Genaro Galli: No flow do ensino e das ondas
Para o diretor dos Programas de Pós e Extensão da ESPM Sul, é preciso simplificar tanto a gestão, quanto a vida

Você já ouviu falar na teoria do flow? Basicamente, trata-se daquele estado mental que acontece quando você realiza uma atividade e se sente totalmente absorvido nela, em uma sensação de energia, prazer e foco total no que está fazendo. Se sentiu isso, provavelmente foi após concluir um projeto importante e isso diz muito sobre o que você realmente gosta de fazer. É assim que Genaro Galli, o diretor dos Programas de Pós e Extensão da ESPM Sul, sente-se após lecionar uma aula. Apaixonado por desenvolver pessoas, o gestor tem múltiplas carreiras, que vão da sala de aula às consultorias empresariais. O que muitas pessoas talvez não saibam é que ele também é surfista, ama café e tem uma gata de estimação chamada Coquinha.
Seja na vida profissional, seja no âmbito privado, Galli é movido a desafios. Mas com um detalhe: eles não necessariamente precisam ser encarados como uma forma de privação ou mesmo ser sinônimo de sofrimento. Para ele, não se trata de barreiras a serem superadas, mas de um processo com pequenas etapas que precisam ser cumpridas.
Sobre possíveis lições, ele recomenda não pensar muito no todo, apenas seguir em direção aos objetivos. "Nunca ficar parado, não esperar muito, podem surgir oportunidades e você não ter como aproveitar. Isso é dar movimento para a vida", frisa, completando: "Se eu fosse pensar 'Nossa, para eu chegar lá vou ter que fazer um mestrado inteiro, um doutorado inteiro! Caramba, isso vai dar um trabalho', eu travaria". Para o professor, o importante é focar as energias: "Ao longo da minha vida, sempre fiz coisas convergentes. Falo que temos que pensar mais no e do que no ou. Por isso, escolhi a administração, por ser uma área bem ampla e que me permite muitas combinações".
O "flow" do ensino
A influência para unir a gestão e a educação veio de casa. Os pais, Claudio e Jussara Galli, são professores e, inclusive, o pai também tem uma trajetória acadêmica: cursou mestrado e doutorado e deu aulas na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). A família tem uma instituição de ensino há 30 anos, na qual os pais também atuam como gestores. Assim, Genaro sempre esteve muito próximo ao universo acadêmico. "Quando eu tinha uns 10 anos, meu pai dava aula de laboratório de Física na PUC, e esse espaço é uma das coisas mais fascinantes para uma criança. É cheio de carrinho, fios, esferas... Ele me levava junto, não sei o motivo, mas me levava, e eu ficava lá, brincando enquanto via meu pai dando aula. Então, acho que isso me ajudou a me desenvolver como professor", conta.
Apesar da tradição familiar na área da Educação, ele nunca foi o que chama de "nerd". "Nada contra, até gostaria de ser, mas sempre fui de estar na rua, de andar de bicicleta, de ter amigos. Às vezes, as pessoas falam: ah, o Genaro é doutor, é professor, ele sempre estudou. Sempre fui um bom aluno, mas nunca aquele cara que só tirava 10. Fui muito relacional, me dei muito bem com os colegas, os professores. Nunca foi o estudar ou ter amigos, sempre fiz os dois", garante, entre risos.
Apesar da carreira como professor ser considerada quase como natural, o foco de Genaro sempre foi a Administração e o Marketing. Formado em Administração pela PUC, quando entrou na faculdade, não pensava em dar aula, mas se imaginava na gestão. Lembra que, na época, ao final do curso, era preciso escolher uma área-foco para fazer o trabalho de conclusão de curso e o estágio. Nesse tempo, o Marketing ainda estava engatinhando no Brasil, mas ele tinha muitos amigos da Publicidade, frequentava muito a Famecos, ia em eventos da área, tinha uma ligação com esse mundo. "Sem contar que as festas eram muito mais divertidas", brinca.
Nesse contato, veio o clique de trabalhar com o Marketing: "Entrei na Administração e na Psicologia ao mesmo tempo. Cursei dois semestres simultâneos, mas depois fiquei apenas com a primeira opção. Hoje, vejo que foi uma luz que me veio na hora, e foi superassertivo. Que sorte que eu tive aquela clareza", declara.
Sair melhor do que entrou
Desde muito jovem foi muito ativo e curioso, sempre buscando criar coisas, teve confecção, trabalhou na área de comércio de veículos, fez estágio em empresas de comunicação, trabalhou no empreendimento da família... Nunca parou. "Num certo momento, percebi que precisava me qualificar para me destacar. Até hoje, se você for ver, todo mundo fala que trabalha com Marketing. Então, percebi que, para ser realmente qualificado, tinha que estudar mais." Foi fazer um MBA em Marketing e, em seguida pensou: vou fazer mestrado porque quero dar aula para a área de Negócios. Foi assim que começou o desejo de ser professor.
Ele foi da primeira turma do Mestrado de Administração de Negócios com Ênfase em Marketing da PUC e sua dissertação foi a primeira do sul do País sobre Marketing para instituições de ensino. Isso em 1999 ou 2000, na época, um assunto muito incipiente. Durante o mestrado, foi convidado para começar a lecionar. "A primeira aula que eu dei, saí muito mais feliz do que eu entrei. Estava tenso, pois eu era muito jovem, mas descobri o quanto aquilo me realizava, e isso acontece até hoje. Mesmo que eu esteja com outras questões na cabeça, preocupado com algo, vou para a sala de aula e saio muito melhor. O contato com os alunos é algo que me motiva. Ver as pessoas aprendendo e também contribuindo, esse clima é algo que eu acho incrível", garante.
