e estou muito à vontade. Sei que a equipe é muito boa e meu único projeto agora é corresponder a todas as expectativas que foram depositadas em mim".


Espiando o mundo


Uma das grandes paixões de Enir é viajar. "Adoro sair do Brasil e conhecer lugares novos, saber o que sentem e como vivem as pessoas em outros países". O trabalho lhe proporcionou grandes experiências nesse sentido. Como repórter do Jornal do Comércio já esteve, entre outros lugares, no Uruguai, no Japão, na China, na Alemanha e no Chile, relembra. Mas a mais marcante de todas foi a viagem para a Rússia, onde participou durante dois meses de um Workshop em telejornalismo para Mulheres especializadas em Comunicação graças a uma bolsa da Unesco. "Como o Jornal do Comércio me liberou para participar do evento, eu me comprometi a trazer matérias de lá. Quando terminava o Workshop, eu começava um trabalho de pesquisa nas embaixadas e nas ruas. Fazia enquetes para saber a popularidade do Gorbachov, entre outras. Consegui um material fantástico sobre o mercado negro, a falta de produtos e até sobre a prostituição na União Soviética", relembra. "Por coincidência, quando as matérias foram publicadas o embaixador da União Soviética estava aqui em Porto Alegre , e questionado pela imprensa sobre as reportagens ele disse que não podia tecer nenhum comentário sobre o país, mas também não podia negar as informações. De repórter passei a ser entrevistada em todos os programas de TV e rádio de Porto Alegre. Foi uma repercussão muito gratificante do meu trabalho".


O comunismo sempre despertou o interesse da jornalista. Ela esteve na Alemanha na época da queda do muro de Berlim, e voltou cinco anos depois para ver como estava a situação no país. Esteve também na China e, no ano passado, aproveitou as férias para ver a situação do povo cubano. "Conheci mais um lado do comunismo. Tem pessoas com nível superior trabalhando de porteiro de prédio, o povo vive fechado, sem conhecer nada, foi uma viagem muito triste. Com essa experiência tive a sensação de estar fechando um ciclo do comunismo na minha história."


Ligada à família


Falar sobre a história de família é motivo de muita emoção e orgulho para Enir. Ela é filha da dona-de-casa Claudina, hoje sua parceira de viagens, e do comerciante Achylles. O pai faleceu quando ela tinha apenas 14 anos e deixou muita saudade. Ele está presente na maioria das lembranças que a jornalista tem da infância. E é a ele que Enir atribui o gosto que sempre teve pelo jornalismo e pela economia. "Ele era alfaiate no distrito de São Paulino, a 60 quilômetros de Vacaria, e passava o dia com o rádio ligado. Era muito comunicativo e culto, um autodidata. Guardava os jornais da semana para mostrar as principais notícias aos colonos da região nas missas dos fins de semana. Ele disseminava a informação". A lembrança da compra da primeira televisão da localidade também é muito clara para a jornalista. "Meu pai colocava a TV numa ampla varanda da nossa casa e as pessoas vinham com seus banquinhos para assistir, era fantástico. Meu pai foi um herói", orgulha-se.


As brincadeiras de infância foram divididas com os três irmãos: Enilce, Evandro e Enio - o irmão mais velho, que faleceu há 13 anos. "Foi uma perda muito difícil porque, como ele era o mais velho, representava a figura de um pai para nós. Enio foi muito marcante na minha vida", revela, emocionada. Os irmãos lhe deram três sobrinhos: Giordana, Angela e Tiago. "Queria ter sido mãe, mas perdi dois bebês. Hoje tenho isso bem resolvido e meus sobrinhos fazem muito bem esse papel. Sou muito tiazona", diverte-se. Solteira há seis anos, depois do fim do casamento de cinco anos com o empresário Romeu Masiero, nas horas de folga gosta de curtir a casa e visitar a família em Vacaria. "Não fico sem vê-los por mais de 20 dias".


O dia da jornalista começa cedinho: às 6h ela está pronta pra as aulas de ginástica localizada que faz com a orientação de um personal trainer. Nos fins de semana, gosta de caminhar sem destino certo. "Minha avó Inês caminhava muito e eu adorava acompanhá-la. Peguei o gosto". Para desopilar, a receita é jogar uma boa conversa fora com água mineral sem gás. Atualmente diz não ter nenhum hobbie por falta de tempo, mas revela que já fez curso de violão e de corte e costura. "Guardo até hoje a máquina de costura que foi do meu pai". No momento, está centrada em seu novo desafio profissional, mas procura nunca ficar sem projetos e está sempre na busca da evolução. "A gente tem que estar sempre buscando melhorar em todos os sentidos". Considera-se leal para com os amigos, e muito comprometida com tudo o que faz, além de muito persistente. "Não desisto jamais, aprendi a abraçar as coisas uma a uma, dia a dia, conforme elas vão aparecendo", diz ela, que foi aconselhada pelos tios a largar o jornalismo, porque acreditavam que a profissão não dava dinheiro, para vender pastel. "Imagine, eu nem sei fazer pastel, aliás não sei fazer outra coisa senão jornalismo", conta entre risos.

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