Eron Dal Molin: Ele é até locutor

O publicitário, radialista e humorista contabiliza uma trajetória de mais de 30 anos, especialmente no rádio, onde começou a atuar aos 14 anos de idade.

Eron Dal Molin - Divulgação/Coletiva.net

Com mais de 30 anos dedicados ao rádio, quem poderia imaginar que Eron Dal Molin é publicitário de formação? Isso mesmo. Mas antes de tudo, ele é humorista. Em uma conversa descontraída e cheia de risadas, o comunicador, conhecido pelos ouvintes por interpretar Botelho Pinto Papaéu, relembra sua trajetória que começou aos 14 anos de idade, na Rádio São Roque, de Faxinal do Soturno.

Nascido no pequeno município de São João do Polêsine, no interior gaúcho, ainda vai à cidade para visitar os pais, Romoaldo e Íria, que mantêm residência por lá, junto com os pouco mais de dois mil habitantes. Também foi lá que se criou com os irmãos mais velhos, Márcia e Ronaldo, até se mudar para Santa Maria, onde cursou Publicidade e Propaganda na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Gosta de lembrar as experiências nas diversas emissoras pelas quais passou, e, avisa, não foram poucas. Aliás, diverte-se ao mencionar que foi e voltou de algumas delas mais de uma vez. Na Atlântida, do Grupo RBS, por exemplo, soma cinco passagens, e pela extinta Pop Rock (hoje MIX FM) passou duas vezes. O mesmo aconteceu no Grupo Bandeirantes, onde trabalhou na finada Ipanema e na Rádio Bandeirantes.

O Celso Roth do rádio

Desde criança, Eron gostava de imitar narradores de Fórmula 1 com um gravador em mãos. E, quando surgiu a primeira oportunidade na São Roque, foi definitivamente fisgado pelo rádio. Já no primeiro ano da faculdade, em Santa Maria, pediu emprego na Rádio Guarathan. "O que me abriu a porta foi quando falei que queria trabalhar com qualquer coisa, até de locutor", recorda, contando que começou na empresa como repórter de rua. Porém, a experiência não o agradou e, um tempo depois, com o surgimento da frequência FM, encontrou-se profissionalmente.

Foi por intermédio do então colega de aula Gerson Pont, que conseguiu um teste na Atlântida de Santa Maria, no qual foi aprovado como locutor. "Foi ótimo, porque adorava música e era um universo repleto de festas", conta. Nessa mesma época, chegou a apresentar a agenda cultural no Jornal do Almoço da RBS TV local.

Conquistou o diploma em PP em 1987 e decidiu focar na área. Na mesma época, a irmã, que mora em Campinas, São Paulo, conseguiu uma vaga em uma agência de lá, e Eron tentou a sorte. Seis meses bastaram para entender que não era o que queria, definitivamente. "Muito foi pela questão pessoal, pois era outro mundo. Saí de Santa Maria e fui parar sob a asa da irmã, que era muito pior que minha mãe. Imagina, não tinha privacidade nenhuma. Eu estava no mundo maravilhoso das festas e virei um padre", compara. De volta ao Rio Grande do Sul, retornou, também, à Atlântida, mas, desta vez, em Porto Alegre. "Aí começa a minha história no FM. Brinco que sou o Celso Roth do rádio, por ir e voltar várias vezes."

Botelho Pinto Papaéu

Em 1990, largou tudo e foi fazer teatro, área na qual viveu bem por cerca de seis meses gravando comerciais. "Com essa cara consegui ser modelo de lente de contato, acredita?", revela, aos risos. E foi nessa época que surgiu a personagem mais famosa do repertório: Botelho Pinto Papaéu, um colono de São João do Polêsine, que apresenta o característico sotaque italiano acentuado da região. 

No mesmo ano, tornou-se um dos integrantes do humorístico 'Programa X', de novo na emissora de rádio da RBS. Aí, surgiram as demais personagens, como Charlotte de Orleans e Bragança, Sílvio Júnior (uma paródia do apresentador Sílvio Santos, do SBT) e Correspondente Brenner.

