Geferson Barths: Três é demais

Pai, publicitário e docente, ele teve a vida construída em tríades

Geferson Barths, publicitário e professor da Uniritter - Arquivo Pessoal

Ao se aprofundar pela história da humanidade, é possível encontrar uma vasta gama de mitos e crenças envolvendo o número três. No cristianismo, aparece na forma da Trindade; para os japoneses, é auspicioso; na cultura nórdica, significa realização; e Pitágoras acreditava que era a ascensão. Já na numerologia, o três representa comunicação e criatividade, o que tem tudo a ver com o protagonista desta história.

Geferson Barths não é um homem cético, muito pelo contrário, tem muito firme a crença no Deus católico, o que traz consigo desde a infância em Cachoeirinha. Mas mesmo se fosse descrente, a quantidade de vezes que o número três influenciou na trajetória o deixaria com uma pulga atrás da orelha. Publicitário formado pelo Centro Universitário Metodista do IPA, em Porto Alegre, em sua trilha pela Comunicação, passou por três etapas que o moldaram como profissional: "Comecei na indústria gráfica, passei pelo mercado publicitário e desemboquei na docência".

No entanto, foi na vida pessoal que o três trouxe as maiores satisfações de Geferson. Casado com Carla Witt Barths há 15 anos, foi quando completaram sete anos da união das escovas de dentes que decidiram tentar ter o primeiro filho. "Nem sempre é quando a gente quer", pontua, ao explicar que não foi tão rápido quanto imaginaram. Contudo, quando até haviam desapegado do desejo, a descoberta da gravidez veio acompanhada de uma surpresa: "As crianças estão bem", disse Carla ao telefone, após a primeira ecografia.

Crianças? No plural? A notícia de que teriam gêmeos surgiu com uma avalanche de emoções e preocupações. Ainda assim, não foi difícil se acostumar com a ideia, principalmente com o apoio dos familiares e amigos. "Todo mundo estava feliz", relembra. E mais manifestações viriam pela frente, pois passados três meses, a esposa decidiu fazer outra ecografia, desta vez acompanhada do marido. A médica fazia o exame e exibia as imagens no telão do consultório, mas Geferson confessa: "Eu não entendia nada". No entanto, o novo susto o forçou a um entendimento rápido: "São trigêmeos!"

Geferson, o pai de trigêmeos

E é aqui que começa o capítulo principal da história do três na vida de Geferson, ou melhor, a história da Ayla, do Benjamin e da Luiza. "Tem histórico na família? Fizeram tratamento de fertilidade?", foram as primeiras de muitas perguntas recebidas ao longo dessa aventura. E para ambas, a resposta é não. Geferson e Carla apenas foram os sorteados da vez em uma loteria de probabilidades, onde duas gestações naturais a cada um milhão podem gerar trigêmeos.

O trio nasceu em 19 de abril de 2014, pouco antes do sétimo mês de gestação. Apesar de estarem cientes de que a gravidez não se desenvolveria até o final, o risco de perder Luiza, que estava com dificuldades de receber a alimentação que dividia com Ayla na mesma placenta, fez com que Carla fosse submetida a uma cesárea de urgência. Os três ainda foram levados à UTI Neonatal do Hospital Moinhos de Vento, onde Benjamin ficou por dois meses, e as irmãs por três, antes de poderem ir para casa. "Aquele período foi difícil, mas aprendemos muito com a força de vontade que têm os bebezinhos prematuros", recorda o publicitário.

Hoje com sete anos, os três são responsáveis por fazer ele ser aquilo que é. "Sou o Geferson, pai de trigêmeos", define-se, assertivamente. E a identificação é essa até mesmo entre os alunos. "Alguns podem até esquecer meu nome, mas não esquecem que eu sou o pai dos trigêmeos", ri. E no meio de uma rotina multiplicada por três, o profissional admite que acabou se tornando uma figura paterna para os estudantes também, principalmente ao assumir como coordenador do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), em 2016.

Geferson, o publicitário

Deixando a história do Geferson, pai de trigêmeos, um pouco de lado, o Geferson, publicitário, começou cedo o desenvolvimento profissional. Aos 15 anos, já cursava Artes Gráficas no Senai e conseguiu os primeiros estágios na gráfica La Salle, onde se cativou pelo trabalho de criação das capas das agendas da rede. Com o curso profissionalizante concluído, portfólio montado e muita perseverança, começou a entregar currículos em empresas da área.

Foi chamado para trabalhar na extinta gráfica Maredi, onde operava uma máquina de plotter fotográfico, que era a novidade da época no Rio Grande do Sul. "Começou a bombar de trabalho e eram poucas pessoas que sabiam operar o equipamento", explica. E, após dois anos na função, foi conduzido ao setor de editoração, onde permaneceu por mais quatro anos, até ingressar como arte-finalista na primeira agência da carreira: a Duplo M - hoje conhecida apenas como Duplo.

Ainda em busca de dar mais um passo na formação, Geferson havia iniciado o curso de Publicidade e Propaganda na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), enquanto ainda estava na Maredi. Contudo, o ingresso na Duplo M começou a gerar algumas dificuldades no morador de Cachoeirinha, que precisava ir a Porto Alegre para trabalhar e a São Leopoldo para estudar. "Era um triângulo com pontas distantes. Ficava muito cansado e comecei a chegar atrasado na aula. Estava complicada minha vida de estudante", conta, ao justificar os motivos que o levaram a trancar o curso.