Estar preparado é fundamental
No mesmo dia em que defendeu a dissertação de mestrado, Genaro recebeu um telefonema, no mínimo, inesperado: era o professor Antonio Marinho, o primeiro diretor do curso de Administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). "Ele me ligou dizendo que tinha recebido uma indicação de um colega meu do mestrado, o Roger Born, que é um grande parceiro até hoje e já era professor de lá. Ele me disse assim: 'Você foi indicado, eu só preciso fazer uma pergunta: você concluiu o mestrado?' Eu disse: 'Concluí agora pela manhã'. Ele retribuiu: 'Ótimo, então vem aqui amanhã conversar comigo'. Assim eu entrei na ESPM", relata.
Ele, que foi contratado para dar aulas para a graduação, logo alçou novos voos, assumindo a coordenação da área de Marketing da graduação. Depois, assumiu o mesmo cargo na Pós-Graduação e Extensão, que é o seu cargo até hoje. Assim, começou a ir bastante para São Paulo, para reuniões na ESPM de lá. "Tive contato com grandes nomes do Marketing no País, como Francisco Gracioso e Jesus Concenza. Aí eu pensei: caramba, estou com os melhores caras do Brasil! Tudo isso ajudou a me desenvolver. Então, procurei sempre me especializar e aprender mais."
A atualização é algo natural no seu contexto, tanto pelo contato com os grandes nomes, quanto com as novas gerações. Assim, foi cada vez mais conhecendo e estudando as novas tendências do setor. Para ele, ver os alunos se desenvolvendo gera a sensação de dever cumprido. E seu objetivo de vida é este: auxiliar pessoas que vão ter empresas e criar comunidades melhores. E não se trata só de sucesso: são seres humanos éticos, de bom trato, simples, características que preza bastante. Aliás, fez doutorado em Educação, justamente voltado para gestores. Foi nessa fase que o quebra-cabeça se montou: ele gostava mesmo era de desenvolver gestores.
Hoje, Galli se divide em dirigir os cursos, lecionar no MBA e prestar consultoria para empresas privadas por meio da sua Estrategeria. Em 2019, foi inaugurada a sede da ESPM em Florianópolis, um projeto conduzido por ele, apenas de pós-graduação e extensão. Entre as muitas experiências que viveu em sala, uma das mais marcantes foi assistir, ao vivo, ao atentado de 11 de setembro ao lado dos estudantes. "Lembro direitinho. Estava lecionando no prédio A da ESPM, no primeiro andar. E a nossa sala tinha televisão. Recordo que um aluno de outra turma abriu a sala gritando 'Professor liga a TV!', e quando fizemos isso vimos a torre já em chamas, assim como o segundo avião atingir a outra torre. Sentei junto com a turma e todo mundo ali, sem entender nada."
Surfe, café e Coquinha
Genaro é casado com Márcia Galli há muitos anos e ela sempre foi muito parceira de toda a sua trajetória. O casal não tem filhos, mas muitos sobrinhos com quem tem esse contato com a infância. "Sem falar que, sendo professor, como diz um amigo meu, a gente a acaba sendo um pouco pai de todos", conta, entre risos. O gestor por trás dos cursos de pós-graduação é também apaixonado por surfe. "É meu hobby e terapia, a água me acalma, o sal rejuvenesce a alma, é uma paixão", garante ele, que tem casa na Praia do Rosa, em Santa Catarina. "Às vezes, estou na água e encontro algum aluno. Eles falam 'Professor, tu aqui?' Aí eu respondo: 'Eu estou aqui há 30 anos", diz, brincando.
O surfe tem uma importância tão grande para ele, que já fez até viagens internacionais com esse propósito para Costa Rica, El Salvador, Panamá, Havaí e Indonésia. Dizendo-se da geração Juba e Lula, da série 'Armação Ilimitada', argumenta que vivenciou a juventude no final dos anos 1980 e início dos 1990. E, naquela época, todo mundo já surfava, inclusive seu irmão. Então, a modalidade estava na moda. "O surfe entrou na minha vida muito por causa desse movimento geracional", afirma. Outra coisa que ele ama é a estrada: "Dirigir para mim é uma terapia também, faço vários projetos dirigindo. Carrego até um bloquinho no carro para anotar e não me esquecer", explica.
Além do surfe e da estrada, o que não pode faltar para ele é um bom café da manhã. É o momento em que organiza as ideias, conversa com Márcia. Ou seja, adora um bom pó de café. "Se me dissessem que eu teria que escolher só uma bebida para continuar tomando, entre cerveja, vinho e café, por exemplo, escolheria a última. É de longe a minha bebida favorita", revela.
Apesar de ele gostar muito de cachorro, em 2019 foi uma gatinha, carinhosamente chamada de Coquinha, que ganhou o coração e a "chave da casa" de praia do gestor, tendo uma portinha própria para entrar e sair quando quiser. "A gente vai para lá para ver a Coquinha. Um dia, estava uma chuva horrível e, mesmo assim, pegamos a estrada para vê-la. Até cogitamos trazer para Porto Alegre, mas não quis tirá-la daquele paraíso", conta. Se fosse para indicar uma série, ele diz que Mad Men é fundamental para quem é da área da comunicação. "É superantiga, mas clássica", garante. E, para os próximos anos, o plano é poder realizar tudo o que foi adiado pela pandemia, tanto projetos pessoais, quanto profissionais.