Dividia a atração humorística da RBS com Alexandre Fetter, Escova e Rogério Forcolen. "Era um fenômeno, tanto que, no Interior, as pessoas nos recebiam balançando a van, daí subiu à cabeça. Eu não podia ir ao shopping com o Forcolen", lembra. Mais tarde, na Rádio Bandeirantes AM de Porto Alegre, assumiu a função de âncora do programa 'Contra-ataque', iniciando, assim, sua relação com o esporte. Na empresa, chegou a fazer parte da equipe da BandSports local, que durou meio ano.

O colorado imparcial, como se define, afirma que foi na profissão que aprendeu a entender futebol e declara que, antes de torcer para o Internacional, torce pelo esporte. "Ainda bem que o Inter não depende de mim. Sou colorado, mas fanático jamais. Já torci contra o Grêmio na minha adolescência, mas, agora, não perco mais meu tempo", garante.

Na Pop Rock FM, a convite de Mauro Borba, integrou o grupo de apresentadores do 'Cafezinho'. "Foi muito legal, pois o programa trazia informação com alguma palhaçada, enquanto o Programa X (concorrente na Atlântida) era só piada", avalia. E, entre uma rádio e outra, chegou a ajudar na fundação da primeira Jovem Pan em Porto Alegre. "Literalmente, montei a rádio, até os móveis."

Na última passagem pelo Grupo RBS, participou de uma atração esportiva na TVCom e chegou a integrar o time de comunicadores da extinta Octo, porém, não se encaixou no projeto. Conseguiu, então, migrar para a falecida Rádio Farroupilha, na qual fazia humor na atração 'Bafão Farroupilha'. Sua história na empresa de mídia chegou ao fim, definitivamente, quando, em 2017, foi chamado para trabalhar na Rádio Fan, em Cachoeira do Sul. "É onde me sinto bem. Lá, posso interpretar minhas personagens e, também, ser eu mesmo, falando de coisas legais e fazendo humor. Durmo bem toda noite ciente de que fiz um bom trabalho", reconhece.

Uma paixão chamada jogo de tabuleiro

A rádio pode ser sua realização profissional; entretanto, a satisfação pessoal vem com os jogos de tabuleiro. Essa é sua maior paixão e almeja, quem sabe um dia, tornar o hobby como profissão. A atração pela brincadeira, que vem desde criança, tornou-se séria quando lançou seu primeiro jogo no mercado. E, em 2015, disponibilizou o jogo chamado O ataque dos tubarões-vampiros. "Além deste, tenho mais dois que devem sair em breve", adianta.

E com tanto envolvimento com rádio, a música não poderia passar em branco. Embora tenha tido experiência em emissoras com gêneros musicais distintos, sua playlist pessoal reserva espaço para as bandas de rock. A preferida é Iron Maiden, mas aprecia, também, Rush, ACDC, Beatles e Led Zeppelin. Gosta muito de literatura e tenta sempre manter a leitura em dia. Seu ideal é ler sempre um clássico, a la Dostoiévski, e um de ficção histórica, seu gênero predileto.

Para Eron, Erico Verissimo e Jorge Amado são fenômenos no assunto e afirma: "Se eu puder morrer lendo tudo deles, morro feliz". Para completar o mundo das artes, gosta de acompanhar séries na Netflix nas horas vagas. Uma das produções que mais o impressionou foi 'Black Sales', além de 'Game of Thrones', 'Narcos' e a mexicana 'O Último Dragão'.

Diz-se católico praticante devido às idas à igreja quando visita a mãe, no entanto, considera-se mais adepto à filosofia budista. Solteiro, passou por três casamentos, nos quais não teve filhos. Hoje, mora sozinho em Cachoeira do Sul.

Na adolescência, conta, jogava tênis, seu esporte favorito. Contudo, deixou a prática de lado com o passar dos anos. Agora, para manter a saúde, vai à academia e procura ter uma alimentação saudável. Não se considera um chef, mas avisa que faz a própria comida em casa. De origem italiana, gosta de carne, massa, queijo light e azeite, porém, surpreendentemente, seu prato favorito é sushi.  

Eron não descarta deixar os microfones um dia. Logo no início da conversa até brinca que o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, acabou com sua chance de aposentadoria, a qual teria sido em 2019. Ao final da conversa, com seu humor característico que não abandona em nenhum momento, retoma o assunto e adianta: "Se a lei não mudar de novo, pretendo me aposentar neste ano".

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