A faculdade foi retomada três anos mais tarde no IPA, onde conquistou o diploma. Nesse meio-tempo, o publicitário ingressou na Escala, inicialmente como arte-finalista das Lojas Renner. Na agência, ainda atuou na gestão de Arte Final, produção gráfica, gestão operacional e, por fim, assumiu funções de liderança no setor de Recursos Humanos. E foi nessa ascensão que 10 anos se passaram, mas muito longe de se acomodar, Geferson ainda corria atrás do aperfeiçoamento na área.

Geferson, o docente

Com uma monografia bem avaliada na conclusão da graduação, o publicitário decidiu se arriscar no projeto de mestrado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). "Eu não tinha muita esperança de ser aprovado de primeira por conta da concorrência, mas passei uma etapa, outra etapa e, quando vi, estava dentro", conta. E com essa nova fase, Geferson viu portas e janelas se abrirem: "Comecei a conhecer pessoas e meus próprios professores do IPA passaram a ver a oportunidade da docência em mim".

E como se fossem videntes, eles acertaram. Com o término do mestrado, submeteu-se a uma seleção para lecionar na UniRitter, no primeiro semestre de 2014. As dificuldades de ser professor de primeira viagem não abalaram um homem que, na mesma época, se tornou pai também de primeira viagem - e de segunda, e de terceira? "Nasceu um pai e um professor ao mesmo tempo", reflete. A primeira experiência na docência foi em meio ao caos dos filhos na UTI, enquanto conciliava com as atividades na Escala. Entretanto, por maior que fosse a sua força de vontade, Geferson entendeu que a quantidade não podia prevalecer sobre a qualidade do trabalho que prestava, e se obrigou a tomar uma decisão difícil: escolher qual caminho seguir. 

Sendo assim, um ano e meio após o ingresso na UniRitter, despediu-se da Escala para se dedicar exclusivamente ao cargo de professor que, no final de 2016, lhe rendeu o convite para a coordenação dos cursos de Publicidade e Propaganda e Comunicação em Marketing. Ele admite que não entendeu o chamado: "Eu era novato. Tinham outros mais experientes". Mas o perfil se encaixou e, pronto, era ali que ficaria nos quatro anos seguintes, um pouco afastado da sala de aula, mas ainda próximo dos alunos.

E foi na metade de 2020 que recebeu um novo convite: atuar como gestor de Comunicação e Design na Rede Laureate. Cedido pela UniRitter, embarcou no desafio de pensar estratégias pedagógicas de ensino no período remoto. Manteve o cargo até a metade de 2021, quando retornou à faculdade, após a dissolução do corporativo da Laureate na fusão com o Grupo Ânima. Ainda assim, a mudança foi bem recebida por Geferson: "Está sendo muito bacana voltar a ter mais contato com as turmas".

O Geferson? apenas o Geferson

Atualmente, não é apenas na UniRitter que este professor angaria suas turmas de alunos. Por incrível que pareça, o publicitário decidiu inovar com uma graduação em Educação Física, o que o levou a se tornar professor na filial de Cachoeirinha da Escola Furacão, do clube Athletico Paranaense, ensinando a arte da bola para meninos entre seis e 10 anos. O publicitário reconhece que a atividade causa espanto: "É estranho, mas eu estou gostando". E como poderia não gostar de unir duas paixões? Aos olhos de pessoas distantes, pode não parecer, mas Geferson é apaixonado pelo futebol e, na adolescência, chegou a pleitear a oportunidade de se tornar jogador profissional. "Onde tinha uma escolinha com oportunidade de treinar e jogar, eu entrava", relembra. 

Apesar de ter nascido em Porto Alegre, em 14 de setembro de 1980, Geferson viveu sua infância e juventude em Cachoeirinha, na casa em que o Seu Anildo e a Dona Classi vivem até hoje. Os pais são as maiores inspirações do publicitário que, com a mãe - que se formou pedagoga aos 52 anos - aprendeu a importância de não se acomodar, e com o pai compreendeu que demonstrar sentimentos nas ações tem muito valor. Em 1983, recebeu o título de irmão mais velho com o nascimento de Camila, que divide a data de aniversário com ele por três anos de diferença. Já o caçula da família, Marlon, veio ao mundo em 12 de setembro de 1987. "Isso porque foi uma cesárea, se fosse parto normal acho que nós três tínhamos nascido no mesmo dia", ri.

Da primeira infância, ele traz as boas lembranças da liberdade que tinha em um tempo não tão perigoso quanto os dias de hoje: "Era muito livre pra brincar na rua, então, as lembranças mais fortes são dos amigos e da vizinhança". Mas foi a partir dos 10 anos que começou a se dedicar ao futebol: "Eu não deixava de treinar pra ficar brincando. Era bem focado". No entanto, apesar de ter abandonado o sonho de se tornar jogador profissional para se dedicar aos estudos, a paixão pelo esporte é carregada no peito e nos pés de Geferson que, nos momentos de folga, gosta de bater uma bolinha. E, embora o tempo de descanso seja escasso, o publicitário não se incomoda, já que se vê como um "inquieto doméstico", que, além do cuidado com os filhos, nutre um prazer genuíno pelos afazeres da casa.

Hoje, com 41 anos, Geferson cursa doutorado em Comunicação na Ufrgs e, ainda, planeja desenvolver um projeto que una suas três paixões: Comunicação, Educação e Esporte. Ainda é uma ideia inicial e, por enquanto, ele segue se dedicando à docência - na faculdade e na escolinha -, e aos estudos - no doutorado e na graduação. Recentemente, também assumiu como diretor de Conexão com a Academia na Associação Riograndense de Propaganda (ARP), função que se somará à sua extensa lista de responsabilidades. Mas, segundo Geferson, "é só questão de organizar", e, como pai de trigêmeos, ele entende do assunto.

Comentários